Fingir que acredita…, artigo de Nelson Batista Tembra
[Ecodebate] De todas as liberdades a mais inviolável é a de pensar, que compreende também a liberdade de consciência. Lançar reprovação enérgica sobre aqueles que não pensam como nós é simplesmente querer essa liberdade para si, mas recusá-la aos outros.
A ação ou efeito de corromper, a decomposição, a putrefação, a decadência, a perversão ou a deterioração dos princípios éticos e morais e a depravação têm persistido desde o início dos tempos, não só pelos maus políticos, mas também por pessoas jurídicas e pelo cidadão comum, pessoa física, com ou sem o poder de decisão sobre o destino das outras pessoas.
A corrupção se apresenta de formas distintas, desde a simples influência moral, sem sinais externos perceptíveis, até a perturbação completa do organismo e das próprias faculdades mentais.
Infelizmente, os corruptos sobrevivem através da inferioridade moral e intelectual do próprio homem, e no caso político, do eleitor.
A ação maléfica que a corrupção exerce faz parte dos flagelos, das grandes calamidades públicas e dos castigos e tormentos contra os quais luta a humanidade.
É possível estabelecer analogia entre obsessão – a ação persistente de maus espíritos sobre os indivíduos – e corrupção. Mas, diferentemente do espiritismo, onde a obsessão é uma prova ou expiação, e como tal deve ser aceita, a corrupção é inaceitável.
A corrupção é uma espécie de doença, porém, enquanto as enfermidades resultam de imperfeições físicas que tornam o organismo acessível às influências exteriores, a corrupção resulta sempre da imperfeição moral. Em todos os casos de obsessão a prece é o mais poderoso agente contra o espírito obsessor, no caso da corrupção é o voto.
Para nos preservarmos contra as doenças, fortificamos o corpo; para nos prevenirmos da corrupção é necessário o fortalecimento, a valorização, a educação e a conscientização do próprio homem. Esse auxílio se torna necessário, pois o flagelo da corrupção se degenera em subjugação, especialmente na condição em que vive a maioria da população brasileira nas áreas de saúde, educação e desemprego.
O eleitor com o cérebro já atrofiado pela pobreza extrema, pela miséria e ignorância é mentalmente alienado e sofre verdadeiras lavagens cerebrais, sendo privado, na maioria das vezes, da própria vontade e do livre arbítrio.
Basta assistir e assimilar propagandas enganosas e acabar acreditando em promessas absurdas, veiculadas nos horários de propaganda eleitoral gratuita e, do mesmo modo, na mídia milionária paga.
Os candidatos juram que pretendem se eleger para resolver os problemas do povo, que se multiplicam, mas o eleitor deveria apenas fingir que acredita…
Nelson Batista Tembra, Engenheiro Agrônomo e Consultor Ambiental, com 27 de experiência profissional, é colaborador e articulista do EcoDebate.
[Ecodebate, 01/09/2008]