Águas cristalinas recebem no caminho muito lixo e se tornam os maiores poluidores da Baía de Guanabara
Da nascente à foz, o triste destino de três rios – As mesmas águas que abastecem populações em suas nascentes transformam-se, poucos quilômetros adiante, nas maiores fontes de poluição da Baía de Guanabara. Repórteres do GLOBO percorreram, da nascente à foz, três dos principais rios que deságuam na baía – São João de Meriti , Sara puí/Iguaçu e Roncador – e viram de perto como vão parar no cartão postal da cidade quantidades gigantescas de lixo flutuante. Ao todo, são 80 toneladas despejadas diariamente na baía por 55 rios. Taís Mendes, do O Globo, 28/09/2008.
As cinco ecobarreiras e os barcos usados para conter o lixo flutuante só conseguem retirar da baía sete toneladas de resíduos por dia, menos de 10% do total. São garrafas PET, sacos plásticos e até móveis e eletrodomésticos jogados ao longo do curso dos rios, transformando águas limpas em poluídas.
Só 300 metros separam foz dos sinais de poluição O Rio Sarapuí/Iguaçu é um dos que mais contribui para a poluição da baía. Em seus 20 quilômetros de extensão, entre a nascente, no Rio Dona Eugênia, no Parque Municipal de Nova Iguaçu, e sua foz, na Baía de Guanabara, em Duque de Caxias, há uma série de agressões ambientais. A água que forma a exuberante cachoeira Véu de Noiva e que abastece o bairro da Coréia, em Mesquita, apresenta os primeiros sinais de poluição a apenas 300 metros da saída do parque. Nesse trecho, já é possível ver despejo de esgoto, animais mortos e muito lixo na beira do rio. A partir de seu médio curso, ele segue para a baía quase que totalmente “morto”, com presença de esgoto e despejos industriais.
Para Flávio Moreno, administrador do parque que preserva uma área de mil hectares de floresta secundária, a solução está na consciência de cada um: – É uma mudança cultural, quase uma revolução. É preciso trabalhar a educação ambiental da população. Para se ter uma idéia, as pessoas dão banho em cavalos na beira do rio.
Ao desaguar na Baía de Guanabara, o Sarapuí/Iguaçu em nada lembra a água cristalina que desce da Serra de Madureira: o mar de garrafas pet impressiona e devasta uma área de manguezal, projeto do biólogo Mário Moscatelli.
– Além das garrafas pet, descem pelo rio animais mortos, cadáveres, móveis, carcaça de carros. O rio se transformou num valão de esgoto e lixo sem vida – disse. – Fomos obrigados a construir uma barreira de dois quilômetros e meio para reter os resíduos sólidos.
Roncador se transforma em mar de lixo O cenário do Rio Roncador não é diferente, mas com uma peculiaridade: em seu trajeto, ele passa por quatro unidades de preservação ambiental – Parque Nacional da Serra dos Órgãos e as áreas de proteção ambiental (APA) de Petrópolis, do Suruí e de Guapimirim – e nem por isso é menos poluído.
O rio, que nasce na Serra dos Órgãos, no município de Magé, e abastece casas e pousadas no alto do seu curso, deságua na APA de Guapimirim, já transformado num mar de lixo em meio a uma área de mangue.
– Quanto mais garrafas eu cato, mais aparecem. É um trabalho que não tem fim – constatou Jeferson da Silva, de 10 anos, morador de Piedade, em Magé, onde o rio deságua.
Jeferson nunca viu as águas limpas do Roncador. Para tal, teria que percorrer quilômetros rio acima, até sua origem, no Rio das Pedras Negras, onde há uma seqüência de cachoeiras cercadas pela mata preservada.
Os primeiros sinais de poluição começam logo após os portões da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) El Nagual, em Santo Aleixo: construções irregulares, despejo de detritos industriais e pastos em suas margens mudam a cor e o cheiro das águas. Mariana Kalloch, proprietário da RPPN, defende a criação de biodigestores para salvar o rio: – Além de eficiente, é barato e gera gás e biofertilizantes.
Um biodigestor com dejetos de 20 pessoas pode gerar duas horas de gás por dia.
Breno Herreira, chefe da APA de Guapimirim, conta que o rio chega poluído à unidade: – A melhoria da qualidade ambiental do Roncador, em particular, depende também das administrações dos municípios ao redor de suas margens, que enfrentam dificuldades de levarem adiante projetos de saneamento básico.
Rio atravessa dez favelas em três cidades Entre os rios que cortam a Baixada Fluminense e deságuam na Baía, o São João de Meriti é o mais poluído. Da nascente, em Gericinó, até a foz, uma extensão de 27,5 quilômetros, ele passa por três municípios e pelo menos dez favelas, mas os primeiros sinais de poluição podem ser vistos a poucos metros da nascente, numa área do Exército, onde camada extensa de espuma cobre o leito. Dali até a baía, o que se vê é uma sequência de agressões ambientais que atingem o auge na divisa da Pavuna com São João de Meriti. Lá, o trecho do rio está assoreado e coberto de lixo.
O São João de Meriti tem, em sua foz, uma ecobarreira da Serla, mais uma tentativa de conter o lixo. O geógrafo Elmo Amador, coordenador do movimento Baía Viva, crê numa solução que vai além das ecobarreiras: – O que proponho é uma solução que começa com um sistema regular de coleta de lixo e com uma forte campanha de educação ambiental.
[EcoDebate, 29/09/2008]
Li seu artigo neste site e achei muito interessante, moro em são joão de meriti e sei de toda essa poluição, principalmente na área da pavuna. seu artigo me ajudou bastante em uma aula que terei que apresentar para a obtenção de nota para a conclusão do curso de formação de professores.
obrigada e boa sorte com os próximos artigos.