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Trabalho infantil nas ruas leva à inversão de papéis, diz pesquisador

Na maior parte dos casos, a rua é uma “alternativa” de geração de renda para famílias de crianças e adolescentes que fazem parte dos “quadros de pobreza, miserabilidade e baixa escolarização”. A conclusão é de um estudo que mapeia as ações desenvolvidas na Baixada Fluminense voltadas a crianças e adolescentes e que foi ontem (12), no Rio de Janeiro, marcando o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Infantil. Por Thais Leitão, da Agência Brasil.

A Baixada Fluminense, segundo dados do Censo Demográfico de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), faz parte da região metropolitana do Rio de Janeiro, que concentra 75% da população do estado (10,9 milhões de pessoas). Cerca de 18% desse total (1,9 milhão) vive abaixo da linha da pobreza, o que segundo o documento caracteriza “elevada vulnerabilidade social”.

Segundo o coordenador do Projeto Circo Baixada, José Cândido, responsável pela realização da pesquisa, o trabalho infantil nas ruas leva a uma inversão de papéis. “Elas [as crianças] saem às ruas para gerar renda para a própria família e acaba ocorrendo uma inversão de papéis. Crianças e adolescentes vão trabalhar enquanto os pais ficam em casa”, destacou.

Foi o que aconteceu com o auxiliar de serviços gerais Paulo Márcio de Oliveira, que começou a trabalhar nas ruas aos 10 anos de idade. “Meu pai estava preso e a minha mãe tinha que sustentar eu e mais cinco irmãos, não dava. Por isso comecei a vender amendoim pelas ruas do Rio, mas como ganhava muito pouco comecei a roubar e acabei preso. Só consegui mudar de vida quando comecei a participar de um projeto social de uma igreja evangélica”, contou.

O coordenador do Projeto Circo Baixada explica ainda que geralmente as crianças começam vendendo e pedindo em locais próximos às suas residências, depois migram para os centros urbanos mais próximos e até para o centro da capital, afastando-se de casa, desvinculando-se da família e aproximando-se das drogas e da prática de furtos.

O estudo aponta também que a exploração sexual é um problema recorrente vivido por essas crianças e adolescentes. “É uma condição gravíssima porque, além de configurar um crime, impede o desenvolvimento integral das vítimas, podendo causar traumas irreversíveis”, afirmou.

Para desenvolver a pesquisa, foram entrevistados, entre agosto de 2007 e janeiro de 2008, representantes de 54 instituições que atuam em oito municípios da Baixada Fluminense na promoção dos direitos da criança e do adolescente. Entre eles, Conselheiros de Direitos, Conselheiros Tutelares e representantes de organizações não-governamentais