Geleiras dos Pirineus devem desaparecer até 2050
Geleira do Monte Perdido, nos Pirineus. Foto: SINC / Juan José González Trueba.
A imagem dos cumes gelados dos Pirineus, conjunto de montanhas na fronteira da França e Espanha, tornou-se muito menor nos últimos 15 anos e, de acordo com estudo recente, deve desaparecer completamente até 2050, em razão do aquecimento global. Por Henrique Cortez*, do EcoDebate.
Pesquisadores da Universidade da Cantabria, Universidade Autônoma de Madri e da Universidade de Valladolid avaliaram dados históricos para estimar o impacto do aquecimento global nas geleiras da península ibérica.
Muito se fala do degelo na Groelândia, no Ártico ou na Antártida, mas pouco se sabe do degelo andino, alpino ou nas montanhas ibéricas, nos Pirineus. Exatamente este era o objetivo dos pesquisadores espanhóis, cujos dados informar que o aumento progressivo da temperatura na região, de 0,9ºC desde 1890 até agora, confirma que a geleiras dos Pirineus vão desaparecer até 2050.
Os cientistas se basearam na evolução climática das geleiras desde a “Pequena Idade do Gelo” (de 1300 até 1860).
“As altas montanhas são espaços especialmente sensíveis às mudanças climáticas e ambientais e, dentro delas, a evolução das geleiras em resposta às mudanças climáticas é um dos mais eficientes indicadores do aquecimento global que estamos vivenciando, como foi constatado nas montanhas ibéricas” disse o professor da Universidade de Cantabria, Juan José González Trueba.
60% das geleiras dos Pirineus já derreteram
Atualmente, apenas existem 21 geleiras nos Pirineus (dez no lado espanhol e onze no lado francês) que ocupam uma superfície de 450 hectares. Em apenas 15 anos, de 1995 até agora, os cálculos glaciológicos demonstram um rápido derretimento, provocando uma retração total nas geleiras menores e de 50-60% nas grandes geleiras.
Segundo a pesquisa, de 1880 aé 1980, pelo menos, 94 geleiras desapareceram na Península Ibérica e, desde os anos 80 até os dias atuais, desapareceram outras 17. As geleiras são sensíveis “geoindicadores de mudanças climáticas e estão em claro processo de degelo, com desaparecimento previsível” destaca González Trueba.
As geleiras da Península Ibérica se formaram na “Pequena Idade do Gelo”. O período mais frio e que registrou a maior extensão de geleiras, nas altas montanhas espanholas ocorreu entre 1645 e 1710. Entre 1750 e os primeiros anos do século XIX, as pequenas geleiras sofreram uma retração e logo se recuperaram graça a um novo período de baixas temperaturas. Desta fase até agora, as temperaturas subiram entre 0,7ºC e 0,9ºC nas altas montanhas do norte da Espanha, demonstrando os efeitos do aquecimento global.
O degelo nos Pirineus é consistente com o que já ocorre em outras geleiras em escala global, que outros estudos também demonstram nos Andes, nos Alpes e no Himalaia. Mantida a atual escalada do aquecimento global, quase todos, até o final do século, sofrerão com o desaparecimento de suas geleiras.
Referência bibliográfica:
González Trueba, J.J; Martín Moreno, R.; Martínez de Pison, E.; Serrano, E. “’Little Ice Age’ glaciation and current glaciers in the Iberian Peninsula”. The Holocene 18(4): 551-568 Junio 2008.
* Com informações da Plataforma SINC
[10/09/2008] [ O conteúdo produzido e assinado pelo EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor e ao Ecodebate, como fonte original da informação.]