Pará é recordista em resgate de mão-de-obra análoga a de escravo
Foto: Naila Oliveira
Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, Maranhão é o estado que mais fornece trabalhadores, aliciados por “gatos” em seus municípios por falsas promessas de emprego
Dados da Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego demonstram que utilização da mão-de-obra escrava no Brasil tem sido mais freqüente no Norte do país, principalmente no estado do Pará, onde o Ministério tem recebido a maior parte das denúncias. O Maranhão, no Nordeste, que faz divisa com o Pará e Tocantins, aparece como o maior provedor de mão-de-obra escrava no país.
De 2003 a 2007, período pesquisado pelo Ministério, foram resgatados 21.874 trabalhadores de situação degradante ou análoga a de escravo. Numa amostragem com 14.329 trabalhadores nesse período, o estado do Pará aparece com um total de 5.242 libertações. “O Pará é o estado onde recebemos o maior número de denúncias de uso ilegal de mão-de-obra. Este ano, das 60 ações que realizamos até julho, 17 foram no Pará, com a retirada de 413 pessoas de situação irregular de trabalho”, esclarece Marcelo Campos, Coordenador do Grupo Móvel de Erradicação do Trabalho Escravo, criado em 1995 pelo governo para combater essa ilegalidade.
O Maranhão fornece grande parte da mão-de-obra utilizada no Pará, principalmente em atividades de agropecuária e produção de carvão vegetal, tendo sido encontrados muitos trabalhadores também nas atividades sucroalcooleiras no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. No período, foram identificados 3.349 trabalhadores originários do estado, sendo que 4.479 dos trabalhadores resgatados pelo Grupo Móvel afirmaram aos auditores terem nascidos no Maranhão.
Nas proximidades da microregião denominada “Bico do Papagaio”, onde se encontram os estados do Pará, Maranhão e Tocantins, concentra-se a maior parte das denúncias e resgate de trabalhadores pelo Grupo Móvel.
Os “gatos” (contratadores) aliciam trabalhadores maranhenses com falsas promessas de bom emprego no Pará. Muitos deles deixam suas famílias para vir tentar a sorte no estado vizinho, porém, acabam se tornando escravos dos patrões, principalmente pelas dívidas contraídas com transporte, comida e hospedagem. “O endividamento é uma das formas mais comuns de escravidão que encontramos. O trabalhador paga por tanta coisa que ao fim do mês não tem salário a receber e acredita que ainda deve ao patrão”, explica Campos.
Após o Pará, aparecem os estados do Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul com 1736 e 1608 trabalhadores resgatados respectivamente no período. O Mato Grosso do Sul também aparece como o segundo maior fornecedor de mão-de-obra escrava.
“Os números elevados em Mato Grosso do Sul se devem a duas grandes operações ocorridas no Estado em 2007, que culminou com a retirada de 1011 e 498 trabalhadores de usinas de cana de açúcar”, destaca o auditor.
Estado Resgates
PA 5242
MT 1736
MS 1608
TO 1138
MA 1112
GO 1095
BA 949
PI 379
MG 337
PR 224
CE 104
RJ 92
RS 76
SC 68
RO 50
SP 42
RN 27
ES 22
AM 18
AC 10
Assessoria de Imprensa do MTE
[EcoDebate, 29/08/2008]