País corre o risco de ter prejuízo econômico com saída de Marina, afirmam ambientalistas
Europa pode boicotar produtos brasileiros – Ambientalistas europeus afirmaram ontem que a saída de Marina Silva do comando do Ministério do Meio Ambiente pode ter conseqüências desastrosas não só para o meio ambiente, mas também para a economia do Brasil. O ecologista Reinhard Behrend, da ONG alemã Salve a Floresta, afirmou ontem que o Brasil poderá perder seu “selo ecológico”. Já Monica Frassoni, co-presidente dos verdes no Parlamento europeu, afirmou que a renúncia da ministra pode ser vista como um “sinal de alerta” da “política ecológica desastrosa” do governo Lula. Por Roberta Jansen e Graça Magalhães-Ruether, do O Globo, 16/05/2008.
ONGs ligam saída de Marina a pressão de devastadores. Sem o “selo de qualidade Marina Silva” — um aval de que os produtos agrícolas vendidos para o exterior não são fruto da devastação da floresta —, o país pode perder em importações, sobretudo para países europeus preocupados com o aquecimento global. O tom foi dado pela própria chanceler alemã, Angela Merkel, anteontem, em sua passagem pelo Brasil para negociar acordos sobre o etanol.
— As perguntas que ela fez ao Lula são as perguntas que todo europeu fará: tem trabalho escravo envolvido? Destruiu a floresta? Se a resposta for sim, eles não querem — resumiu Sérgio Leitão, diretor de Políticas Públicas do Greenpeace no Brasil. — E a presença da Marina era, de certa forma, a garantia de que isso não ocorria, de que o governo estava combatendo quem fazia agricultura dessa forma.
Para Leitão, o pedido de renúncia de Marina está diretamente relacionado às pressões que ela vinha sofrendo do Ministério da Agricultura, com o objetivo de flexibilizar a regra que restringe o crédito agrícola para quem desmatou sem licença ambiental.
Em um comunicado, a ONG alemã Salve a Floresta também associou a saída de Marina às mudanças do “código florestal” que vêm sendo reivindicadas há três anos pela agroindústria e que, segundo ela, vão permitir o desmatamento da Amazônia em “grande estilo”.
Acordos sobre etanol podem ser prejudicados Os ecologistas europeus descartam a possibilidade de o novo ministro, Carlos Minc, executar a mesma política conseqüente de Marina. Para Andre Ginczek, da ONG Direitos Humanos contra a Fome, os produtos brasileiros perderão a “credibilidade ecológica” com a mudança.
Leitão acha difícil que Minc tenha a mesma credibilidade internacional alcançada por Marina.
Para ele, está nas mãos de Lula mostrar que sua política de desenvolvimento não vê o meio ambiente como um entrave: — Caso contrário, ele estará dando um sinal verde para as forças de destruição da floresta e o Brasil vai perder muito economicamente.
Segundo ambientalistas, os acordos para a produção de etanol (como o assinado com a Alemanha) podem ser o primeiros prejudicados.
— Os europeus querem biocombustível, mas não à custa de uma floresta que eles sabem ser fundamental para combater as mudanças climáticas — disse Leitão.
Os ecologistas alemães já protestaram contra o novo acordo na área de biocombustíveis entre os dois países. Segundo Behrend, a produção em massa de biocombustíveis no Brasil danifica o meio ambiente pelo uso de áreas florestais para a plantação de cana-de-açúcar e soja.