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Inadimplência do biodiesel sobe e setor queima estoques

A Petrobras silenciou-se ontem ao ser questionada sobre qual o volume de biodiesel que encontra-se em seus estoques estratégicos. As distribuidoras afirmam que, desde o começo do ano, esses estoques estão sendo utilizados para cumprir a mistura obrigatória de 2% de biodiesel no diesel, pois a inadimplência na entrega do biocombustível não acabou. Mas, desde maio, o quadro vem se agravando e mais de 30% do consumo mensal estaria saindo desses estoques estratégicos, segundo o vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), Alísio Vaz. “Em julho a situação está pior e o descumprimento de contratos das usinas está ‘bem’ superior a 30%”, diz Vaz. Por Fabiana Batista, da Gazeta Mercantil, 18/07/2008.

No ano passado, antes da entrada em vigor da mistura obrigatória, a inadimplência das usinas atingiu 55%. Na primeira semana de janeiro, também os primeiros sete dias do programa, o calote estava em 20% e a Petrobras detinha 25 milhões de litros em estoque, segundo informações da própria Petrobras concedidas à Gazeta Mercantil e publicadas no dia 9 de janeiro. Para formar o estoque de segurança, a estatal contava com a entrega de mais 100 milhões de litros pelas usinas ao longo do primeiro semestre. Mas, segundo dados da própria Agência Nacional de Petróleo (ANP), de janeiro a maio foram produzidos 351 milhões de litros de biodiesel no País, enquanto o consumo foi de 358 milhões de litros, ou seja, um déficit estatístico de 7 milhões de litros. Isso significa que, ou faltou biodiesel para o consumo, ou para compor os estoques estratégicos da Petrobras.

Vaz, do Sindicom, garante que o abastecimento está sendo garantido, apesar de a duras penas. Isso porque o calote constante das usinas faz com que os caminhões-tanque programados tenham que mudar de rota para buscar nos estoques da estatal. “O principal prejuízo é a logística. Somos obrigados a desviar caminhões-tanque, cuja frota nacional já está muito apertada. O País está crescendo. O consumo de diesel aumentou 9% este ano e estamos com muita dificuldade para abastecer logisticamente o Nordeste com álcool”, diz Vaz. Além disso, segundo ele, os estoques operacionais das distribuidoras são suficientes para dez dias de consumo, no máximo.

Sazonalmente, o consumo de diesel é maior no País no segundo semestre fato que, aliado ao fato de a mistura obrigatória ter aumentado para 3% pode complicar ainda mais o abastecimento. Se a mistura de 3% tivesse vigorado entre janeiro e maio deste ano, o déficit entre produção e consumo, que foi de 7 milhões de litros, teria sido de 184,64 milhões de litros, sem considerar abastecimento do estoque estratégico.

Neste cenário, a maior empresa de biodiesel do País, a Brasil Ecodiesel, não entrega todo biodiesel contratado desde abril deste ano. Na imprensa são divulgadas informações de que a empresa está com problemas financeiros e que, por isso, estaria até procurando um comprador. Em comunicado, a empresa negou o rumor de venda e afirmou que a companhia pleiteia receber ressarcimento contratual da Petrobras pela estatal não ter feito as retiradas do volume de biodiesel contratado nos leilões realizados em fevereiro e março deste ano. Por conta dessa inadimplência da Petrobras, a Brasil Ecodiesel afirmou na nota que considera ilegal a cobrança de multa pela estatal pela não-entrega de todo o biodiesel nos meses de abril, maio e junho de 2008.

O diretor-executivo da União Brasileira de Biodiesel (Ubrabio), Sérgio Tadeu, minimizou o cenário e disse que “existem problemas pontuais, eventuais atrasos, resultantes de, principalmente, problemas logísticos”. “Há muita dificuldade de encontrar de caminhões. A demanda aumentou muito e a indústria não tem veículos-tanque para atender essa demanda imediata”, afirmou. A assessoria da Petrobras informou que a estatal não se pronunciará, por enquanto, sobre nenhuma questão referente a biodiesel.

Álcool

O presidente do Sindicato do Açúcar e do álcool do Estado de Pernambuco (Sindaçucar), Renato Cunha, afirmou que a escassez de álcool no mercado nordestino se deve a falta de planejamento e investimentos logístico das distribuidoras que atuam na região. “Essas empresas não querem investir em estoques e nem fazem contrato de curto e médio prazos com as usinas do Nordeste. Só operam no spot. Não se resguardam nem para o anidro, que é produto estratégico para a gasolina”, ataca Cunha.

[EcoDebate, 19/07/2008]