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Terras degradadas, um problema global

A ciência desenvolveu sementes aperfeiçoadas para alimentar o mundo, por meio das técnicas tradicionais de melhoramento genético e dos avanços da biotecnologia. O problema, agora, é a terra que recebe essas sementes. Matéria da Associated Press, de Washington, publicada pelo Valor Econômico, 12/05/2008.

À medida que as sementes melhoraram, grande parte do solo mundial piorou. E cientistas sustentam que, se o mundo conseguir superar a atual crise provocada pelo aumento dos alimentos, maximizada por fatores financeiros, a solução estrutural de longo prazo estará em uma terra melhor.

Os solos por todo o mundo estão em deterioração, com quase 20% da terra cultivada considerada degradada de alguma forma. Em áreas como essas, a baixa qualidade reduziu a produção em 15%, segundo o World Resources Institute, e alguns especialistas avaliam o fato como um desastre que se aproxima em câmera lenta.

Na África Subsaariana, cerca de 2,6 milhões de quilômetros quadrados de terra cultivada mostram “declínio consistente significativo”, diz um informe de março de 2008 elaborado por um consórcio mundial de instituições agrícolas.

O motivo da atual crise global de alimentos é, em grande parte, decorrente das forças do mercado, especulação e déficit de armazenagem, segundo especialistas. Mas, além da economia, há secas e enchentes, doenças de plantas e, com freqüência, o solo empobrecido.

Há uma geração, graças a tipos melhores de plantas, a produção de alimentos mundial explodiu, a partir das técnicas da “revolução verde”. Algumas pessoas pensavam que o problema de alimentação estava resolvido. Contudo, desenvolver essas novas “sementes mágicas” era a parte fácil. Faltava o elemento crucial: o solo fértil.

“Nem mesmo as melhores sementes podem fazer algo em areia e cascalho”, diz Hans Herren, vencedor do Prêmio Global da Alimentação. Herren é co-presidente do International Assessment of Agricultural Knowledge, Science and Technology for Development, um grupo variado de cientistas patrocinado pela ONU e Banco Mundial. Ele preparou um estudo de 2,5 mil páginas que, entre as recomendações, enfatiza a necessidade de se melhorar o solo mundial.

As melhorias genéticas no milho possibilitam produzir pouco mais de quatro toneladas por acre na África. Ainda assim, os agricultores pobres conseguem apenas 230 quilos por acre “porque, ao longo dos anos, seu solo tornou-se estéril e eles não têm condições de arcar com a compra de fertilizantes”, observa Roger Leakey, co-autor do estudo internacional.

Na África, agricultores são obrigados a usar práticas que roubam nutrientes do solo, em vez de agregá-los, diz Herren. Os fertilizantes são a solução de curto prazo, mas nem isso está sendo feito, sustenta.

A atual crise poderia ter sido evitada “se tivéssemos promovido os fertilizantes na África, que há eras sabemos que funcionam”, disse Pedro Sanchez, diretor de agricultura tropical na Columbia University.

Nesse sentido, o problema com o solo é um exemplo perfeito de um grande fracasso das ciências agrícolas, afirmou Sanchez. “Os cientistas sabem como alimentar o mundo hoje, mas isso não está ocorrendo. É frustrante, sobretudo quando se vê crianças morrendo”.

Há histórias de sucesso, diz Sanchez, apontando para o pequeno país africano de Malawi. Há três anos, o novo presidente do país investiu 8% do orçamento nacional num programa de subsídios de fertilizantes e sementes aperfeiçoadas para pequenos agricultores. Cada um recebe duas sacas de fertilizantes e quase dois quilos de sementes por menos da metade do custo. Antes de o programa ser iniciado, cerca de 30% recebia remessas de alimentos e o país não produzia o suficiente para o consumo local. Em 2005, produziu 1,2 milhão de toneladas de milho. No ano seguinte, mais do que dobrou o número. Em 2007 e 2008, a produção chegou, respectivamente, a 3,4 milhões e 3,3 milhões de toneladas. Hoje, Malawi exporta milho.

“Se Malawi pode fazê-lo, países mais ricos como Nigéria e Quênia também o podem”, disse Sanchez.