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Notícia

Sinais verdes do Cerrado

Estudo revela que vegetação é duas vezes mais rica do que o estimado. A segunda maior formação vegetal do país, menor apenas que a Floresta Amazônica, possui 12 mil espécies de plantas. Por Carlos Albuquerque, do O Globo, 08/04/2008.

A informação faz parte de um levantamento inédito, feito ao longo de 20 anos por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), da Embrapa e do IBGE. Há dez anos, o mesmo grupo estimava que o bioma possuía cerca de seis mil espécies vegetais. Além de comprovar a riqueza biológica da região, o trabalho — que vai virar livro e CD interativo — deve se transformar numa ferramenta para os esforços de preservação da região, a mais ameaçada por atividades agrícolas desordenadas.

— Com os dados que tínhamos há dez anos, já sabíamos que o Cerrado era a savana mais rica do mundo — conta Jeanine Maria Felfili, professora do Departamento de Engenharia Florestal da UnB, que participou das pesquisas.

— Agora comprovamos isso, o que só reforça a importância da sua conservação num momento em que o país discute o desmatamento de suas terras.

Maioria das ervas têm valor medicinal

Foram contabilizadas no levantamento novas espécies de árvores, samambaias, cipós, além de bambus, arbustos e gramíneas. De acordo com Jeanine, a variação na contagem, entre o início dos trabalhos feitos pelo grupo e o número atual, tem uma explicação matemática.

— Ao longo desses anos, houve um grande crescimento da metodologia na área de informática. Com isso, tornou se maior a possibilidade de verificarmos os sinônimos de plantas, já que há muitas similares, descritas com nomes diferentes — conta ela. — Além disso, houve um esforço bastante grande de coleta e inventário de vegetação na região.

Durante o trabalho, os cientistas percorreram praticamente todo o Cerrado, passando por vários estados que representam o bioma, para a coleta de material.

— Passamos, exaustivamente, por Bahia, Piauí, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, várias vezes ao mês, durante o ano todo, já que queríamos coletar material tanto na época das chuvas como na seca — explica a professora da UnB. — Não havia como ser diferente, já que muitas espécies, em função do clima e do solo, só ocorrem em determinadas áreas.

No contato com os moradores da região, os pesquisadores confirmaram o que outras pesquisas já haviam relatado: cerca de 70% das ervas do Cerrado possuem grande valor farmacêutico.

— Embora nosso trabalho não fosse nesse sentido, acabamos confirmando o valor farmacêutico das ervas do Cerrado — revela Jeanine. — Com 12 mil espécies catalogadas, é possível imaginar o enorme potencial da região para a medicina e suas aplicações farmacêuticas.

No caminho das pesquisas, a equipe teve contato direto com o desmatamento e outros problemas que ameaçam a região.

— Existem áreas em que só se vê um mar de soja, grandes extensões sem nada de vegetação nativa — denuncia Jeanine. — Esses plantios não demandam grande mão-de-obra. Às vezes, só se vê uma casinha. Não se vê gente. O agronegócio não trouxe uma melhoria na questão social do Cerrado.

Para a professora, o levantamento pode e deve ajudar nos trabalhos de exploração sustentável do Cerrado, lado a lado com as iniciativas de preservação da região.

— Vários produtos nativos, como o palmito e o açaí, deveriam ser incorporados à economia local, já que possuem grande valor nutritivo. Dessa forma, manteríamos a biodiversidade promovendo o desenvolvimento sustentável.