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Biodiesel, o novo vilão brasileiro… artigo de Nelson Batista Tembra

[EcoDebate] Relator especial da Organização das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, em recente entrevista a uma emissora alemã, repetiu o que vêm dizendo outros críticos dos biocombustíveis, segundo os quais o uso de terras férteis para cultivos destinados a esta tecnologia “reduz as superfícies destinadas aos alimentos e contribui para o aumento dos preços dos mantimentos”. A declaração de Ziegler não mencionou quaisquer estatísticas sobre a produção agrícola brasileira, nem análise sobre tecnologia agrícola e número de trabalhadores no campo, o que seria coerente.

Após constantes denúncias de destruição da Amazônia, o Brasil e a própria região são alvo de nova campanha difamatória no exterior. Agora, o vilão é a produção dos biocombustíveis. Autoridades européias e o Banco Mundial têm patrocinado uma onda crescente injustificável contra os biocombustíveis brasileiros. Com a tecnologia que possui o Brasil logo se tornará auto-suficiente na produção dessa energia, o que, de fato, constitui ameaça aos interesses internacionais.

Jean Ziegler pecou ao generalizar, pois certas relações às culturas anuais não se aplicam às perenes. A implantação de sistemas agros florestais, como forma de aproveitamento das áreas de utilização econômica de propriedades, no Brasil e na Amazônia, bem como, a recomposição das partes suprimidas nas reservas florestais deveria ser mais estimulada nas áreas comprovadamente já alteradas dentro dos limites da zona de consolidação e expansão das atividades produtivas definidas pela Lei de Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado.

Exemplo perene e de grande porte, o dendezeiro, quando adulto, oferece perfeito recobrimento do solo, podendo ser considerado um sistema de aceitável estabilidade ecológica e baixos impactos negativos ao ambiente. É importante destacar: a produção inicia aos três anos após o plantio e é distribuída ao longo do ano, por mais de vinte e cinco anos consecutivos, sendo excelente atividade para a geração de empregos permanentes.

Segundo estatísticas da FAO, a produção mundial de óleo de dendê deverá superar, já no início deste século, a produção do óleo da soja, desde que apresente o mesmo nível de expansão da área plantada. Tal expansão será necessária para atender o crescimento da demanda mundial em óleos e corpos graxos, representada tanto pelo crescimento populacional, quanto pelo incremento no consumo de alguns países emergentes na economia mundial com efetivo populacional importante, como China, Índia e Paquistão. A Malásia produz 14.962.000 toneladas, a Indonésia 13.600.000 toneladas e o Brasil é o 11º, produzindo apenas 160.000 toneladas (dados de produção em 2005, Oil World Annual & Oil World Weekly; MPOB).

Além de ser o óleo vegetal mais importante do mundo como insumo da indústria alimentícia e oleoquímica, o dendê é também a matéria-prima mais competitiva para a fabricação de biodiesel, trazendo uma série de vantagens sócio-econômicas e ambientais. Segundo pesquisa, o custo de produção de biodiesel etil-ester a partir de óleo de soja ao preço de US$ 480,00/t é 17 a 27% maior que o diesel comum, a depender da região produtora, chegando a atingir o preço final entre R$ 1,72 a 1,76/litro em simulações de produção em uma fábrica de 400 t/dia. Tomando-se estas mesmas especificações em relação ao tamanho da unidade agro-industrial, o biodiesel produzido a partir do óleo de dendê ao preço de US$ 286.00/tonelada, giraria em torno de R$ 1,06/litro de biodiesel, altamente competitivo em relação ao preço do óleo diesel e do próprio biodiesel produzido a partir do óleo de soja e outros grãos.

Nelson Batista Tembra, Engenheiro Agrônomo e Consultor Ambiental, com 27 de experiência profissional, é colaborador e articulista do EcoDebate