Recuperação de Matas Ciliares, por Marcus Cazarré e Maria Helena Sierpinski
Recuperação de Matas Ciliares, por Marcus Cazarré e Maria Helena Sierpinski
O processo de recuperação de Matas Ciliares depende do grau de degradação do ambiente. Em algumas situações, técnicas simples podem ser implementadas para a recuperação, inclusive, havendo áreas em que a própria dinâmica do ecossistema é auto- suficiente para a regeneração natural.
No Brasil, são raros os ambientes considerados irrediavelmente degradados ou irrecuperáveis pela dinâmica natural da vegetação. O que varia é o tempo necessário para a regeneração. Desta forma, a avaliação das causas da degradação e o grau de comprometimento do meio é crucial para o desenvolvimento da metodologia adequada para a recuperação.
Os programas de recuperação de Matas Ciliares têm dado especial atenção ao uso de espécies nativas da região na recomposição da cobertura vegetal.
Dentre as vantagens de se utilizar as espécies nativas, podemos citar, a contribuição para a conservação da biodiversidade regional, protegendo, ou expandindo as fontes naturais de diversidade genética da flora em questão e da fauna a ela associada, podendo também representar importantes vantagens técnicas e econômicas devido a proximidade da fonte de propágulos, facilidade de aclimação e perpetuação das espécies.
Para a implantação de processos de recuperação de Matas Ciliares é importante avaliar as condições características do local, como: topografia, regime hídrico, tipo de solo, fertilidade natural, presença de processos erosivos, atividades antrópicas circunvizinhas, clima, presença de pragas e capacidade de regeneração natural. Assim, é possível estabelecer critérios para o preparo do solo, proteção da água,
Coleta, Beneficiamento e armazenamento das sementes.
Devido a dificuldade na obtenção das sementes, é necessário a seleção de matrizes no campo. A época de coleta dos frutos varia de acordo com a espécie e a região. A marcação de árvores matrizes auxilia na prática de coleta e permite o monitoramento da produção e da qualidade das sementes. De cada espécie deve-se eleger como matriz no mínimo 8 árvores em ambientes distintos para garantir a diversidade genética das populações. Após colhidas as sementes, faz-se o beneficiamento, que consiste em limpar e selecionar as sementes. Como as informações sobre armazenamento de sementes são poucas, sugere-se que a
semeadura seja realizada logo após o beneficiamento.
Recipientes e substratos:
As embalagens mais utilizadas hoje são os sacos plásticos e os tubetes.
Os substratos tem a função de suporte para a muda, formando torrão e retendo nutrientes e umidade. Sua formação pode variar em função do recipiente e o modo de produção da muda, mas a maioria dos compostos apresenta matéria decomposta, vermiculita, fertilizantes, terra, inóculos de fungos e bactérias (Paiva e Gomes,1993).
Viveiro
Quando a semeadura for feita em sementeira é necessário o transplantio da muda para a embalagem definitiva, a chamada repicagem. No caso da semeadura ser feita diretamente na embalagem, geralmente é colocada mais de uma semente por embalagem para evitar falhas, se mais de uma semente germina é feito o desbaste.
A adubação é feita no substrato para o desenvolvimento inicial e em cobertura para compensar novas necessidades da planta.
Preparo do solo:
As recomendações das formas de preparo do solo são definidas após visita à área, levantamento e análise das condições locais. Podendo ser: coveamento, sulcamento na linha de plantio ou área total (em nível), aração, gradagem e subsolagem na linha de plantio ou área total. A recomendação de pH do solo deve ser feita mediante calegem conforme análise de solo, sendo entre 6,0 a 6,5 ideal para o desenvolvimento da maioria das plantas. A fertilização deve ser feita para corrigir deficiências dos nutrientes.
Pragas e ervas daninhas:
Formigas cortadeiras e cupins podem causar severos danos à muda em estágio inicial, mesmo assim são disseminadoras de propágulos em condução de regeneração natural. Caso a infestação esteja em níveis elevados é crucial a intervenção com controle químico, conforme as restrições da legislação.Mesmo podendo diminuir o ritmo de crescimento da muda, as gramíneas invasoras contribuem na incorporação de matéria-orgânica, protegem o solo contra erosão, insolação e perda de umidade. Assim, recomenda-se apenas o controle mecânico, com ferramentas manuais ou grades, sendo realizados até o estabelecimento dos povoamentos.
Proteção Área:
Quando há risco de incêndio, recomenda-se a construção de aceiro e controle de gramíneas invasoras, para reduzir o material combustível.
Se a pecuária for a atividade circunvizinha, deve-se cercar a área para evitar o pisoteio das mudas, compactação do solo e formação de carreadores que favorecem a erosão. Corredores devem ser resguardados para o acesso dos animais às aguadas.
Plantio
A definição do espaçamento das mudas depende das condições da área, mais as mais utilizadas são: 1,5m X 3m, 2m X 3m e 3m X 2m (Ex.: 3m X 2m = 2m entre plantas e 3m entre linhas), plantação em nível.
Combinação de Grupos Ecológicos:
Em áreas de Preservação Permanente, a restauração dependerá de um plantio misto com o máximo de diversidade de espécies nativas possível, garantindo a recuperação da estrutura e dinâmica da floresta.
A combinação entre os grupos de espécies que fará parte da área a ser recuperada é muito importante no sentido de implementar a dinâmica de sucessão dos povoamentos. Podemos classificar as espécies em 4 tipos de grupos ecológicos, que combinadas entre si, compõem uma Mata Ciliar, sendo elas:
Pioneiras: caracterizam-se por apresentarem um crescimento muito rápido, não tolerantes a sombra, idade de reprodução prematura (1 a 5 anos), baixa dependência de polinizadores e tempo de vida muito curto, até 10 anos.
