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Amazônia derruba 274 bosques por dia. Prejuízo gerado pelo desmatamento torna inócuas ações do poder público

A Amazônia perdeu 11 mil km2 de floresta no ano passado, o que equivale a dez vezes a Região Metropolitana de Belém, que reúne a capital e mais Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Bárbara. A três meses do anúncio de novos dados sobre o desmatamento, a projeção é de que em 2008 o prejuízo seja de 15 mil km2 de floresta no chão. É o mesmo que derrubar 100 mil áreas como o Bosque Rodrigues Alves, ou seja, 274 bosques por dia, onze por hora. Se o ponto de referência for a Praça Batista Campos, que tem dois hectares de extensão – um pouco mais que um campo de futebol -, então são derrubados por dia cerca de 41 mil praças, 171 por hora, três a cada minuto, uma praça a cada 20 segundos. Por Esperança Bessa, da Redação, O Liberal – PA, Edição de 08/06/2008.

O cenário se mostra ainda mais grave quando se pensa que, a cada árvore derrubada, morrem juntas milhares de outras espécimes de fauna e flora que dependiam do ecossistema mantido por essa cobertura vegetal para sobreviver. Na semana em que se celebra o Dia do Mundial do Meio Ambiente, há que se questionar se é possível fazer algo diante dessa realidade ou se só nos resta rezar, como sugeriu o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

Segundo Adalberto Veríssimo, pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), são retirados da Amazônia cerca de 24 milhões de metros cúbicos de toras por ano. Se essas toras fossem enfileiradas, resultariam em cerca de 10 mil quilômetros, o suficiente para cruzar duas vezes o Brasil, saindo de Belém até Porto Alegre. ‘Falta Brasil para fazer essa linha reta, então dá para ir por uma pista e voltar pela outra, ou se quiser dá para chegar até Montevidéu’, diz o pesquisador, com o melhor bom humor possível diante de um quadro tão pessimista.

As projeções nada positivas mostram que o país está fazendo um caminho diferente do que vinha estabelecendo antes. ‘Os índices de desmatamento vinham em queda e agora estão subindo. Um dos motivos é a dificuldade de impor leis na Amazônia. Mesmo quando o Governo Federal tem medidas repressivas positivas, não vemos resultados na prática. O governo não passou no teste das novas medidas, já que no primeiro quadrimestre de 2008 vimos o desmatamento aumentar 42% em relação ao mesmo período do ano passado. Significa que o governo está apertando, mas não há capacidade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Quando aperta em Tailândia, por exemplo, afrouxa em outro lugar, a não ser que todas as Forças Armadas do Brasil fossem para a Amazônia’, lamenta. ‘Essas ações têm um efeito psicológico importante, mas pouco impacto na realidade total do desmatamento. Quando a polícia vai embora, o problema continua.’

A geografia complexa da região é, segundo o pesquisador, a favor dos que cometem crimes ambientais, assim como a falta de infra-estrutura necessária para as punições. Multas aplicadas não são executadas, e o próprio madeireiro enquadrado em crime ambiental é o responsável por cuidar das toras apreendidas, por falta de melhor alternativa. ‘Se metade dos cerca de 24 milhões de metros cúbicos de madeira retirados todos os anos da Amazônia é ilegal, onde o governo vai abrigar tudo isso? Não há depósito que chegue. Só em Tailândia foram apreendidos 30 mil metros cúbicos de toras, mais ou menos 0,2% desse total, e todos viram a dificuldade do governo em retirar essa madeira de lá’, detalha.

Para Adalberto Veríssimo, se a repressão não reduz o desmatamento, só uma iniciativa que mexa com o bolso de quem atua na ilegalidade pode surtir efeito, como a nova proposta que entra em vigor em julho, pela qual o Conselho Monetário Internacional condiciona o crédito fornecido por qualquer banco à regularização ambiental. ‘Pela reação do setor ruralista, essa medida é forte e estrutural, uma das mais importantes dos últimos tempos’, comemora o pesquisador, frisando que, mais do que uma caça às bruxas, a medida objetiva incluir todos no sistema. ‘É uma medida dura, mas não draconiana. Para conseguir crédito, as empresas terão que ir no órgão ambiental, provar a regularização, e se comprometer a recuperar o seu passivo ambiental’.

Nesse aspecto, o pesquisador acha difícil que seja aprovado o projeto de autoria do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), que reduz de 80% para 50% a área de preservação dentro de uma propriedade rural. ‘A origem da proposta não era ruim, mas virou uma anistia para desmatadores. Não há ambiente político nacional e nem mundial para isso. Generalizar a área de preservação a 50% é uma temeridade. O importante é avançar no zoneamento, que prevê uma flexibilização. Quando se pensa em municípios como Redenção, a diminuição é possível, mas não faz sentido em municípios como Monte Alegre e Trairão. A proposta não é para tirar mais floresta, e sim recompor onde ela já foi tirada com espécies de maior valor econômico. Caso contrário, seria o suicídio do planeta’, analisa.