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Mais de 400 vertebrados estão ameaçados de extinção em São Paulo


A onça pintada é um dos animais em condição crítica que serão protegidos. Celso Junior/AE

Entre as espécies consideradas criticamente ameaçadas estão o tatu-canastra, a onça-pintada, a ariranha

SÃO PAULO – Pelo menos 436 espécies de animais vertebrados do Estado de São Paulo estão sob algum grau de ameaça de extinção. O dado foi apresentado ontem pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente no Jardim Zoológico da capital, dez anos após a última divulgação de uma lista de fauna em risco no Estado. Por Giovana Girardi, de O Estado de S. Paulo.

Entre as espécies consideradas criticamente ameaçadas – nível mais alto do problema -, estão o tatu-canastra, a onça-pintada, a ariranha, o veado-campeiro, as baleias azul e fin e a arara-vemelha. Oito foram consideradas regionalmente extintas: a perereca-verde-de-riacho-de-Paranapiacaba e o peixe surubim-do-Paraíba, no continente; e o bodião-rabo-de-forquilha, o badejo-tigre, o badejo-sirigado, o tubarão-limão, o cação-lixa e o peixe-serra, no mar.

O mico-leão-preto, considerado “em perigo” foi eleito símbolo da nova lista por ter passado por uma recuperação nos últimos anos, saindo do status de “criticamente ameaçado”. O animal é encontrado somente em São Paulo, no Parque Estadual do Morro do Diabo.

De acordo com Paulo Bressan, presidente da Fundação Parque Zoológico SP e coordenador do grupo de 61 pesquisadores que fez o levantamento, não é possível comparar a lista atual com a anterior – e dizer, por exemplo, se houve aumento de espécies ameaçada – porque a metodologia mudou. Na verdade, em 1998 não havia muita regra, mais a percepção dos cientistas. Agora o Estado seguiu os moldes aplicados pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês), já usados para a configuração da lista nacional.

Ao todo foram analisadas 2603 espécies. Para 161 delas, os dados foram considerados insuficientes para classificação. Outras 86 espécies entraram na categoria “quase ameaçadas”, mas que já demandam atenção.

O secretário do Meio Ambiente, Xico Graziano, afirmou que a idéia agora é atualizar a lista com mais freqüência, ao mesmo tempo em que pediu que haja mais fiscalização por parte da polícia ambiental, para evitar tráfico de animais, aumento da recuperação das matas ciliares e mais pesquisa para conhecer as espécies.

Nesse quesito, ele chegou a prometer que “o governo terá recurso para qualquer pesquisa que tem esse objetivo” e que poderá também fazer parceriar com ONGs que tenham esse propósito, como ocorreu com o IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), que comandou o salvamento do mico-leão-preto no Morro do Diabo.

RISCO NO CERRADO

O levantamento mostrou ainda que a devastação do cerrado paulista tem refletido diretamente sobre a fauna. Entre os répteis, por exemplo, vários lagartos e cobras que vivem exclusivamente nos campos estão ameaçados por conta de destruição desses tipo de vegetação.

Outros dois pontos críticos para os répteis são a Ilha dos Alcatrazes e a Ilha de Queimada Grande. Na primeira, o animal mais ameaçado é a jararaca-de-Alcatrazes, na segunda, a jararaca-ilhoa. Ambas são endêmicas de cada uma das ilhas. “Já presenciamos gente saindo com caixas cheias de cobras, um aluno meu chegou a ser abordado por um homem que queria comprar uma”, conta Otávio Marques, do Instituto Butantã, que coordenou o estudo desse grupo.

O cerrado também apresentou uma perda significativa de aves, em especial os caboclinhos, que também dependem dos campos naturais. O destaque de Luis Fábio Silveira, da USP, coordenador do grupo de aves, foi para o bicudinho-do-brejo-paulista, endêmico da região do Alto Tietê. “Acreditamos que não existam mais do que 250 exemplares na natureza e não existem indivíduos em cativeiro. Se perder esse habitat, ele estará extinto”, comenta.

Matéria do O Estado de S.Paulo, publicada no Estadao.com.br, quinta-feira, 2 de outubro de 2008, 19:12

[Ecodebate, 03/10/2008]