Os novos empregos verdes criados no mundo, artigo de João Guilherme Sabino Ometto
[Gazeta Mercantil] Com certeza, nenhuma empresa deve exercitar a responsabilidade socioambiental apenas com foco nas imensas possibilidades de publicidade que essa postura oferece no âmbito de uma civilização global cada vez mais preocupada com qualidade de vida, preservação e harmonia social.
Contudo, é plenamente ético e pertinente que as organizações privadas com ações concretas no Terceiro Setor procurem conferir-lhes visibilidade pública. Tal atitude é lícita e ainda contribui, como exemplo, para a multiplicação de projetos voltados ao bem comum.
De fato, a crescente assunção da responsabilidade socioambiental pelas empresas não tem impacto apenas nas transformações positivas da sociedade e no marketing.
O Terceiro Setor, muito além de contribuir para atender às necessidades que o governo não consegue suprir, desenvolve-se, cada vez mais, como força econômica e atividade geradora de empregos, ampliando o seu papel no sempre bem-vindo processo de inclusão social. Uma das principais instituições de pesquisa desse segmento, The Johns Hopkins Center for Civil Society Studies, instituição norte-americana que estuda as organizações sem fins lucrativos, indica que o setor emprega mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo.
Informações do ano de 2006, referentes a estudo do Programa de Voluntários das Nações Unidas (UNV), em parceria com The Johns Hopkins, apontam crescimento de 71% do setor sem fins lucrativos no Brasil, entre 1995 e 2002.
O estudo “As Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil” — publicado sob a responsabilidade da Fundação IBGE, Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) e Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) — revela que os 276 mil organismos desse segmento empregam 1,5 milhão de assalariados, o equivalente a 5,5% dos funcionários de todas as organizações formalmente registradas no País.
Corroborando os dados relativos a essa contribuição mais abrangente da responsabilidade social, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) acaba de anunciar que políticas de combate ao aquecimento global – uma prioridade do planeta – estão estimulando a criação de novos postos de trabalho.
Relatório do organismo sobre o tema revela que somente o programa de produção e distribuição de etanol, no Brasil, gerou 500 mil novos empregos.
Nos Estados Unidos, apenas no ano de 2005, foram contratadas cinco milhões de pessoas para vagas abertas em atividades ligadas ao meio ambiente.
O número é dez vezes maior do que o da indústria farmacêutica.
Os números evidenciam que a equação da sobrevivência e da sustentabilidade, no prioritário enfrentamento das mudanças climáticas, exige investimentos em preservação e recuperação de ecossistemas, redução da emissão dos gases do efeito estufa e em capital humano.
O Brasil é um dos principais agentes desse processo, considerando seu imenso potencial para a produção de energia limpa e renovável e sua responsabilidade sobre ativos intangíveis de seu território – e da humanidade! -, como as superlativas biodiversidade e reserva hídrica.
O programa do etanol e toda a tecnologia a ele agregada, inclusive a da indústria automotiva, demonstram o potencial do País como protagonista da redenção ambiental do planeta. Assim como as empresas devem ser socialmente corretas, assumindo suas responsabilidades – e isso não, apenas como estratégia de marketing -, o Brasil não precisa ter o ganho econômico como meta única dessa ação de elevado interesse mundial.
Entretanto, é lícito e justo que usufrua desse estratégico diferencial competitivo para alavancar seu desenvolvimento, explorando comercialmente o que a natureza exuberante e o talento de seu povo proporcionam à presente civilização. Nesse sentido, o chamado emprego verde, sem dúvida, poderá constituir-se num substantivo fator de inclusão de milhares de brasileiros nos benefícios da economia, por meio da dignidade da renda conquistada pelo trabalho.
kicker: As empresas sem fins lucrativos já empregam hoje 40 milhões de pessoas
Artigo originalmente publicado pela Gazeta Mercantil, 26/03/2008