Conflitos no Campo Brasil 2007: Explode o número de trabalhadores escravizados no setor sucroalcooleiro
Em 2007 os agrocombustíveis roubaram a cena. Foram apresentados como a grande alternativa ao aquecimento global. A expansão da área plantada com cana-de-açúcar veio acompanhada de inversões capitalistas em novas usinas sucroalcooleiras. Já são 363 em operação. O etanol se tornou o carro-chefe destes novos combustíveis e foi o centro da agenda do presidente da República em suas viagens internacionais. Lula chegou a guindar os usineiros à categoria de “heróis nacionais”. Mesmo contra todas as evidências, afirmou que a Amazônia não se prestava ao cultivo da cana. Esta atividade encontrou ardorosos defensores também no Congresso Nacional.
Os números, porém, mostram o lado amargo da cana-de-açúcar. 52% dos trabalhadores libertados pelo Grupo Móvel do Ministério do Trabalho de condição análoga à escravidão, o foram de usinas do setor sucroalcooleiro: 3.131 do total de 5.974. Outras formas de exploração dos trabalhadores e de desrespeito da legislação trabalhista também estão ligadas a esta atividade. Os casos de superexploração do trabalho no setor sucro-alcooleiro vem em segundo lugar, após os serviços gerais. Dos casos de desrespeito à legislação trabalhista que a CPT registrou, a imensa maioria está ligada ao setor da cana.
Trabalho escravo cresce no centro-sul do país
Os números do trabalho escravo cresceram. Passaram de 262 ocorrências em 2006, para 265, em 2007, e o número de pessoas envolvidas de 6.930, em 2006, para 8.635 em 2007. O número de trabalhadores libertados pela intervenção do Ministério do Trabalho passou de 3.633, para 5.974. O crescimento mais significativo destes números ocorreram no Centro-Oeste, Sudeste e Sul. No Centro-Oeste o número de ocorrências passou de 29 para 43 e o número de pessoas de 1.269 para 2.653. No Sudeste, o número de casos passou de oito para 14, e o número de pessoas envolvidas quase triplicou. Passou de 279 em 2006, para 705 em 2007. No Sul, o número de ocorrências não sofreu alteração, nove nos dois anos. Já o número de trabalhadores sujeitos à escravidão mais que dobrou, passou de 108 para 229. A região Nordeste manteve o mesmo número de ocorrências, 43, com diminuição do número de trabalhadores escravos. Já a região Norte, mesmo liderando os números de ocorrências e de trabalhadores escravizados, apresentou queda em ambos os números.
Entre os trabalhadores escravizados, superexplorados e desrespeitados, se encontram, em número muito significativo, os índios, sobretudo do Mato Grosso do Sul. Como bem diz Egon Heck, no texto Terra de Violência, “Para os povos indígenas, a chegada da cana tem um lado ainda mais perverso do que o de serem empurrados para a escravidão temporária. Iludidos, aliciados ou tangidos, os indígenas vêem na cana a oportunidade única de venda de sua força de trabalho. Ao plantarem a cana, cavam sua sepultura, ao colhê-la, amargam a redução de seus dias de vida”.
Sangue e suor no eito da cana
As condições a que os trabalhadores do corte da cana são submetidos, no dizer do texto Da Luta no Eito à Luta pelos Direitos lhes rouba os direitos e a dignidade. “Para os trabalhadores, o eito despe seu universo de representações e revela sua dimensão eminentemente orgânica, que sobrevive às exigências físicas do dia de trabalho. Este confinamento na dimensão do labor integra, em sentido mais amplo, a perda de referências sociais.” O trabalhador, sobretudo o migrante, sofre um processo de desenraizamento que leva “à negação do sujeito enquanto ser…o trabalhador também perde sua identidade de pessoa com direito a ter direitos”.
Se por um lado a situação dos trabalhadores da cana é cruel, por outro multiplicaram-se as manifestações de resistência e luta. Em 2007 houve um crescimento considerável das ações de resistência, representadas pelas 34 greves que aconteceram, metade delas em Goiás.
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