China tenta combater e maquiar problemas ambientais do país
Grupos ambientalistas costumam definir o rápido crescimento econômico da China como uma bomba-relógio ambiental. Alguns de seus efeitos são bastante conhecidos –como a alta emissão de gases de efeito estufa– e outros problemas são menos expostos –como a propagação de espécies invasoras de animais e plantas pelo país e a perda de biodiversidade. Por Afra Balazina, da Folha de S.Paulo, na Folha Online, 04/08/2008 – 09h24.
Ainda não há consenso de que o país seja o maior emissor de gases-estufa do mundo, à frente dos Estados Unidos, mas todos sabem que a China está entre os primeiros da lista, alavancada pelo uso de carvão como fonte de energia. E o problema cresce. Estimativas do IPCC (painel do clima da ONU), indicam que até 2010 as emissões chinesas crescerão até 5%, em relação a 2004.
Cientistas da Universidade da Califórnia, porém, publicaram em maio no periódico “Journal of Environmental Economics and Management” uma revisão pouco animadora.
A pesquisa mostra que as emissões na China devem crescer ainda mais. Ao levar em conta todas as províncias e fazer uma análise detalhada, os americanos projetam um aumento de ao menos 11% na produção chinesa de gases-estufa.
“Todos têm tratado a China como um só país, mas cada uma das províncias é maior do que muitos países da Europa, tanto em tamanho quanto em população”, diz um dos pesquisadores, Richard Carson.
E o problema do crescimento chinês não se resume ao aquecimento global. Outra pesquisa, revelada neste ano na revista “BioScience” por cientistas chineses e americanos, afirma que o avanço da indústria e do comércio também tem ajudado a estabelecer espécies invasoras por todo o país.
Ela mostra que 400 plantas e animais exóticos são considerados invasores. Um tipo de lagarta vinda da América do Norte, por exemplo, rapidamente devasta a paisagem urbana de Pequim ao desfolhar mais de 200 espécies de planta.
Da mesma forma, sementes de grama não-nativa e outros vegetais importados para deixar a capital mais bonita para as Olimpíadas podem ter dado carona a insetos nocivos.
Espírito olímpico
A catástrofe ambiental chinesa porém, só ganhou destaque na imprensa com o problema da poluição atmosférica de Pequim, que pode afetar atletas e turistas durante a Olimpíada.
Um relatório do Greenpeace, porém, aponta algumas melhorias, apesar do problema. “No topo da lista dos problemas ambientais chineses está o aquecimento global, seguido de perto pela falta de água para sua população e preocupações sobre segurança alimentar e erosão de terras”, diz a ONG.
A ONG considerou positivos a adoção de cortes de emissões para veículos, a construção de linhas de metrô e o incentivo para que 32 mil pessoas mudassem o aquecimento à base de carvão de suas casas. Também citou as novas estações de tratamento de água e esgoto.
Entre os pontos negativos, a ONG destacou que não foram aplicadas tecnologias de economia de água em toda Pequim nem priorizada uma política de gerar menos lixo –em vez de construir mais incineradores.
“Cerca de 300 cidades na China têm grave carência de água; 70% dos rios chineses são poluídos”, informa o relatório. A disponibilidade de água por pessoa é somente 1/ 32 do nível médio internacional.
E alguns animais refletem os problemas ambientais do país. O boto baiji, natural do rio Yangtzé, por exemplo, está praticamente extinto (criticamente ameaçado). Segundo a Sociedade Zoológica de Londres, caso seja confirmada a sua extinção, ele será o primeiro cetáceo a desaparecer como resultado direto da influência do homem: pesca abusiva, navegação excessiva, poluição fluvial e construção de usinas hidrelétricas.
Sobrou até para o panda-gigante, símbolo nacional, que perdeu muito de seu habitat e quase sumiu nos anos 1980. Ainda é tido como “em perigo”.
Apesar dos problemas ambientais, o Greendex, o “ranking verde” da National Geographic, que analisa 14 mil consumidores em 14 países, coloca os chineses em 3º lugar em consumo sustentável. A boa posição ocorreu em razão do transporte. Muitos usam bicicleta e só 22% têm carro.
Mas a frota cresce, e o Greendex reconhece que sua metodologia mascara os efeitos negativos da alta utilização de carvão para aquecimento doméstico na China. Consumidores brasileiros e indianos ficaram em primeiro lugar no índice e americanos, em último.
Dias de cão
Compreensivelmente, o governo chinês não tem interesse em mostrar coisas que assustam os turistas. Além de limitar carros para controlar a poluição durante a Olimpíada, proibiu a venda de carne de cachorro, iguaria tradicional. A fumaça de automóveis, porém, deve sair de cena só durante os jogos.
Já os cães, por ironia, podem passar de vítimas a vilões. Estudo no “American Journal of Tropical Medicine and Hygiene” mostra que, na última década, os maiores estorvos para turistas foram doenças respiratórias e… mordidas de cachorro.
“Não ficamos surpresos com o fato de muitos viajantes precisarem de cuidados respiratórios durante a viagem”, disse Phyllis Kozarsky, professor da Universidade Emory (EUA). “Mas estamos admirados com a quantidade de pacientes que foram a clínicas após a viagem com mordidas de animais –400 de cachorro, algumas de gato e macaco– e precisavam de vacina para raiva.”
[EcoDebate, 05/08/2008]