Mudanças climáticas irão alterar a costa ocidental da África
A elevação do nível do mar, em razão das mudanças climáticas, irá redesenhar 4 mil quilômetros da costa ocidental africana. É o que afirmam especialistas do grupo ambientalista Heinrich-Böll-Stiftung.
“A costa da Guiné deixará de existir até ao final deste século”, disse Stefan Cramer, geólogo marinho e chefe de operações na Nigéria, do grupo alemão Heinrich-Böll-Stiftung. Por Henrique Cortez, do Ecodebate, com Agências.
“Os países mais ameaçados pela iminência desta catástrofe ambiental são Gâmbia, Nigéria, Burkina Fasso e Gana”, disse durante a conferência das Nações Unidas para o Clima, que acontece na capital de Gana, Accra.
Cramer disse que o nível do mar pode subir até dois centímetros por ano, o suficiente para devastar grandes porções mais frágeis do litoral, especialmente os deltas com níveis mais baixos e com grande densidade populacional.
No ano passado, peritos em mudanças climáticas da ONU previram, inicialmente, aumentos mais modestos, de 18 a 59 centímetros, até o final do século, mas, em uma versão final do seu relatório, deixaram o limite superior em aberto, devido a uma crescente evidência científica de que poderia subir níveis muito mais elevados.
O Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), de acordo com Camer, não levou em conta o potencial impacto da enxurrada decorrente do degelo de 3 mil metros de espessura da camada de gelo da Groelândia, que abrange uma área três vezes maior do que o tamanho da Nigéria.
Entre as cidades mais atingidas estariam a capital gambiana Banjul e Lagos, capital econômica da Nigéria. Algumas áreas de Lagos já estão abaixo do nível do mar e encontram-se sujeitas a inundações freqüentes.
O delta do Níger, área produtora de campos de petróleo, é especialmente vulnerável, disse Cramer.
Em Gana, “até mil quilômetros de terras, no delta Volta, podem ser perdidos devido ao aumento do nível do mar e inundações”, disse Yvo de Boer, chefe da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas.
A devastação causada pela subida do nível do mar é amplificada por cada vez mais violentas tempestades tropicais, o que pode criar mar ondas de tempestade com até três metros de altura.
Em agosto de 2007, uma tempestade, 5 mil quilômetros ao largo da costa, destruiu barreiras protetoras nas praias de Lagos, o que evidencia a vulnerabilidade de toda a costa oeste da África.
Outra grave ameaça, da elevação do nível da água do mar, é a salinização dos aqüíferos costeiros, comprometendo férteis terrenos agrícolas.
“Isso vai tornar o solo e a água impróprios para o consumo e para fins agrícolas. O resultado será a insegurança alimentar e da água”, declarou George Awudi, coordenador do Programa Amigos da Terra em Gana.
Peritos ambientais oferecem soluções diferentes, mas todos concordam sobre a inutilidade – e o custo proibitivo – da maciça construção de barreiras no mar.
“A opção mais sensata é o deslocamento para áreas mais altas, que é uma dura opção, especialmente para a Nigéria, porque significaria abandonar os seus centros econômicos em Lagos e suas instalações petrolíferas no delta”, disse Cramer.
Awudi, no entanto, insistiu que o deslocamento da população é uma “opção impensável, devido ao seu impacto econômico, social e cultural implicações”.
A solução, disse ele, é centrar a atenção sobre a origem do problema e não sobre a forma de adaptar-se às suas conseqüências.
“Os países industrializados devem tomar medidas proativas na redução de gases de efeito estufa”, disse ele.
Mas, mesmo que as emissões de dióxido de carbono caiam drasticamente, os especialistas dizem, que o nível do mar ainda continuaria a subir, ao longo dos próximos 50 a 100 anos.
[EcoDebate, 25/08/2008]