Consumo eficiente de energia na América Latina pode trazer economia de R$ 65 bi
Os países da América Latina poderiam economizar, até 2018, cerca de US$ 36 bilhões, algo equivalente a R$ 65,5 bilhões, se optassem pela adoção de medidas para tornar o consumo de energia mais eficiente. A conclusão está no relatório Como Economizar US$ 36 bilhões – Sem Desligar as Luzes divulgado, no dia 15/9, em São Paulo, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
De acordo com o relatório, há duas maneiras do países latino-americanos gerarem energia suficiente para atender a demanda até 2018. Uma exigiria US$ 53 bilhões de gastos com a construção de 328 novas usinas elétricas de ciclo aberto operadas a gás.
A outra custaria US$ 16 bilhões, tornando o consumo mais eficiente. “Se há um crescimento da demanda, como satisfazer ou atender a esse crescimento? Instalando capacidade geradora ou ajustando a demanda.” A resposta é do diretor de Infra-estrutura e Meio Ambiente do BID, Roberto Vellutini.
Ele próprio define o conceito de eficiência energética: “eficiência energética é olhar processos industriais como, por exemplo, caldeiras, alto-fornos e lâmpadas de iluminação pública e ver como se pode ter o mesmo produto usando menos energia para se conseguir ter o mesmo resultado”.
Em entrevista à Agência Brasil, Vellutini afirmou que, tornando o consumo de energia mais eficiente, o gasto de energia por habitante em um determinado país seria menor e, conseqüentemente, não haveria necessidade, por exemplo, de se instalar ainda mais usinas para geração de energia. “As necessidades de investimento em geração são menores ao longo do tempo”, disse.
A conclusão do relatório é de que os países da América Latina e do Caribe poderiam reduzir o consumo de energia em até 10%, na próxima década, investindo em equipamentos e tecnologia para um uso mais eficiente. Segundo o relatório, isso não implicararia em menos conforto para a população e nem deixaria esses países menos competitivos economicamente.
No caso específico do Brasil, o relatório concluiu que o país faz uso apenas moderado de sua capacidade de eficiência energética. O Brasil teria que reduzir 57,800 gigawatt-hora de eletricidade por ano para impulsionar sua capacidade energética até 2018.
O relatório do BID destaca que, se a demanda de energia continuar crescendo e o país não se tornar mais eficiente energeticamente “será preciso construir o equivalente a 132 usinas elétricas de ciclo aberto para produzir os mesmos 57,800 GWh de eletricidade por ano”. Isso custaria ao Brasil cerca de US$ 21,5 bilhões, só para a construção de usinas, desconsiderando gastos operacionais e de combustível em seu funcionamento.
O Brasil, segundo Vellutini, está entre os dez primeiros no ranking que considera os países que melhor fazem uso de sua capacidade energética. “Medimos a quantidade de energia por Produto Interno Bruto [PIB]. Por exemplo, o México é um país relativamente rico e a quantidade de energia que ele usa com relação ao PIB é muito menor do que a Guiana ou o Haiti, países pobres e que têm um consumo brutal com relação ao PIB.”
Eficiência energética, de acordo com o diretor do BID, está intimamente relacionada à pobreza. “Os países mais pobres usam a energia de maneira menos eficiente”, afirmou.
Uma das razões apontadas por Vellutini para que o Brasil passasse a fazer melhor uso de energia foi o racionamento, que conscientizou as pessoas para a necessidade de se reduzir o consumo.
Segundo ele, depois do racionamento, “ninguém passou a acender mais luz ou permanecer mais tempo no chuveiro porque voltou o suprimento de energia normal. O padrão de consumo elétrico no país ficou mais eficiente por causa do racionamento”.
Matéria de Elaine Patricia Cruz, Agência Brasil, publicada no Ecodebate, 19/09/2008.