EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Estudo analisa impactos da expansão de atividades canavieiras

Impactos sócio-ambientais, monocultura do cultivo da cana-de-açúcar, aumento do desmatamento, deslocamento ou extinção de atividades tradicionais, efeitos negativos para a agricultura familiar e o abastecimento local. Essas são algumas conseqüências da expansão da atividade canavieira sem o devido planejamento e regulamentação.

Para encontrar alternativas que promovam o desenvolvimento e minimizem os impactos negativos do cultivo da cana, a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) está produzindo um estudo. Elaborada em parceria com o Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a pesquisa busca a proposição de mecanismos de certificação e integração de áreas de expansão de cana-de-açúcar.

Etapas
O estudo utiliza dados qualitativos e quantitativos, que permitem a discussão do tema com todas as partes envolvidas. “A cana-de-açúcar precisa expandir, e isto vai acontecer de qualquer forma. Mas com regulamentação ou intervenção pública pode-se evitar, por exemplo, que agricultores familiares – de áreas reformadas ou não – arrendem ou vendam suas terras e tenham que migrar. Pode ser possível também impedir o deslocamento da pecuária extensiva para regiões em que os recursos naturais estão mais bem preservados”, diz Gerd Sparovek, coordenador-geral da pesquisa.

A avaliação qualitativa será feita através de entrevistas semi-estruturadas com o setor patronal e com trabalhadores, explorando, assim, limites e possibilidades dos segmentos e estruturando a base para propostas diversas e alternativas sustentáveis para a expansão da atividade canavieira. Além disso, nessa fase serão levantados dados sobre as normas de funcionamento e as conseqüências da certificação sócio-ambiental em cadeias produtivas, o que subsidiará mais debates acerca do etanol. As entrevistas também irão proporcionar mais conhecimento sobre as potencialidades e necessidades de cada setor e de cada área analisada.

Já o estudo quantitativo será baseado em dados sobre a expansão de cana-de-açúcar que, segundo a perspectiva apresentada, irá crescer muito nos próximos 10 anos. Serão estudadas, também: a implantação de propostas como o selo “etanol social”, que prevê metas locais de integração e se constitui em um mecanismo para o desenvolvimento local; e a adoção de integração e certificação sócio-ambiental nas regiões analisadas. “Estamos avaliando alternativas para que a expansão da cana-de-açúcar se integre mais e de maneira mais produtiva com os usos da terra de seu entorno”, explica o pesquisador.

Debate atual
A pesquisa aponta, como uma das soluções ao crescimento do plantio da cana, a criação de um modelo de certificação sócio-ambiental da expansão desse cultivo, além da integração com a pecuária local familiar e extensiva. O modelo inclui, também, mecanismos que independem de subsídios ou subvenção, e presença do Estado, para incentivar marcos regulatórios para implantação do selo “etanol social”. “Vemos um cenário em que a cana-de-açúcar conviva com a produção existente, que ela não desloque ou concorra com tudo a ponto da região virar um mar de cana, como é o comum”, complementa Sparovek.

Em função da crise de alimentos e da ascensão do uso dos biocombustíveis, o etanol ganha destaque nos debates atuais. Gerd Sparovek considera o panorama favorável ao Brasil, mas lembra que é necessário fazer algo concreto para que a crise de alimentos não se agrave. “A visão de que boa parte da energia que utilizamos venha da agricultura é relativamente recente, e pode provocar mudanças muito importantes neste setor. Precisamos achar meios de expandir a produção de energia via agricultura sem concorrer com ou diminuir a produção de alimentos”, opina.

Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural
Ministério do Desenvolvimento Agrário
Boletim NEAD Nº 435

Enviado por Rogério Almeida, colaborador e articulista do EcoDebate

[EcoDebate, 29/08/2008]