Lixo nuclear de Angra 3 poderá ficar em cápsulas de aço
Decisão final sai em 60 dias, mas proposta é diferente do queria Carlos Minc. Obras devem começar no dia 1º
No centro dos embates em torno do licenciamento da usina de Angra 3, o destino do lixo nuclear produzido nela e nas próximas unidades a serem construídas terá de ser definido em 60 dias. A ordem partiu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi comunicada ontem em reunião com todos os agentes públicos envolvidos no assunto. Em contraponto às exigências feitas pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, a Eletronuclear – responsável pelo empreendimento – e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) apresentaram uma nova proposta, pela qual os rejeitos seriam armazenados numa cápsula de aço, com grau máximo de proteção. Por Gerson Camarotti e Mônica Tavares, do O Globo, 19/08/2008.
Eles defenderam, com a concordância do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que essa seria uma solução definitiva para o lixo, “de 500 anos”, como solicita Minc.
– O Minc não tem restrição. Ele fez exigências, que estão sendo cumpridas pela Eletronuclear. O que ele deseja é uma definição mais clara de como será o armazenamento do lixo nuclear. Esse processo já é feito com segurança em Angra 1 e 2. Mas para Angra 3 haverá estratégia ainda mais segura: serão cápsulas de aço. Isso assegura o armazenamento por 500 anos. É igual ao tempo de descobrimento do Brasil – disse Lobão ao GLOBO.
Na semana passada, Cnen e Eletronuclear mostraram contrariedade com o fato de o Meio Ambiente ter condicionado a concessão da licença de operação da usina à construção de um novo tipo de depósito, exigência que consideraram não só fora das atribuição da pasta ambiental como impossível de cumprir. Minc foi taxativo, porém: o armazenamento do lixo em piscinas, como em Angra 1 e 2, não será aceito.
Segundo uma fonte que participou do encontro, o problema é que técnicos do governo avaliam que, ao impor que o lixo fosse enterrado em um novo depósito (minas, por exemplo), longe do mar, o rejeito teria de ser transportado, o que exigiria outra logística. A fonte disse ainda que Minc fez uma série de objeções na reunião, mas, “quando se espremem as objeções, sobram só os rejeitos”.
Quatro estados do NE já têm proposta para usinas
A proposta de Cnen e Eletronuclear foi bem recebida, mas ainda não é definitiva:
– O gargalo para resolver a política nuclear é resolver a questão dos rejeitos – disse a fonte, lembrando que ter clareza e consenso nesse ponto é fundamental “até para convencer a sociedade da política de energia nuclear”.
Na reunião, ficou confirmado que as obras terão início em 1º de setembro. Também será acelerada a construção de outras quatro usinas nucleares, duas no Sudeste e duas no Nordeste. E foi batido o martelo pelo projeto do submarino com propulsão nuclear. No Nordeste, apresentaram propostas para sediar as usinas Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. No Sudeste, uma deve ficar em São Paulo e outra, em Minas Gerais.
– As usinas precisam ser construídas em áreas onde há abundância de água – explicou Lobão.
Quando prontas, as quatro novas usinas devem produzir 6 mil megawatts-hora (MWh), equivalente à potência prevista para as duas hidrelétricas que serão construídas no Rio Madeira. Com Angra 3, que deve produzir 1.400MWh, o governo estima que a produção nuclear atinja 9.000MWh.
Sobre o submarino nuclear, a curto prazo será feito um protótipo. Seu desenvolvimento será a médio prazo.
[EcoDebate, 20/08/2008]