Estudos revelam vida marinha abundante e ambientes desconhecidos em Abrolhos
Descoberta mostra que o sistema de recifes de corais da região pode ter o dobro do tamanho anteriormente considerado pela ciência
Cientistas de três instituições anunciaram a descoberta de uma grande área de recifes de coral e outros ambientes marinhos até então desconhecidos no Banco dos Abrolhos. Eles acreditam que a área pode ter o dobro do tamanho até então considerado pela ciência.
A mesma região também foi alvo de um estudo divulgado na semana passada, segundo o qual a dinâmica de peixes recifais mostra que parcelas destas novas áreas apresentam abundância de vida marinha muito superior quando comparada aos recifes anteriormente conhecidos e melhor estudados.
Os resultados da pesquisa, intitulada “Mapping marine habitats in the largest reef area of Southern Atlantic: the Abrolhos Bank, Brazil”, foram apresentados no 11º Simpósio Internacional dos Recifes de Coral na Flórida-EUA.
Desenvolvido por cientistas da Conservação Internacional, da Universidade Federal do Espírito Santo e Universidade Federal da Bahia, o projeto mapeou ambientes recifais em profundidades que variam entre 20 e 70 metros.
Para tanto, foi utilizado um sonar de varredura lateral, equipamento que produz um mapa tridimensional do fundo marinho. Nas próximas etapas do trabalho, as áreas mais promissoras serão novamente visitadas para a obtenção de amostras mais detalhadas da vida marinha ali existente.
Os resultados do estudo demonstram que mesmo em Abrolhos, o maior e mais rico banco de corais do Atlântico Sul, apenas uma pequena parte dos habitats marinhos é conhecida e está protegida. Os resultados preliminares do mapeamento do fundo marinho já apontam para a existência de uma grande área de recifes e outros ambientes nas áreas mais profundas da região.
Rodrigo Moura, biólogo da Conservação Internacional e co-autor do estudo, explica que quando o trabalho foi iniciado esperava-se encontrar estruturas recifais ainda não mapeadas, mas não na escala do que foi descoberto. “Precisamos agora checar a vida marinha associada a estas estruturas, para entender melhor sua importância para a conservação de Abrolhos”, informa.
O outro estudo, divulgado na semana passada, de co-autoria de Rodrigo Moura, e Ronaldo Francini Filho, professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), demonstrou a importância de um desses recifes profundos para a vida marinha no Banco dos Abrolhos.
Os resultados obtidos apontam para biomassas de peixes até 30 vezes maiores nestes recifes do que nos recifes mais rasos até então conhecidos.
Segundo o professor Francini Filho, apesar do isolamento e do fato de ainda não serem cartografados, esses recifes vêm sendo descobertos e explorados por barcos pesqueiros, cada vez maiores e mais bem equipados com sonares e equipamentos de localização por satélite.
“É preciso avaliar e monitorar a vida marinha nessas estruturas, garantindo que se faça um uso mais sustentável dos recursos pesqueiros ali existentes”, afirma o professor.
No artigo, publicado na revista científica Aquatic Conservation, os pesquisadores também fazem uma análise da importância das atuais áreas marinhas protegidas do Banco para a conservação de espécies de peixes de importância econômica, mostrando que o atual conjunto de áreas protegidas não é suficiente para a proteção destas espécies.
Segundo Guilherme Dutra, diretor do Programa Marinho da Conservação Internacional, estes estudos realizados de forma integrada permitem a melhor compreensão da complexidade e da conectividade dos ecossistemas da região dos Abrolhos, propiciando melhores condições para planejar sua proteção.
“Os dados de ambos os estudos apontam para a necessidade de uma rede de áreas marinhas protegidas que contemple outros ambientes ainda não protegidos,” afirma Dutra.
Estes estudos fazem parte do Programa de Ciência Aplicada ao Manejo de Áreas Marinhas Protegidas, coordenado pela Conservação Internacional com a participação de várias instituições de pesquisa no Brasil e em outras três regiões no mundo, com o apoio da Fundação Gordon e Betty Moore.
O projeto de mapeamento do fundo marinho do Banco dos Abrolhos conta também com o apoio do International Conservation Fund of Canada.
Da Assessoria de Imprensa da Conservação Internacional Brasil
[EcoDebate, 11/07/2008]