E as adutoras do Nordeste?, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
Adutora Iara, CE. Fonte da Foto: SRH – 7/2003
[EcoDebate] Diante da insignificância a que foram reduzidas as eleições municipais, inclusive aqui no Nordeste, seria muito interessante que os batalhadores pela “convivência com o semi-árido”, inclusive no meio urbano, pautassem a discussão das adutoras sugeridas no Atlas do Nordeste nesse processo eleitoral. Afinal, segundo a Agência Nacional de Águas, se essas adutoras não começarem a serem feitas agora, até 2015 mais de mil municípios em todo o Nordeste poderão entrar em colapso hídrico. Está em jogo a sede de 34 milhões de nordestinos só no meio urbano. Portanto, o tema é municipal e crucial.
Vale a pena citar a quantidade de municípios estado por estado: Maranhão (121), Piaui (52), Ceará (139), Rio Grande do Norte (69), Paraíba (74), Pernambuco (150), Alagoas (63), Sergipe (38), Bahia (282), Minas Gerais (124). Para quem quiser pesquisar o que está proposto estado por estado, município por município, é só acessar o site e averiguar como está a avaliação de seu município e qual obra está sendo proposta. O site é http://parnaiba.ana.gov.br/atlas_nordeste/.
Depois de acessar o site é fácil navegar e localizar os estados e, dentro deles, cada município.
O governo federal e alguns governadores – Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte – apenas se preocupam com a transposição. Wagner (Bahia), Aécio (Minas) e Wellington (Piauí), se omitem. Apenas Marcelo Deda (Sergipe) tem constantemente se manifestado contra a transposição, embora também não se manifeste pelas adutoras. Quanto aos deputados, desapareceram depois do terremoto da China, ou pelo menos, já não sabemos mais se eles ainda existem. Ou alguém viu algum por aí?
O próprio governo admitiu nessa semana, em matéria publicada no Estadão, que a água disponível no São Francisco é de apenas 360 m3/s e que o consumo de água no Vale do São Francisco vai atingir 262,2 m3/s em 2025. O restante, quase 1.500 m3/s são exclusividade da CHESF para gerar energia. Desses, só o Ceará leva aproximadamente 500 m3/s de água em forma de energia. Portanto, vai haver conflito nos seus múltiplos usos, inclusive com a transposição. Em conseqüência, já se ressuscita a transposição do Tocantins para o São Francisco. Nada de novo em relação a tudo que já dissemos. Por isso, muito ao contrário de solucionar um problema, esse governo está plantando um conflito pela água que deixará como bomba relógio para seus sucessores.
Vamos à luta pelas adutoras. Nada de bom acontece nesse país sem o que o povo se mexa.
Roberto Malvezzi (Gogó) é Assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT, colaborador e articulista do EcoDebate.
[EcoDebate, 20/08/2008]