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Pará tem dois milhões de bois piratas

É o que apontam as estimativas não oficiais sobre o rebanho paraense.

Tomada no meio da semana passada, uma decisão do juiz federal de Altamira, Antonio Carlos Almeida Campelo, veio reforçar a batalha daqueles que pretendem afastar a pecuária e o plantio de grãos de áreas ambientalmente protegidas na Amazônia. Campelo decretou o perdimento, em favor do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) – o destino final deverá ser a doação a entidades carentes – de 3,5 mil cabeças de gado do fazendeiro Lourival Novaes Medrado dos Santos, que invadiu e ocupa ilegalmente uma área dentro da Estação Ecológica da Terra do Meio e do Parque Nacional da Serra do Pardo, na região banhada pelo rio Xingu. Outras 40 mil reses poderão ter o mesmo destino. Por Carlos Mendes, da Redação do O Liberal, PA, Edição de 29/06/2008.

Outros fazendeiros que mantém suas criações em áreas de preservação poderão sofrer as mesmas penalidades. Estimativas não oficiais apontam que, pelo menos, 10% dos 20 milhões de cabeças de gado do Pará, equivalente a dois milhões de bois, teriam de ter retirados de áreas ocupadas ilegalmente sob ameaça de vir a ser doados a organizações populares.

A sentença de Campelo também alimentou a polêmica que coloca em lados diametralmente opostos fazendeiros e defensores da intocabilidade da floresta. O ‘boi pirata’- adjetivo usado pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, para definir o gado encontrado em área amparada por decreto federal – estaria contribuindo decisivamente para a devastação da Amazônia? Resposta: a descoberta dessa pólvora ambiental, só para ficar na história mais recente, remonta há 40 anos, quando o regime militar de 1964 do general Castelo Branco criou a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), extingüindo a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (Spevea).

A Sudam começa a financiar gado, abrindo de vez a porteira amazônica para a grilagem de terra e a criação de latifúndios. O ‘boi pirata’ já estava mugindo dentro de áreas públicas e dando lucro aos grandes fazendeiros, a maioria do centro-sul do país. Os bancos nacionais e internacionais, com a complacência federal, financiavam a devastação. O sul do Pará, menina dos olhos dos novos migrantes, começava a se transformar em terra de ninguém. No governo Geisel nada mudou. Pelo contrário, a política da pata do boi ganhou maiores incentivos fiscais.

O primeiro sinal de que o boi da Sudam estava contribuindo para maior desmatamento surgiu no governo do general João Batista Figueiredo. O avanço do boi sobre a floresta foi estancado. Entrou em cena a exploração madeireira. Sempre com incentivo oficial. Caboclos, índios e pequenos produtores rurais foram expulsos de suas terras para dar lugar aos novos barões do capitalismo. Vinte porcento de florestas desapareceram em quatro décadas. Uma parte engolida pela pecuária; outra, por uma nova política, a da motosserra. Em cima disso criaram-se grandes fortunas.

Ao chegar quase ao final da primeira década do terceiro milênio, a região acumula problemas ambientais e sociais na região. O Pará depara-se hoje com a dura realidade. O Estado precisa crescer, mas seus modelos de desenvolvimento estão ultrapassados, porque ignoram o potencial da floresta, vista como estorvo ao progresso. Um progresso a serviço das elites colonizadoras e em detrimento dos moradores da região, ainda mergulhados em baixos índices de desenvolvimento humano.

TECNOLOGIA

O aumento da atividade pecuária – o Pará tem, atualmente, o quarto maior rebanho nacional, com quase 20 milhões de cabeças, aproximando-se da proporção de três bois para cada ser humano – seria uma das soluções para o problema social dos amazônidas paraenses, com mais empregos e renda? Seguramente, não. Porque onde ela cresce, também aumenta o desmatamento. E por uma razão muito simples: os pecuaristas da região não usam tecnologia para aumentar a produtividade da terra, por meio de manejo e adubação, preferindo expandir a área de pasto, o que afeta o meio ambiente com a derrubada de árvores.

O gerente de Pecuária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Otávio Costa de Oliveira, chama a atenção para o fato de que a atividade está se deslocando cada vez mais do Sul e Sudeste do país para as regiões Centro-oeste e Norte, onde a terra é mais barata e o custo da criação menor. Ele diz ser possível aumentar a produtividade sem ter que aumentar a área. Mas faz um alerta: ‘A terra sendo barata, é mais lucrativo comprar novas áreas e expandir do que investir na propriedade’.

One thought on “Pará tem dois milhões de bois piratas

  • É muito interessante essa onde de desinformação que acompanha esse debate ecológico.Ora se diz que não podemos construir Belo Monte sob pena de incomodar meia dúzia de índios aculturados que sequer vivem às margens do futuro lago, mas que são orientados por ONG estrangeiras que jamais se estabeleceriam no sertão nordestino (porque será?). Ora não podemos produzir alimentos em terras degradadas há décadas. Paciência!!!Chega de querer manter o Pará na idade da edra.

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