Embriões estocados ( In vitro ), artigo de Frei Cláudio van Balen
[EcoDebate] Princípio básico: Toda pessoa tem o sagrado direito de beneficiar-se dos eventuais avanços da biologia e da genética. O impacto do progresso genético sobre a existência humana atinge a vida das pessoas e o destino da humanidade. Aqui, não havendo ainda resposta pronta e universal, todos temos de ficar atentos ao que se apresentar benéfico ou nocivo à vida, às pessoas, à convivência, à história.
Aqui, as células-tronco em questão são, de fato, embriões inviáveis ou sem futuro e, portanto, não valem tanto quanto pessoas vivas; não o são ainda nem o poderão vir a ser. Afirmar o oposto parece ignorância ou, pior, preconceito.
O uso desses embriões seria um atentado à vida? – Tudo indica que não. Células – tronco poderão, um dia, tornar-se vida humana; embriões inviáveis jamais. Seu uso, portanto, é um relevante serviço do menor ao maior, da não-condição humana à vida humana.
Pesquisas dos mesmos se justificam por servir à vida? Claro, toda iniciativa por parte da ciência – feita sem leviandade – a serviço da vida humana, merece o apoio de todos. Convém lembrar que vida humana não surgiu de uma vez, mas graças a estágios – bilhões de anos! -. O feto no seio da mãe percorre esses estágios em nove (9) meses, sendo toda vida resultado de um processo evolutivo. Primeiro, há vida biológica (vida humana em potência) e, depois, graças à evolução, vida humana (de fato) que também há de evoluir progressivamente. (Durante dezoito (18) séculos a Igreja nunca ousou dizer que, desde o momento da concepção, havia vida humana.) (Tomás de Aquino opinava que Deus infundia a alma no sexto (6º) mês.)
Como se explica que tantos, na Igreja, condenam esse tipo de pesquisa? O “novo” costuma ser avaliado como algo arriscado. Lembremos o ditado: “O tempo é o senhor da história”. Ao longo da história, de fato, houve tantas resistências, proibições, condenações que, depois, se renderam à luz da evidência.
É verdade que a própria Igreja admite que vida humana anda de mãos dadas com vida “cerebral”? De fato, para a autoridade eclesiástica a morte da pessoa é constatada a partir da morte cerebral. A partir dessa, é legítimo doar os órgãos da pessoa. Devemos, então, concluir: Ora, se o embrião – nas primeiras semanas –não dispõe nem mesmo de um sistema nervoso, ainda que primitivo, é evidente que ainda não se trata de vida humana propriamente dita.
Aqui, vale aplicar o princípio “Em caso de dúvida, se dê preferência ao réu”? Tudo indica que sim. O réu é o mais fragilizado entre nós, esses milhões de enfermos que clamam por ajuda. Algo que não é uma vida determinada – e nunca o será (no caso de embriões inviáveis), é razoável que sirva à vida humana.
Frei Cláudio van Balen, doutor em Teologia, vigário da Igreja do Carmo, em Belo Horizonte; email: fclaudio@igrejadocarmo.com.br
artigo enviado pelo Frei Gilvander Moreira, colaborador e articulista do EcoDebate.