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Crise alimentar pode levar 100 milhões à pobreza

WASHINGTON – A crise provocada pelo aumento do preço dos alimentos ameaça os habitantes do Haiti e de Honduras, na América Latina, além dos moradores de países da África e de outras regiões do mundo, disse na terça-feira o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. Da Agência Reuters.

O fenômeno pode empurrar 100 milhões de pessoas para a pobreza, 30 milhões delas apenas no continente africano, afirmou o dirigente do organismo multilateral.

Em meio à crise, o banco identificou os 20 países mais vulneráveis e que demandam uma ação imediata.

“Os perigos se estendem para além da África, abarcando: o Haiti, o Tadjiquistão, Bangladesh, Honduras, o Afeganistão, o Quirguistão, o Iêmen e outros”, afirmou Zoellick em um discurso proferido durante a atual cúpula realizada em Roma para debater a crise mundial dos alimentos.

A autoridade reconheceu que os preços continuarão em patamares altos, mencionando a relação existente entre os altos custos do petróleo e da comida, e apresentou três pontos de ação.

O primeiro é atender a esses 20 países mais afetados distribuindo alimentos nas escolas, realizando programas para atender a mães e seus filhos e implementando esquemas de transferência condicionada de dinheiro.

O segundo consiste em distribuir rapidamente sementes e fertilizantes para os pequenos agricultores dos países em desenvolvimento a fim de que possam expandir sua produção na próxima colheita.

E o terceiro ponto seria eliminar as barreiras e restrições internacionais às exportações, algo que aumenta os preços e prejudica as camadas mais pobres da população de várias partes do mundo.

Especialistas afirmaram que a disparada recente dos preços dos alimentos ocorreu devido a uma combinação de vários fatores, entre os quais safras ruins, estoques baixos, custo elevado dos combustíveis e uma maior demanda por alimentos na Índia e na China.

O fenômeno ameaça provocar uma onda de fome e desestabilizar governos, como ocorreu no Haiti, onde manifestações de rua levaram à deposição do primeiro-ministro do país.

A fim de dobrar a produção mundial de alimentos dentro de 30 anos, os governos deveriam incentivar a produtividade e as pesquisas no setor agrícola, além de fornecer ferramentas aos pequenos agricultores para que administrem melhor os riscos. Sugeriu-se também que sejam criados estoques “humanitários” de comida em escala global.

Por fim, deveriam ser cortados os subsídios e os incentivos à produção de biocombustíveis a partir de milho e sementes oleaginosas, ser incentivada a pesquisa com a segunda geração de combustíveis celulósicos e abrirem-se os mercados aos combustíveis feitos com açúcar, que não competem diretamente com os alimentos, como é o caso do etanol produzido no Brasil, disse Zoellick.

De sua parte, o banco pretende aumentar de 4 bilhões para 6 bilhões de dólares os investimentos em projetos de agricultura neste ano, além de criar uma linha de emergência de 1,2 bilhão de dólares, incluindo a doação de 200 milhões de dólares para os países mais vulneráveis.

Reportagem de Adriana Garcia, da Agência Reuters, publicada pelo Estadao.com.br, terça-feira, 3 de junho de 2008, 16:40