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São Paulo: Contaminação de áreas cresce 25% em um ano e bate recorde

SP tem 2.272 terrenos poluídos, segundo a Cetesb; postos de gasolina são principais vilões – O solo de grandes parcelas de São Paulo virou um poço de substâncias químicas nocivas à saúde e ao meio ambiente. A lista de áreas contaminadas por infiltração de produtos químicos no Estado cresceu 25% em um ano e bateu recorde: são 2.272 localidades, em 2007, ante 1.822, em 2006. O índice é nove vezes maior do que há cinco anos, quando a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) divulgou os primeiros dados, com 255 áreas. Os vilões da contaminação são postos de gasolina (77%), indústria (14%) e comércio (5%). Por Marcela Spinosa, do O Estado de S.Paulo, 15/06/2008.

O crescimento é expressivo, mas ainda não dá a dimensão do problema. “O número ainda vai evoluir bastante, por causa do aumento da fiscalização”, diz o gerente de Planejamento de Ações Especiais da Cetesb, Elton Gloeden. “Para as pessoas é muito importante a identificação dessas áreas, para evitar que ocorram ocupações em locais com o solo contaminado. Não sabendo disso, ocupa-se o lugar e pode-se ficar exposto.”

No ranking das localidades com maior número de áreas tóxicas, a capital aparece em segundo lugar, com 743 dos 2.272 pontos. Ela só perde para o interior, com 786. Para a Cetesb, a descoberta de novas áreas é resultado do aumento na fiscalização e do aperto nas regras de licenciamento ambiental para postos de gasolina, indústrias, empresas de tratamento e descarte de resíduos, além do crescimento no atendimento de emergências químicas. Por isso, cada vez que um relatório do órgão é divulgado, os números aumentam.

Os postos de gasolina são os maiores responsáveis por esse crescimento. O mau armazenamento do combustível causou danos ambientais em 621 das 743 áreas listadas pela Cetesb na capital. No Estado, contaminaram 1.745 dos 2.272 terrenos. Foi com a aplicação da Resolução 273/2000 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que fornece licença ambiental para postos, os obriga a fazer um estudo do subsolo e do lençol freático para descobrir se a atividade trouxe prejuízos, que se conheceu a situação crítica das áreas ocupadas por eles.

DESRESPEITO

A falta de conhecimento de procedimentos seguros de manejo de substâncias perigosas e o desrespeito a essas normas são a origem do problema, segundo a Cetesb. Outro motivo são acidentes ou vazamentos na produção, no armazenamento e no transporte dos produtos. Com isso, substâncias tóxicas e inflamáveis, como solvente, combustível, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs) e metais vazam, ultrapassam os limites do imóvel, encharcam o subsolo e se misturam aos lençóis freáticos. O PAH, por exemplo, é um produto potencialmente cancerígeno. “A água subterrânea abastece os rios. Em um lugar distante, alguém pode fazer um poço achando que a água está limpa e, na verdade, pode estar contaminada”, explica o professor do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) José Luiz Negrão Mucci.

A fórmula explosiva encontrada no solo causa problemas a saúde humana, animal e ambiental. E também rende danos ao patrimônio, como a desvalorização da propriedade. Só na capital, a Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Solo Contaminado (Vigisolo) do governo federal mapeou, até 2005, 157 locais com população vivendo em áreas com solo contaminado. O número é o maior do País, que tem pelo menos 15.237áreas nessa situação. “A discrepância com relação a São Paulo existe porque a Cetesb faz um levantamento específico para identificar áreas contaminadas. Outro motivo é que a descoberta das áreas realizada em parceria com municípios está sendo aprimorada”, explica o diretor da Vigisolo, Guilherme Franco Netto.

Tornar o solo “sadio” novamente é, segundo Netto, um procedimento caro e demorado. O índice de remediação, como é chamada a limpeza da área contaminada realizado pela Cetesb, demonstra a dificuldade. Das 884 áreas com medidas de descontaminação adotadas, apenas 94 foram concluídas. Existem ainda outras 146 áreas com proposta de limpeza e 1.148 sem estudo de remediação. O proprietário do terreno é o responsável pela “limpeza”.

A Cetesb estabeleceu um prazo de até cinco anos para esse trabalho. “No processo de remediação pode ficar uma pequena amostra da substância, mas ela não causará danos a saúde e ao meio ambiente”, diz o gerente da Cetesb.