Plantação de soja transgênica deve avançar 24% no Piauí e preocupa movimentos sociais
Na safra 2008/09, a área plantada com soja transgênica no Brasil deve alcançar 58% de um total de 21 milhões de hectares, de acordo com pesquisa realizada pela alemã Kleffmann da qual participaram 2.277 produtores de 14 Estados do país. No Piauí, a área deve chegar a 24% com a soja transgênica que na safra anterior era de 21% na área plantada. Mayara Bastos, do Jornal Meio Norte, PI, 01/10/2008.
Segundo informações da pesquisa, o crescimento da área de soja transgênica já foi mais rápido de uma safra para outra. Em 2005/06, os transgênicos ocupavam 32% das terras com soja no país; no ciclo seguinte, a área cultivada com sementes modificadas cresceu para 51%. Na safra anterior (2007/08) o percentual destinado ao plantio de soja geneticamente modificada foi de 53%, conforme o levantamento.
Mesmo que para o agronegócio o avanço represente boas perspectivas produtivas, os movimentos sociais lançam um alerta: o índice de desemprego no campo pode aumentar. “Na medida que a área cultivada avança é necessário inserir altas tecnologias, e conseqüentemente, se exige menos mão-de-obra”, avalia Claudiomir Vieira, coordenador estadual do Movimento Sem – Terra (MST).
Em Uruçuí, por exemplo, de acordo com dados da Comisão Pastoral da Terra (CPT) 100% da soja produzida é transgênica. Na região, são poucas as mãos agricultoras utilizadas na produção agrícola. O dirigente do MST aponta que a situação se agrava quando há uma substituição do agricultor que maneja a plantação pelo avião que pulveriza a área.
Uma outra crítica que o Movimento trava socialmente é em relação aos danos causados pela soja transgênica. Como a semente geneticamente modificada absorve toxinas e causa problemas aos microorganismos no solo, como minhoca, que cumpre função na natureza e não resistem ao transgênicos. “Se os animais não resistem, imagine as pessoas. Os danos para o homem e para o meio ambiente são muito grandes”, destaca.
Os dados revelaram ainda que, em 2007/08, produtores que plantavam 71% da área de soja do Brasil já tinham uma parte de sua propriedade cultivada com transgênico. Com isso, o percentual de terras destinada à semente modificada ficou em 53%. Além disso, a produtividade média da soja transgênica no país foi 5% menor (o equivalente a três sacas) que a do produto convencional.
Para o MST, o que na prática se verifica é que com a baixa produtividade da soja, vem crescendo o monopólio de sementes. Vieira explica que todos os anos, o produtor precisa comprar semente para produzir, já que um saco de soja, por exemplo, quando produz 200 sacos, não se pode tirar a semente porque ela não germina mais. “Com isso, os produtores ficam refém de uma empresa multinacional como a Monsanto que detém 98% das sementes de soja do mundo”, completa.
A saída , segundo o Movimento, é um enfrentamento junto a sociedade para mostrar os efeitos desse tipo de produção. “Não há lei que coíba esse tipo de produção. É preciso criar mecanismos que limitasse os testes com os produtos transgênicos”, aponta.
E avalia: “Com a construção de um projeto popular de agricultura onde a matriz produtiva seja a policultura, que não destrua o meio ambiente e adaptado a realidade local, teríamos condições de mudar esse cenário que a cada dia piora”.
[EcoDebate, 02/10/2008]