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Pachauri, da ONU, pede cautela no uso dos biocombustíveis

BRUXELAS – O mundo precisa agir com cautela no desenvolvimento dos biocombustíveis a fim de evitar efeitos climáticos indesejados e elevação do preço dos alimentos, disse na quarta-feira Rajendra Pachauri, vencedor do Prêmio Nobel da Paz e pesquisador de mudanças climáticas. Em declarações dadas no Parlamento Europeu, Pachauri perguntou se a política norte-americana de converter milho em etanol para ser usado como combustível em veículos reduziria de fato as emissões de gases do efeito estufa, responsabilizados pelo aquecimento global. Matéria de Ingrid Melander, da Agência Reuters, publicada pelo Estadao.com.br, quarta-feira, 26 de março de 2008, 15:06.

Nos últimos tempos, vem aumentando a polêmica sobre a utilização de safras agrícolas na fabricação de biocombustíveis como alternativa aos combustíveis fósseis.

Alguns ambientalistas e políticos afirmam que a manobra elevará o preço dos alimentos, distorcerá o orçamento dos governos e provocará desmatamento no Sudeste da Ásia e no Brasil.

“Deveríamos ser muito cautelosos a respeito de propor soluções envolvendo biocombustíveis que exercem um grande impacto sobre a produção de grãos usados como alimento e que podem ter consequências para o fornecimento de comida como um todo”, disse Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas, uma entidade da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Dúvidas podem surgir sobre, por exemplo, o que vem sendo feito na América do Norte, onde milho tem sido transformado em açúcar e depois em biocombustível, em etanol”, afirmou.

Os Estados Unidos são os maiores produtores de biocombustíveis do mundo, e o país utiliza principalmente milho para isso.

“Várias questões surgiram até mesmo sobre as consequências das emissões (dos biocombustíveis) e sobre o fato de que isso provocou, claramente, um aumento nos preços do milho”, disse Pachauri, cujo painel dividiu o Nobel da Paz, no ano passado, com o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore.

Os cientistas afirmam que alguns tipos de biocombustível geram tanto gás carbônico quanto os combustíveis fósseis que substituem.

Os defensores dessa estratégia, no entanto, argumentam que os biocombustíveis representam a única alternativa renovável aos combustíveis fósseis e que, em geral, promovem uma redução nas emissões de gases do efeito estufa.

Pachauri, que está em Bruxelas para reunir-se com parlamentares da União Européia (UE), disse ser crucial avaliar outras formas de produzir biocombustíveis, entre as quais investir pesadamente em pesquisas sobre a conversão de material celulósico em combustíveis líquidos, bem como a utilização de resíduos agrícolas.

Dirigentes da UE prometeram no ano passado aumentar, até 2020, para 10 por cento a proporção de biocombustíveis no total dos combustíveis usados nos meios de transporte. Mas dúvidas sobre a possibilidade de essa estratégia elevar o preço dos alimentos fizeram com que o bloco informasse que poderia reconsiderá-la.

Pachauri não quis fazer comentários sobre metas específicas, mas afirmou que a UE deveria avaliar regularmente o impacto de suas escolhas e revê-las, caso isso se faça necessário.

“Acho que temos de criar um sistema por meio do qual conseguiremos informações adequadas e por meio do qual avaliaremos isso regularmente”, afirmou à Reuters, na entrevista coletiva.