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Praga ameaça manguezal da Baía de Guanabara. Biólogo estima que lagarta já afetou 30% da área

Uma silenciosa praga ameaça os fragmentos de manguezal restantes na Baía de Guanabara entre os rios São João de Meriti e Estrela. O inimigo da vez é uma pequena lagarta, capaz de causar estrago tão grande quanto o de um vazamento de óleo: a morte do ecossistema. Por Tulio Brandão, do O Globo, 09/05/2008.

O biólogo Mário Moscatelli, que identificou o problema num sobrevôo recente na região, estima que cerca de 30% daquele mangue já foi impactado pela praga. Para identificar o animal causador do dano, ele vai enviar amostras hoje ao Instituto Jardim Botânico. A praga ataca principalmente a espécie mangue-negro.

Moscatelli vai investigar também, com o apoio da Secretaria estadual do Ambiente, as possíveis causas para a proliferação da lagarta. Para o biólogo, uma hipótese é o desequilíbrio causado na região pela presença de diversos lixões clandestinos, além do Aterro de Gramacho.

— As borboletas e mariposas que atacam o mangue têm oscilações populacionais, costumam aparecer periodicamente ou esporadicamente.

Mas, desde que comecei a trabalhar com manguezais, jamais tinha visto um estrago dessa magnitude. O mangue perde folhas, resseca, amarela e morre. Esse desequilíbrio pode estar ligado ao impacto provocado pelo homem naquela região, como por exemplo o problema grave dos lixões clandestinos e os dois rios perto do manguezal, que lançam um incalculável volume de resíduos no local.

Ecossistema é o mais resistente aos impactos Para o biólogo, o manguezal só resistiu até hoje porque é o ecossistema que mais suporta condições adversas.

— É o que melhor responde à porrada que é o impacto do homem ali. Agora, com os anos de contaminação, as plantas podem estar perdendo resistência aos ataques de pragas — disse ele.

O geógrafo Elmo Amador, autor do livro “Baía de Guanabara e ecossistemas periféricos: o homem e a natureza”, confirma a ameaça: — Não há nenhuma dúvida de que se trata de um grave problema ecológico, afetando os manguezais da região do litoral de Duque de Caxias, perto do Aterro de Gramacho. Pelas imagens, a região parece ter passado pela ação de um desfolhante químico.

Para Amador, a praga pode estar associada aos efeitos no meio ambiente causados pelas indústrias da região: — Deve estar associada a um desequilíbrio ecológico produzido pelas emissões e pelos resíduos do complexo da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), que é vizinha ao manguezal.

Seria importante uma análise detalhada dos impactos e das fontes possíveis a ser feita pelo estado e por centros de pesquisa de universidades.

Minc promete combater os lixões da região As imagens da devastação já foram recebidas pelo secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc. Antes mesmo dos resultados dos estudos que podem apontar a origem da praga, ele promete combater os problemas ambientais da região: — Aquela região tem pelo menos dez lixões clandestinos há mais de uma década. Ainda não sabemos se esse desequilíbrio tem relação com o lixo, mas vamos realizar com a Cicca (Coordenadoria Integrada de Combate aos Crimes Ambientais) diversas ações de combate a esses lixões.

Além disso, está em fase de licenciamento na secretaria um projeto de recuperação ambiental e uso dos gases retidos no solo do aterro de Jardim Gramacho.

Os manguezais remanescentes são considerados vitais para a sobrevivência da baía. Segundo Amador, servem como habitat para reprodução de peixes, nidificação de aves e agem como obstáculo para os sedimentos que descem dos rios da Baixa Fluminense, impedindo assim o assoreamento da baía.

— Mesmo os mais degradados exercem essas funções.

São fundamentais para a sobrevivência da baía.