Bairro de São Gonçalo à margem da Baía de Guanabara sofre com a sujeira
Descaso que derrama lixo e esgoto na porta de casa – O problema de esgoto na Baía de Guanabara é um assunto antigo que, para os moradores de São Gonçalo, reflete a má vontade do poder público e o gasto indevido do dinheiro arrecadado com os impostos pagos pela população.
Os moradores da enseada da Praia das Pedrinhas, onde fica o parque ecológico de mesmo nome e o Piscinão de São Gonçalo, acusam a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae) de negligência. De acordo com a população local, a ETE abriga uma sede do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) que está desativada. Da redação, Jornal do Brasil, 03/10/2008.
– Uma construção daquele tamanho deveria apresentar algum resultado positivo, mas, a cada dia, mais lixo passa na porta das nossas casas, que beiram a Baía – indigna-se o aposentado Geneci Mariano, morador da Praia das Pedrinhas.
Para quem convive com o lixo e o odor da Baía praticamente na porta de casa, muito dinheiro público é gasto em grandes investimentos que não dão retorno à população.
A Cedae, no entanto, contradiz a população e garante que não existe nenhuma sede do PDBG dentro da estação. O gerente da Regional Leste da companhia, Ricardo Branco, explica que o órgão realiza atividades em São Gonçalo que são relacionadas ao PDBG, mas que o local funciona apenas como uma ETE.
– Esta sede definitivamente não existe, até mesmo porque o PDBG não está funcionando plenamente. O local é apenas uma estação de tratamento – enfatiza Branco.
A ETE tem capacidade para tratar 800 litros de esgoto por segundo, mas trata apenas 38% da capacidade que poderia suportar. O restante é despejado pelas casas in natura em sumidouros cujo destino final é a Baía de Guanabara. Tudo isso apenas na área de cobertura desta estação.
Trabalhando em meio ao esgoto
De acordo com a Cedae, esta defasagem é decorrente do baixo número de residências que têm rede coletora de esgoto em São Gonçalo.
– A ETE só vai operar com a capacidade máxima depois que todas as casas da bacia a que ela atende forem contempladas com troncos coletores de esgoto. Com isso, pretendemos, daqui a um ou dois anos, operar com o tratamento de cerca de 600 litros de esgoto por segundo – explica Branco.
Enquanto isso, moradores e pescadores que vivem da produção da Baía de Guanabara enfrentam a enorme quantidade de esgoto. O pescador José Bonifácio da Silva conta que, além de não conseguir mais sustentar a família com a profissão que exerce desde criança, acumula uma série de problemas de saúde provocados pelo excesso de coliformes fecais os quais é obrigado a enfrentar diariamente.
– Primeiro, comecei com uma tosse forte. Depois, minha pele ficou cheia de ulcerações. Minhas unhas, principalmente as dos pés, estão carcomidas por causa da poluição da água – descreve Bonifácio. – Infelizmente, preciso passar por isso, porque tenho que levar comida para casa, não é mesmo?
Tratamento de rios ajudaria a despoluir a Baía
A imensa quantidade de esgoto não tratado despejado na Baía de Guanabara, para especialistas, é também o retrato do descaso das administrações municipais. Segundo o ambientalista Mário Moscatelli, alguma atividade em prol da despoluição da Baía deve começar nos rios que passam dentro das cidades.
– Os rios urbanos são os principais causadores de toda essa poluição na bacia hidrográfica. Há de se fazer um trabalho eficiente de despoluição destes cursos d’água – observa Moscatelli. – Mais de 50 rios despejam cerca de 200 mil litros de água por segundo na Baía. Levando-se em consideração que em cada um desses rios é despejada uma grande quantidade de esgoto in natura, é possível ter uma noção da imundice que é a Baía atualmente.
Ainda de acordo com Moscatelli, seriam necessários cerca de 15 anos para que o processo de despoluição das águas da bacia hidrográfica apresentasse um resultado eficaz. O Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) existe há 18 anos e até hoje não solucionou o passivo ambiental.
A Secretaria de Estado do Ambiente garante que um conjunto de medidas está sendo tomado para que a poluição da Baía seja amenizada. De acordo com a secretária da pasta, Marilene Ramos, os cursos d’água que cortam os municípios do Rio recebem atenção especial.
– Uma das alternativas que gera benefícios são as ecobarreiras que estão funcionando na cidade do Rio e chegarão, até o mês que vem, aos municípios de São Gonçalo e Niterói – promete Marilene.
As ecobarreiras são instaladas em cursos hídricos para que seja realizada a coleta do lixo flutuante antes que seja despejado na Baía.
Outra atividade da secretaria em funcionamento, em parceria com a Secretaria Estadual de Transporte, é o recolhimento do lixo flutuante no trajeto percorrido pelas embarcações das Barcas S/A.
– No último levantamento feito pela secretaria, no mês passado, 10 mil toneladas de lixo foram retirados da Baía em apenas 10 dias – ratifica Marilene.
[EcoDebate, 04/10/2008]
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