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Notícia

Recife tem três vezes mais morte de negros

Em 2006, o total de óbitos de pretos e pardos com até 59 anos foi 200% maior que o de brancos, amarelos e indígenas no município

Crédito: Rádio das Nações Unidas/ Divulgação
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SARAH FERNANDES
da PrimaPagina, PNUD Brasil

O número de mortes de pretos e pardos com idade até 59 anos no Recife foi mais do que o triplo do total de óbitos registrados entre brancos, índios e amarelos no ano de 2006. A informação está no Quadro Epidemiológico de Mortalidade por Raça/Cor no Recife, levantamento sobre índices de mortalidade focado na questão racial. O estudo, promovido pela secretaria de saúde do município, indica 3.174 mortes de negros contra 929 de não-negros nessa faixa etária.

A morte de negros representa 77,4% dos óbitos, proporção maior do que os 53,22% da população que se autodenominaram de cor preta ou parda no Censo de 2000. Os números foram extraídos das declarações de óbito que traziam o quesito raça/cor preenchido (97,8% do total).

Em relação às crianças com idade até nove anos, foram registradas 310 mortes de negros contra 111 de não-negros, quase o triplo. A maior diferença, no entanto, ficou com os adolescentes entre 10 e 19 anos: foram 278 óbitos de negros para 32 de não-negros (mais de oito vezes). Já entre os adultos, os dados apontam 1.118 mortes de negros para 170 de não-negros (mais de seis vezes) no grupo de pessoas entre 20 e 39 anos e 1.468 óbitos de negros contra 616 de não-negros para a população entre 40 e 59 anos. No grupo dos idosos, com 60 anos ou mais, o quadro se inverte: foram 2.833 mortes de negros para 2.860 de não-negros, em 2006.

“Somente entre os idosos que essa proporção foi ligeiramente superior em não-negros. Ou seja: os negros morrem mais cedo que os não-negros. Salienta-se a ocorrência em adolescentes e adultos jovens de 8,7 e 6,6 óbitos em negros para 1 óbito em não-negro, respectivamente”, afirma o estudo.

“A faixa etária mais vulnerável é a entre 10 e 19 anos. Uma das explicações é que eles compõem o grupo dos mais vulneráveis à violência”, avalia a coordenadora do levantamento, Sony Santos. Homicídio foi o fator que mais vitimou negros de Recife em 2006, atingindo 959 pessoas da etnia contra 59 não-negras. “A taxa de mortalidade por homicídio chegou a ser 18,7 vezes superior na raça/cor negra”, aponta a pesquisa.

Os óbitos causados por câncer de colo de útero, tuberculose e Aids também foram mais freqüentes na população negra do que na não-negra. Ao todo, 2,5 mulheres negras morreram vítimas de câncer de colo de útero para cada não-negra. Nos casos de Aids e tuberculose foram 3,3 e 3,2 óbitos em negros para um óbito não-negro, respectivamente, segundo o relatório. “São doenças mais comuns na população pobre, que tem mais dificuldade de acesso a informações e serviços”, diz Sony. “Esse quadro pode sugerir que haja racismo institucional no atendimento da saúde da população negra”, avalia.

Com a intenção de combater a discriminação nos serviços públicos a prefeitura de Recife aderiu ao PCRI (Programa de Combate ao Racismo Institucional), que é apoiado pelo PNUD. No setor de saúde o programa viabilizou a elaboração do levantamento sobre índices de mortalidade e natalidade segundo raça/cor, divulgado em novembro de 2007, e ofereceu três cursos para 300 servidores públicos para evitar discriminação no atendimento e para incluir o quesito raça/cor nos prontuários médicos.