Biocombustíveis podem ajudar no combate à fome, diz FAO
Brasília e Washington, 15 de Abril de 2008 – A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) prevê que a produção de biocombustíveis pode ser um fator de risco para a segurança alimentar no curto prazo, mas acredita que o etanol e de biodiesel têm condições de se transformar em um aliado no combate à fome, desde que sejam acompanhados de políticas públicas eficientes que estimulem a agricultura familiar, aumentem a oferta de crédito e tenham uma estrutura de mercado que favoreça o comércio de alimentos sem amarras protecionistas. Matéria da Gazeta Mercantil, 15/04/2008.
“O problema da fome é de acesso aos alimentos”, disse o representante regional da FAO para a América Latina e o Caribe, José Graziano da Silva. Segundo ele, a elevação do preço dos alimentos é causado porque o consumo cresce acima da produção há três anos, o que reduziu os estoques. Além disso, houve aumento da demanda mundial por alimentos, puxado pela China e pela Índia. “Não é uma situação de alarme, mas os governos devem ficar atentos e proteger as populações mais carentes”, enfatizou o representante da FAO.
Segundo Graziano, a solução do problema não está na erradicação da produção de biocombustíveis e sim no aumento da produção e da produtividade de grãos. A produção mundial de grãos é de 2,1 bilhão de toneladas por ano o que seria suficiente para alimentar toda a população do planeta, mas 815 milhões de pessoas passam fome, lembrou o especialista.
Sobre a polêmica da produção de biocombustíves, um programa do govermo brasileiro que foi contestado por vários países latino-americanos no primeiro dia da XXX Conferência Regional da FAO que está ocorrendo em Brasília e por organismos multilaterias como o Banco Mundial (Bird) e o Fundo Monetário Internacional (FMI)no final de semana, Graziano avaliou que “não há verdades absolutas sobre os efeitos do biocombustível em relação à alimentação das populações mais carentes”, mas afirmou que é agora que os governos devem tomar as medidas adequadas para prevenir contra a falta de comida para os mais necessitados.
A previsão da FAO para a América Latina é que as Metas do Milênio da Nações Unidas de erradicar a fome e a pobreza extrema, previstas mundialmente para 2015, sejam alcançadas no subcontinente dentro do prazo para o problema da subnutrição infantil e em 2025 para toda a população.
Embora a subnutrição da América Latina tenha baixado de 59 milhões para 52 milhões de pessoas, que representam 10% da população, entre 1990 e 1994, ainda é um número muito alto na visão da FAO. Nesse ritmo, 40 milhões de pessoas ainda estarão subnutridas em 2015.O representante do governo brasileiro, embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho, defendeu a política bioenergética do país e disse que a causa da elevação do preço dos alimentos é a pobreza e a má distribuição de renda. E que são as atitudes de países ricos que erguem barreiras tarifárias e dão subsídios agrícolas que causam a fome no planeta, referindo-as às práticas protecionistas dos Estados Unidos e da União Européia.
Preocupação de Bush
O presidente norte-americano George W. Bush diz estar preocupado com a crise global de alimentos e pediu aos seus assistentes que procurem maneiras para que os Estados Unidos possam ajudar a aliviar o problema, disse a Casa Branca nesta segunda-feira.
Autoridades de finanças e desenvolvimento do mundo inteiro pediram no domingo ações urgentes para conter as altas nos preços de alimentos, alertando para o fato de que inquietações sociais podem se espalhar a não ser que o custo das mercadorias de demanda constante seja contido.
(Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 4)(Rivadavia Severo e Reuters)