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Os novos reatores nucleares não são seguros, constata Prêmio Nobel

“É sempre o velho problema da transparência que conhecemos nos tempos de Chernobyl. Na França dizem “afogar o peixe”, ou seja, confundir as águas. Três horas de atraso para indicar às autoridades internacionais a avaria nas centrais eslovenas são demasiadas, decididamente demasiadas”. De seu observatório suíço, Carlo Rubbia segue com certa preocupação os eventos que levaram ao bloco da central nuclear de Krsko, na Eslovênia. O Prêmio Nobel italiano comenta, em entrevista publicada pelo jornal La Repubblica, 06-06-2008, os problemas causados por problemas na central nuclear eslovena. No momento em que no Brasil, volta a discussão sobre a implantação de várias centrais nucleares, a entrevista é oportuna.

Eis a entrevista.

Pensa que aquelas três horas de atraso teriam podido desencadear problemas mais graves?

Digo que ainda não sabemos com certeza o que aconteceu, que os técnicos estão procurando entender o que não funcionou, o que produziu o mau funcionamento.

Um problema que, em todo o caso, não parece ter sido particularmente grave.

Não foi particularmente grave, mas tratou-se da enésima campainha de alarme. Estamos diante de uma tecnologia que já é velha e está se tornando obsoleta.

Hoje, todavia, os reatores de terceira geração, que seguiram o primeiro e estão em construção na Finlândia, são apresentados como o que há de novo.

Sinceramente, não vejo uma grande diferença entre os reatores de segunda geração. As melhorias são marginais, não atingem o coração do problema.

Ou seja, a segurança?

Não só a segurança. Os pontos críticos dizem respeito às escórias, ao aprovisionamento do urânio, à eficiência das máquinas, à proliferação nuclear. Com a terceira geração, aquela que se poderia construir hoje, todos estes fatores, que até agora constituíram um freio potente ao desenvolvimento da tecnologia nuclear, continuam em campo. Estamos falando de uma tecnologia que remonta aos anos setenta, aos tempos dos primeiros submarinos nucleares. Será que realmente queremos mantê-la em funcionamento até 2050, quando teremos quase um século de história nas costas?

No entanto, é precisamente este o projeto lançado na Itália: iniciar hoje a construção de instalações nucleares que, na melhor das hipóteses, se ninguém se opuser e tudo correr liso, estarão prontos em torno de 2020.

O que quer que eu diga?…Eu só posso dar-lhe um juízo científico. Caso se queira verdadeiramente dar um salto para frente, caso se queira acessar a estrada de uma energia eficiente e de baixo impacto ambiental, é preciso ter a coragem de apostar na pesquisa, é preciso visar a quarta geração. Esta sim, trará vantagens reais e significativas.

Tentemos descrevê-la.

Quando se fala de quarta geração, não se fala de um modelo único, mas de uma família de reatores, entre os quais aquele de tório, sobre o qual trabalhei por dez anos, os quais têm em comum altíssimas vantagens. Acima de tudo, eficiência: um reator de terceira geração necessita de 200 toneladas ao ano de urânio, um recurso antes limitado, enquanto a um reator de quarta geração basta uma tonelada ao ano de tório.

E quanto ao lixo nuclear?

A segurança dá um salto em todos os níveis, também no que diz respeito ao lixo nuclear. Passa-se de uma radioatividade que dura milhões de anos a um problema que se mensura no espaço de séculos.

De um horizonte geológico a um horizonte humano.

Exatamente. Além disso, resolve-se também de maneira radical a ameaça da proliferação atômica que representa hoje uma preocupação crescente e que, com eventuais reatores com plutônio, tornar-se-ia ainda mais alarmante. Com o tório, ao invés, é tudo muito mais simples, pela ótima razão que com este material não se constroem bombas.

Admite que um novo alarme impelirá a que se reconsidere a opção nuclear?

Penso que devemos enfrentar um grande desafio e não podemos permitir-nos errar: o risco é demasiado alto. Temos diante de nós cenários marcados por níveis de poluição assustadores e de formidável pressão climática que corre o risco de ter conseqüências devastadoras. E, para escapar a esta dupla ameaça há somente uma possibilidade: apostar na ciência. Não podemos contentar-nos com soluções velhas e perigosas: devemos investir recursos e inteligência na construção de um sistema energético que seja ao mesmo tempo eficiente e seguro.

(www.ecodebate.com.br) publicada pelo IHU On-line, 10/06/2008 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]