Desperdício mundial de 50% dos alimentos também desperdiça 40 trilhões de litros de água
De acordo com organizações internacionais, para responder ao desafio de alimentar a crescente população mundial e combater a fome torna-se necessário realizar uma grande redução no desperdício de alimentos pós-produção.
O Instituto Internacional da Água de Estocolmo (SIWI), a Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) e o International Water Management Institute (IWMI) apresentaram na quinta-feira, 21/8, o estudo “Poupar Água: Do campo à mesa – Conter Desperdícios e Perdas na cadeia alimentar (Saving Water: From Field to Fork – Curbing Losses and Wastage in the Food Chain)”, que apela aos governos para reduzir pela metade, até 2025, a quantidade de comida desperdiçada depois da colheira e sugere como isto deve ser feito. Por Henrique Cortez *, do EcoDebate.
Enormes quantidades de alimentos são descartados no processamento, transporte, supermercados e nas cozinhas. Esse desperdício de alimentos também é desperdício de água. Nos EUA., por exemplo, estima-se que 30% dos alimentos, com valor calculado em US $ 48,3 bilhões, é jogado fora. Por analogia, isto significa uma “torneira aberta” desperdiçando 40 trilhões de litros de água, o suficiente para abastecer 500 milhões de pessoas.
Os alimentos produzidos são mais do que suficientes para alimentar uma população mundial saudável. A distribuição e acesso aos alimentos são os problemas mais graves, porque muitos estão famintos, ao mesmo tempo que muitos comem excesso. O relatório destaca um problema muitas vezes esquecido: nós estamos produzindo alimentos para cuidar não apenas para o nosso consumo necessário, mas também os nossos hábitos perdulários.
“Há muito que metade da água utilizada para alimentar o crescimento global é perdida ou desperdiçada”, diz o Dr. Charlotte de Fraiture, pesquisador da IWMI. “Limitar essas perdas e melhorar a produtividade da água fornece as oportunidades de ganho para os agricultores, as empresas, os ecossistemas e a fome global. Uma estratégia eficaz de poupança de água, exigindo que os alimentos minimizem o desperdício, deve ser colocada na agenda política. “
A produção alimentar é condicionada pela disponibilidade de água e de recursos terrestres. Estima-se que 1,2 bilhões de pessoas já vivem em áreas onde não há água suficiente para satisfazer a demanda. E com o aumento da demanda de água, pelo uso intensivo de produtos agrícolas, como carne e bioenergia, aumenta a pressão sobre os recursos hídricos. De acordo com a avaliação do relatório Recursos Hídricos na Agricultura de 2007 (Comprehensive Assessment of Water Management in Agriculture 2007), esta tendência levará a situações de crise em muitos lugares, especialmente na África Subsaariana e no Sul da Ásia. “Se não mudarmos as nossas práticas, a água será um dos principais limitadores para a produção alimentar no futuro”, disse o Dr. Pasquale Steduto, da FAO.
Poupança de água do ‘Campo até à mesa “
A água, virtualmente presente nos alimentos, é desperdiçada antes e depois de chegar ao consumidor. Nos países mais pobres, a maioria dos alimentos é descartada antes de terem a chance de ser consumidos. Dependendo da cultura, um número estimado de 15-35% dos alimentos podem ser perdidos no campo. Outros 10-15% são descartados durante o processamento, transporte e armazenagem.
Nos países mais ricos, a produção é mais eficiente, mas a geração de resíduos é maior: as pessoas desperdiçam os alimentos que compram e, com isto, também desperdiçam todos os recursos utilizados na sua produção (água, terra, energia, transporte, etc).
O relatório sublinha que a magnitude das atuais perdas de alimentos pode ser um desafio ou uma oportunidade. “Ao melhorar a produtividade da água e reduzir a quantidade de comida que é desperdiçada podemos permitir-nos prestar uma melhor dieta para os pobres e alimentos suficientes para crescente população mundial”, diz o professor Jan Lundqvist, da SIWI. “Alcançar a meta que propomos, uma redução de 50% das perdas e desperdícios na cadeia de produção e consumo, é necessário e viável.”
No caso brasileiro, em especial, relatório da FAO aponta que até 70 mil toneladas de alimentos plantados por ano no país são jogadas no lixo, o que equivale jogar fora 64% do que plantamos.
Para maior compreensão da questão do desperdício de alimentos, sugerimos consultar a nossa “tag” sobre o assunto. Para acessar clique aqui.
* com informações do SIWI, Stockholm International Water Institute
Nota do EcoDebate: sobre a relação entre desperdício de alimentos e seus impactos ambientais sugerimos que leiam nosso editorial “Desperdício de alimentos e as crises ambientais“, de 12/11/2007.
[EcoDebate, 25/08/2008]
Em relação ao desperdício de alimentos sugerimos que leiam, também:
desperdício de alimentos: Brasil joga fora 64% do que planta, diz ONU
desperdício de alimentos: Um banquete jogado no lixo
Reino Unido desperdiça R$33 bi em alimentos por ano
Vídeo: Desperdício de alimentos
Desperdício de alimentos e as crises ambientais, por Henrique Cortez
Reduzir desperdício de alimentos exige mudança de atitude de mercado e consumidores
Caro Henrique,
Embora eu ache que a expressão “água virtual” seja inadequada, já que a água consumida é muito real, acho que o raciocínio aí embutido é por demais urgente. O que se propõe aqui no São Francisco, por exemplo, é exatamente ao contrário dos rumos propostos internacionalmente. Aqui se quer aumentar o consumo de água, o uso dos solos, sem nenhuma avaliaçào real de sustentabilidade ou economia de água e solos. O tema é do dia.
Roberto Malvezzi (Gogó)