A poluição já retirou 240 milhões de m3 de água da Represa Billings
A queda de 20% na capacidade de armazenamento representa prejuízo para a população e poder público, já que o volume seria suficiente para abastecer a cidade de São Paulo por até dois meses. O assoreamento, causado pelo uso irregular do solo na área de proteção de mananciais, ainda faz com que o reservatório tenha o espelho d”água reduzido. A perda, irreversível, é de 12,6 km² ou quase 2.000 campos de futebol.Por Adriana Ferraz, do Diário do Grande ABC, 28/09/2008.
Se a destruição não for brecada, a previsão é de que o reservatório perca suas principais ramificações e se limite apenas ao corpo central. “Estamos assistindo ao desaparecimento do reservatório. A tendência é de que o assoreamento desapareça com os braços. É uma questão generalizada e o exemplo mais gritante está na região do Alvarenga, em São Bernardo. Lá, em 15 anos, 400 mil m² de superfície desapareceram. Hoje, é difícil chegar à margem de barco porque a represa está muito rasa”, diz o presidente do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental), Carlos Bocuhy.
Os cálculos da entidade, feitos com o uso de fotos por satélite, indicam que o ritmo do assoreamento é de 7% por década. A erosão faz com que a rotina das populações ribeirinhas seja alterada. Em Diadema, há um exemplo histórico. A procissão de Nossa Senhora dos Navegantes, no bairro Eldorado, era feita de barco. A imagem chegava pela represa e os fiéis acompanhavam de barco até a entrada da capela, que ficava em frente ao reservatório. Hoje, a paróquia fica quase a 1.000 metros da margem.
“Agora, a procissão tem de ser feita por terra mesmo. Perdeu-se toda aquela tradição por conta da poluição da represa. As pessoas ainda lembram com nostalgia do tempo em que a Billings era limpa e a água chegava até a beira da estrada”, afirma o memorialista Walter Adão Carreiro.
Os novos limites impostos à represa impedem que a quota máxima de armazenamento possa ser retomada. Alguns canais, porém, poderiam ser desassoreados, segundo o padre Odair Ângelo Agostín. “Estou no Eldorado há 20 anos e aqui ninguém gosta de ver o que aconteceu com a Billings. A poluição fez com que a procissão de Nossa Senhora perdesse o brilho. Tivemos de nos adaptar à realidade, mas estamos brigando para recuperar pelo menos uma parte, para que a imagem possa chegar de barco”, diz.
Mapeamento aponta os maiores vilões do reservatório
As perdas sofridas pela represa são exemplificadas em 18 pontos de risco. Áreas com sinais de desmatamento, despejo de carga doméstica sem tratamento na água, proximidade com indústrias e intervenções não-planejadas estão entre as principais causas da destruição do manancial. A lista, divulgada no Seminário Billings 2008 – organizado pelo Diário no último dia 16 -, inclui ainda estações de tratamento de esgoto subdimensionadas e um aterro de lixo doméstico a 2.270 metros da represa com risco de contaminação.
Áreas de mananciais são protegidas por legislação específica desde 1976. A teoria, porém, não tem efetividade na prática. A queda na produção da água do reservatório é a prova de que falta aplicabilidade. A capacidade original, estipulada pela Light (antiga empresa de energia de São Paulo e responsável pela criação da Billings), era de 28 m³ por segundo. Depois de 83 anos, informações da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) indicam que a perda foi de 55%.
“O sistema está fragilizado, com menor umidade na região, aterramento de nascentes e rebaixamento dos lençóis freáticos. Além disso, também houve perda de recurso econômico da ordem de cerca de US$ 200 milhões anuais, principalmente na última década”, completa Carlos Bocuhy.
Os dados apresentados pelo Proam são rebatidos pelo Estado. O percentual assoreado, por exemplo, não é oficial. “O governo diz que está em 10% e não em 20%, mas não revela nenhum estudo de batimetria (que mede a profundidade de lagos e rios) que comprove isso. Nós fizemos um levantamento georreferenciado do espelho d”água com fotos de satélite”, finaliza.
[EcoDebate, 29/09/2008]