Secundárias Iniciais: possuem um crescimento rápido, intolerantes a sombra, se reproduzem a partir dos 5 anos, têm alta dependência de polinizadores e vivem entre 10 a 25 anos.
Secundárias Tardias: Seu crescimento é médio, tolerante a sombra no estágio juvenil, idade de reprodução a partir dos 10 anos, com alta dependência de polinizadores e com tempo de vida longo, cerca de 25 a 100 anos.
Climáxicas: apresentam crescimento bastante lento, são tolerantes a sombra, se reproduzem somente após os 20 anos, possuem alta dependência de polinizadores e seu tempo de vida é muito longo, aproximadamente maior que 100 anos.
Modelos de Combinação das espécies:
Modelo de Plantio ao Acaso: baseia-se no plantio sem uma ordem ou arranjo pré-determinado para as diferentes espécies no plantio, supondo que os propágulos das diferentes espécies caem, germinam e crescem ao acaso.Este modelo não dá importância às diferenças entre os grupos de espécies. Deste modo, o crescimento e desenvolvimento das plantas fica comprometido pela falta de condições adequadas de luz, demorando mais tempo para as copas se fecharem, necessitando maior tempo nos cuidados com de limpeza da vegetação invasora.
Modelo sucessional: neste modelo, as espécies são separadas em grupos ecológicos, onde as espécies iniciais da sucessão darão sombreamento adequado para as espécies dos estágios posteriores do reflorestamento. Desta forma, as espécies pioneiras dão condições de sombra mais cerrada às espécies climáxicas, enquanto as espécies secundárias iniciais fornecem sombreamento parcial às secundárias tardias.
Modelo de Plantio por Sementes: este método pode ser utilizado quando há grande disponibilidade de sementes e algum impedimento ao plantio de mudas, como dificuldade de acesso e inexistência de viveiros. É bastante utilizado em áreas montanhosas de difícil acesso e onde a intervenção no solo é bastante problemática.
Em áreas sem cobertura vegetal, inicia-se com a semeadura de espécies pioneiras e secundárias iniciais. A introdução de espécies não pioneiras (secundárias tardias e climáxicas) deverá ocorrer somente quando houver uma cobertura florestal, para evitar alta mortalidade pela falta de sombra.
Regeneração Natural: este processo depende da existência de banco de sementes ou plantânulas de espécies pioneiras e áreas com vegetação natural próximas. Estando presente o banco de sementes e uma área de fonte de sementes, não é necessário a introdução de espécies. Porém, em alguns casos, poderá ser necessária a intervenção e até mesmo a eliminação de espécies invasoras muito agressivas, que podem retardar ou impedir a sucessão natural.
Modelo com Espécies raras e comuns: em ecossistemas não perturbados, as espécies podem ser raras, intermediárias ou comuns. Em florestas tropicais a maioria é rara, sendo que 30% delas apresentam apenas 01 só indivíduo por hectare. Para a introdução de espécies raras é importante a obtenção das informações sobre a floresta primária, pois assim como as espécies comuns, as raras também devem seguir sua densidade natural.
Restauração em Ilhas: estudos mostram que pequenos fragmentos florestais podem atrair a fauna dispersora de sementes, contribuindo para acelerar a sucessão ao seu redor. Desta forma, a implantação de “ilhas”, ou seja, o plantio em áreas restritas, é uma maneira de baratear as atividades de restauração.
Métodos para implantação de ilhas:
Plantio de espécies pioneiras e não pioneiras em ilhas. Tem menor custo, porém a expansão da ilha será mais lenta na ocupação das áreas não plantadas. Plantio de espécies não pioneiras em ilhas e pioneiras em área total. Com um custo um pouco mais elevado, apresenta uma expansão mais rápida nas ilhas.
Distribuição de Plantio:
A forma como as espécies selecionadas vão ficar posicionadas, uma em relação a outra, pode ser aleatória ou seguir critérios baseados em estudos florísticos e fitossociológicos, em ambos os casos é fundamental avaliar as condições climáticas e biológicas que interferrem diretamente com o crescimento e desenvolvimento das plantas. Têm se observado as seguintes formas de distribuição: Distribuição aleatória, em blocos homogêneos ou mistos, em quincôncio ou ainda em linhas.
Manutenção
Somente a manutenção e proteção das matas, após o início da fase de
recuperação, darão condições para que a natureza se encarregue de dar
continuidade ao processo. Por ser onerosa, a manutenção deverá ser feita apenas quando realmente for necessário, resumindo-se a capinas, controle de formigas cortadeiras, adubação em cobertura, reparo de cercas e reforma em aceiros.
Marcus Cazarré – Consultor e pesquisador – Com. Ind. Uniquímica e Maria Helena Sierpinski
OLIVEIRA-FILHO, A. T.. Estudos ecológicos da vegetação como subsídios para programas de revegetação com espécies nativas: uma proposta metodológica.
Lavras – MG, Rev. Cerne 1994, 1(1): 64 a 72.
SEITZ, R. A.. A regeneração natural na recuperação de áreas degradadas. II Simpósio Nacional de Áreas Degradadas. Curitiba-PR, 1994 painel 2/103 a 110.
Artigo importantíssimo, adorei. É exatamente o que eu precisa para complementar meu estudo e recuperar a mata ciliar na propriedade do meu Pai, onde todo o entorno é de Mata Atlântica, que precisa ser preservada.
Obrigada.
Angelita