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Garrafas PET: quanto menos, melhor, artigo de Marcelo Novaes

[EcoDebate] A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou na semana passada o uso do PET reciclado para a fabricação de novas embalagens de bebidas e alimentos, como já acontece em países como México, EUA e Austrália. A resolução não representa o fim do passivo ambiental causado por essas garrafas, mas pelo menos traz à tona uma discussão complexa: como acabar com as quase duzentas mil toneladas de PET despejadas anualmente nos lixões, rios e espaços públicos?

O caminho mais viável é, sem dúvida, apostar em reciclagem. Números da própria Anvisa mostram que 50% do PET produzido no Brasil foram reciclados em 2007, ou seja, outros 50% acabaram poluindo o meio ambiente. A resolução com certeza irá contribuir para o aumento da reciclagem e a diminuição do passivo, mas ainda está longe de ser uma solução definitiva para o problema.

A reciclagem no Brasil vem crescendo de maneira expressiva nos últimos anos. Em 2006, o volume de PET reciclado aumentou 11,6% em relação a 2005, segundo levantamento da terceira edição do Censo da Reciclagem de PET no Brasil, realizado pela Abipet. No entanto, a atividade ainda passa por um processo de profissionalização. É preciso investir em máquinas, tecnologia, novas formas de recolhimento do lixo, gestão das cooperativas de catadores e, principalmente, na divulgação da “cultura da reciclagem”, fazendo com que a sociedade civil também aprenda a separar os recicláveis. Não adianta apenas aprovar o uso de garrafas recicladas se não houver métodos eficientes para recolher o material e investimento contínuo por parte das empresas recicladoras em tecnologia e infra-estrutura.

A equação é simples: latas são menores, estão concentradas em eventos e lugares específicos e possuem maior valor agregado. Garrafas PET são mais baratas, possuem difícil transporte e armazenamento e são normalmente consumidas em domicílio. Portanto, é preciso que a população e o governo dividam com as empresas a responsabilidade de separar e reciclar o lixo. Para se ter uma idéia, 30% dos mais de 5 mil municípios brasileiros não contam com nenhum tipo de coleta e apenas cerca de 200 possuem um sistema de coleta seletiva, segundo dados da Abipet.

Também temos que considerar que mesmo que haja uma coleta seletiva, uma garrafa PET não é composta apenas de resina PET. Ela tem também tampa feita de polipropileno, que precisa ser separada, tem rótulo que contém metais pesados nas suas tintas, tem cola que precisa ser retirada com solventes e sua lavagem utiliza muita água, pois precisa estar muito limpa para ser reutilizada. Sendo assim o balanço ambiental da reciclagem do PET é muito negativo.

Outro ponto importante é que com todos estes custos, o valor da resina virgem se torna muito menor do que o do PET reciclado para produção de novas embalagens. Nos últimos 10, anos apesar da quantidade de PET reciclado ter aumentado, o percentual de reciclagem em relação ao volume total do PET produzido se manteve estável, pois a produção e o envase também aumentaram. Com a liberação da reciclagem para produção de novas embalagens de alimentos e bebidas, isto tende a aumentar mas ainda num ritmo incipiente, pois mais e mais licenças de envase vêm sendo pedidas aos órgãos responsáveis.

No ano passado, um projeto de lei do governo de São Paulo discutia a proibição total do uso de garrafas plásticas. Para a indústria de bebidas a lei seria inviável, pois hoje a 80% do total de bebidas fabricadas no país são envasados em PET. O material reduz os custos de produção e é mais leve, podendo ser facilmente transportado. Portanto, a redução total deste tipo de embalagem ainda é uma utopia: não há um só país que sobreviva sem garrafas PET.

A solução seria encontrar um meio termo: se não é possível eliminar as garrafas de vez, é preciso reciclar e, obviamente, não aumentar ainda mais a produção de PET. Recentemente, um grupo de empresas produtoras de cerveja defendeu o início do envasamento da bebida em PET no Brasil. O assunto gerou polêmica, já que o impacto ambiental seria desastroso. São produzidos atualmente no país quase 9 bilhões de litros de cerveja a cada ano. Se este volume fosse envasado em PET, viveríamos afundados em um mar de garrafas, já que as cervejas são sempre envasadas em embalagens de 350 ou 600 ml, o que multiplicaria esse número por 2 chegando a um total de 18 bilhões de garrafas PET por ano.

O ideal neste momento, seria uma moratória nas licenças de envase para novas bebidas em PET, até que atingíssemos um percentual de reciclagem de 90% para então gradualmente novas licenças serem concedidas. Produzir um mar de embalagens não retornáveis num país que ainda não tem uma estrutura de recilcagem preparada para tal não pode ser o modelo de desenvolvimento com sustentabilidade desejado por todos nós.

A indústria de bebidas deve assumir a responsabilidade sobre o problema e diminuir a produção de PET, investir cada vez mais em embalagens retornáveis como o vidro e na profissionalização da reciclagem. Mas somente com um trabalho em conjunto é possível diminuir o problema. Governo e sociedade civil também devem fazer sua parte, aprovando resoluções como esta da Anvisa e, claro, aprendendo a reciclar o que se consome dentro de casa. Só assim poderemos evitar danos irreversíveis para o meio ambiente. As futuras gerações agradecem.

Marcelo Novaes, do Movimento PET Consciente, que em 2007 organizou o 1º Fórum sobre o Impacto do PET no meio ambiente.

Artigo enviado por Silvia Lucca