urânio empobrecido: Médicos denunciam morte de bósnios por urânio usado em munição da Otan
Nedim Hasic Sarajevo, 4 ago (EFE).- Centenas de pessoas na Bósnia morreram de câncer desde o final da guerra em 1995 e vários médicos locais apontam como causa o urânio empobrecido usado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em sua munição. Matéria da Agência EFE, no UOL Notícias, 04/08/2008 – 10h16.
A Otan utilizou projéteis revestidos com urânio empobrecido durante os bombardeios em 1995 contra as posições do Exército servo-bósnio.
As localidades mais bombardeadas foram o subúrbio de Hadzici em Sarajevo, onde se encontrava uma companhia de manutenção de tanques, o grande quartel subterrâneo de Han Pijesak e as posições dos servo-bósnios no oeste e leste da Bósnia.
É desconhecido o número exato de mortes por câncer supostamente causado pelo urânio empobrecido porque ainda não foram realizadas investigações a respeito.
Slavica Jovanovic, médica de um centro hospitalar de Bratunac, uma cidade na parte leste da porção sérvia, para onde foram muitos cidadãos de Hadzici após a guerra, acompanhou a saúde dessas pessoas desde 1996.
Em declarações ao jornal bósnio “Nezavisne novine”, a médica defende que, em 2000, especialistas e professores universitários britânicos constataram a existência de urânio empobrecido no organismo dessas pessoas.
Um cidadão de Hadzici, Mehmed Telarevic, com câncer de cólon desde 2005, afirmou ao jornal que “as pessoas encontravam munição radioativa e tóxica que permanecera depois do bombardeio da Otan e as levavam para sua casa como lembrança”.
“Ninguém nos tinha advertido do perigo que isso significava”, se queixou.
As autoridades sanitárias da parte Bósnia, onde está Hadzici, admitem que nunca foi verificada a presença de urânio no sangue e na urina na população dessa região. Além disso, se lamentam que no país não haja equipamento para tais pesquisas.
Por isso, não se pode confirmar de forma definitiva a relação entre o uso de munição com urânio empobrecido e o aumento das doenças cancerígenas na área.
Segundo dados da ONU, os efeitos mais perigosos do urânio empobrecido são registrados durante o bombardeio, quando as partículas estão no ar, por isso era esperado que os mais afetados fossem os sérvios, majoritários então na região, mas que abandonaram Hadzici em massa depois do conflito.
A médica Jovanovic afirma que entre 1996 e 2000 morreram em Bratunac 250 pessoas vindas de Hadzici, a grande maioria delas por câncer.
“Foi evidente a freqüência de câncer entre os que vieram de Hadzici. Adoeciam e morriam após dois ou três meses. A morte por câncer entre eles foi muito mais freqüente do que entre pessoas de outras regiões”, disse.
“Em 2000, a taxa de mortalidade entre os migrantes de Hadzici foi quatro vezes maior que a da população de Bratunac”, explicou.
Jelina Djurkovic, ex-deputada do Parlamento central bósnio, denunciou a “inexplicável” postura das autoridades a respeito desse problema.
Segundo ela, ela tomou a iniciativa e foi formada em 2005 uma comissão para a investigação das conseqüências da radiação do urânio empobrecido, mas que as autoridades evitaram apoiar o relatório preparado após nove meses de atividades desse grupo.
Uma equipe do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA) realizou em 2002 investigações na Bósnia quando descobriu a presença de partículas radioativas e partes de munição com urânio empobrecido, e se mostrou especialmente preocupado pela situação em vários pontos de Hadzici e Han Pijesak.
Nota do EcoDebate
A utilização do urânio empobrecido como munição é, há muito tempo, denunciado pelas consequencias da radiação persistente. Sugerimos que leiam:
Urânio empobrecido, arma de extermínio da humanidade (I)
Urânio empobrecido, arma de extermínio da humanidade (II)
[EcoDebate, 05/08/2008]