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Para ministro, apoio do governo à agricultura familiar pode aumentar a produção de alimentos e ajudar a combater inflação

“Setor está longe da produtividade”. Em meio ao processo de alta de preços dos alimentos, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, mobilizou rapidamente o discurso de combate à inflação em favor da agricultura familiar. Com base em dados compilados por sua assessoria econômica, o ministro levou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um estudo que aponta a agricultura familiar como responsável pela produção de dois terços dos produtos que são medidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Conseguiu o apoio do presidente e da equipe econômica e mais visibilidade para o setor. Por Fabíola Salvador e Adriana Fernandes, do O Estado de S.Paulo, 13/07/2008

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Até agora só a agricultura empresarial tinha peso. O que mudou?

Existe um acerto de contas a ser feito entre a sociedade e a agricultura familiar. Ela foi condenada durante décadas a uma invisibilidade injustificável. Os governos desconheciam sua força. Nunca se considerou que é um setor econômico muito relevante. São essas famílias que produzem 70% de tudo aquilo que consumimos.

A inflação foi a salvação da lavoura para o setor?

Foi, ainda que por uma via meio atravessada. Ela pode crescer em todo o País, inclusive nas regiões menos desenvolvidas. Os sujos, feios e malvados não são nem tão sujos nem tão feios. Se você olha o IPCA, 25% são alimentos e boa parte é majoritariamente da agricultura familiar. Esse dado acendeu a luz dentro do governo. Opa! É esse pessoal que produz mais de dois terços do IPCA.

Mas esses dados são confiáveis?

Sim. Fazer reunião com a Dilma (Rousseff, ministra da Casa Civil) não é mole. Em 2003, quando se fez um esforço para estabilizar a economia e garantir superávit, a agricultura empresarial foi muito importante. Hoje, existem US$ 200 bilhões em reservas, e o que está impactando a inflação é o feijão, o leite, o arroz, a mandioca e o milho. Um dia, o presidente Lula chamou a mim, o Guido (Mantega, ministro da Fazenda) e o Reinhold (Stephanes, ministro da Agricultura) e pediu que pensássemos como enfrentar essa situação, que é grave. Tenho o compromisso de produzir mais para baixar a inflação. Mas a agricultura familiar está muito distante da fronteira de produtividade.

Houve surpresa com esses dados?

Foi interessante mostrar ao governo que precisamos de uma estratégia de resposta rápida. Não adianta continuar produzindo um balaio de soja ou qualquer outra coisa, que não vai impactar os preços. Nos interessa produzir arroz, feijão, frango e leite. Por um conjunto de fatores, essa é uma crise longa. Ela não vai se esvair em quatro ou cinco anos. Os preços dos produtos agrícolas ancoraram num patamar superior.

O custo de produção aumentou mais que a oferta de crédito.

O problema dos fertilizantes é sério. O Brasil, de forma irresponsável, anos atrás deixou de intervir nesse mercado, de produzir. Hoje, os preços sobem muito. O preço dos fertilizantes é elemento de desestímulo à produção agrícola, uma dificuldade. Não tem como dizer que não. Nós simplificamos o Pronaf e ampliamos os limites de financiamento, o que ajuda, em parte, a enfrentar esse problema. Mas os preços não devem subir muito mais.

O repasse de tecnologia é outro problema?

O sistema nacional de assistência técnica foi destruído no governo Collor. Há problemas clássicos. É irresponsável você oferecer crédito sem assistência técnica. O governo também está repassando recursos para reestruturar as Ematers. Queremos contar com 30 mil técnicos no campo.

A falta de garantias não é um problema?

O agricultor pode penhorar a safra ou um animal. Ele também pode pegar um aval de alguém ou de um vizinho. A gente tem que ter cuidado com o crédito. Se ele quiser um trator, precisa ter capacidade de pagamento. Não quero minimizar, mas acho que esse problema não vai comprometer as metas do programa, que é entregar 60 mil tratores.

Quem é: Guilherme Cassel

Cursou Engenharia Civil e fez pós-graduação em Recursos Humanos
Agente fiscal do Tesouro do Estado do Rio Grande do Sul, foi subsecretário da Fazenda de Porto Alegre e subchefe da Casa Civil do governo gaúcho
Foi secretário-geral do governo do Rio Grande do Sul e chefe de gabinete do vice-governador Miguel Rossetto

[EcoDebate, 14/07/2008]