Planalto ainda não aderiu à proposta de construção de 60 usinas nucleares
A proposta do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, de instalar 60 usinas nucleares, totalizando uma potência de 60 mil megawatts, até 2050, no mais tardar, 2060, ainda não foi apresentada ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), instância governamental na qual são debatidos temas dessa natureza. Na Presidência da República, a avaliação é de que a idéia deve ser respeitada por ser de um ministro, mas, por enquanto, o assunto não está sendo cogitado em nenhuma instância governamental. Por Paulo de Tarso Lyra, do Valor Econômico, 17/09/2008.
A proposta, polêmica, sobretudo do ponto de vista ambiental, ainda não foi apresentada aos demais ministros do CNPE. ” Por enquanto, essa é uma idéia restrita ao ministério de Minas e Energia ” , confirmou Lobão. Na sexta, quando o assunto veio à tona pela primeira vez, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que a legislação ambiental será respeitada, principalmente no caso de Angra III, que Lobão espera ver em construção o mais breve possível, independente do debate sobre licenças ambientais. Ontem, a assessoria do ministro disse que Minc não ” compraria briga com Lobão ” .
Por enquanto, no Plano Nacional de Energia Elétrica, estão previstas seis usinas nucleares – Angra III, duas no Nordeste, outras duas no Sudeste e uma em local ainda não definido. Esse plano já foi aprovado pelo CNPE e deve estar implementado até 2030. Lobão declarou que, depois dessas, poderiam ser instaladas as outras 54. ” Nos últimos 30 anos, a França aumentou sua capacidade instalada de energia nuclear em 30 mil megawatts. Esse trabalho pode ser feito a longo prazo ” , disse Lobão, afirmando que a intenção é que as outras usinas tenham capacidade semelhante à Angra III.
Ciosos do tamanho da polêmica e do prejuízo que as declarações do ministro podem causar no debate, assessores do MME apressaram-se em afirmar que esse assunto ainda está restrito ao ministério. ” Para que um tema como esse evolua, ainda é necessária uma longa discussão interna, de governo ” , garantiu um assessor.
Assim mesmo, as usinas nucleares estariam em uma última etapa. Por enquanto, o governo brasileiro prefere investir no potencial hidrelétrico, embora o espaço para as grandes usinas esteja acabando: além das duas que serão construídas no Rio Madeira, será concluída a de Belo Monte (PA) e outra na Bacia do Rio Tapajós. A partir daí, a opção preferencial passa a ser as usinas termelétricas, movidas a carvão. O problema é que essa alternativa é mais poluente.
Estimativas do próprio MME mostram que, se o Brasil espera manter o ritmo de crescimento de 5% ao ano, precisaria agregar quatro mil megawatts/ano. Com isso, não haveria outra alternativa sem ” apelar ” para a energia nuclear. ” As térmicas são caras e, com essa crise da Bolívia, não temos certeza da quantidade de gás com o qual podemos contar ” , afirmou um assessor.
Segundo outro colaborador do presidente Lula, o Brasil tem reserva de urânio suficiente para suprir até 60 usinas nucleares durante o período de vida útil dessas usinas, que varia de 50 a 60 anos. Talvez, por isso, explicou uma fonte oficial, o ministro Edison Lobão esteja defendendo a construção de 60 usinas
Nota do Ecodebate
Em relação à descabida proposta de construção de 50 usinas nucleares em 50 anos sugerimos que leiam, também:
Brasil deverá construir 50 usinas nucleares nos próximos 50 anos, afirma Lobão
É prematuro falar na construção de 50 usinas nucleares no país, diz presidente da Aben
[EcoDebate, 18/09/2008]