Cientista do governo britânico pede atraso na adoção de biocombustíveis
O assessor do governo britânico em assuntos ambientais, Robert Watson, defendeu hoje o atraso na adoção de combustíveis biológicos nos postos de gasolina do país, até que os estudos sobre seus riscos para o meio ambiente sejam concluídos. Matéria da Agência EFE, em Londres, publicada pelo UOL Notícias, 24/03/2008 – 17h20.
O Executivo do primeiro-ministro, Gordon Brown, previa que entrasse em vigor no dia 1º de abril a chamada Obrigação de Combustível Renovável de Transporte (RTFO, na sigla em inglês), um sistema que, entre outras coisas, exige que 2,5% do combustível disponível nos postos de gasolina sejam de origem biológica.
Em declarações à Radio 4 da cadeia pública “BBC”, Watson reconheceu que existe inquietação porque a medida, destinada a reduzir as emissões globais de gases poluentes, poderia ter o efeito contrário.
O professor ressaltou que é preciso comprovar que, como sustentam os defensores, os biocombustíveis são sustentáveis do ponto de vista do meio ambiente, já que seria uma “loucura” impulsionar uma política para reduzir o efeito estufa que, no entanto, acabasse tendo o efeito inverso.
Alguns combustíveis biológicos – como o etanol e o diesel derivados de plantas – são apresentados como alternativa aos combustíveis convencionais para reduzir as emissões na atmosfera de dióxido de carbono, mas cada vez mais cientistas argumentam que seu cultivo é mais prejudicial que vantajoso para a natureza.
Perguntado sobre a RTFO, Watson recomendou “esperar até que se completem os estudos”.
Sua declaração coincidiu com a difusão de uma carta das principais organizações ambientalistas e de cooperação do país para a ministra de Transportes, Ruth Kelly, na qual advertem os perigos do combustível biológico.
Segundo algumas ONGs, entre elas Oxfam, Greenpeace ou Friends of the Earth, é muito arriscado obrigar os motoristas a colocar gasolina biológica em seus carros quando ainda se desconhecem os efeitos destes combustíveis, cujo cultivo está causando estragos em alguns países produtores.
“Esses objetivos devem ser anulados. Insistir nisso a todo custo sem levar em conta as conseqüências para o clima seria incrivelmente perigoso”, afirmou o assessor científico do Greenpeace, Doug Parr.
A diretora de política agrária da Associação Protetora das Aves, Abigail Bunker, disse que as plantações para produzir esses combustíveis ameaçam o habitat de muitos tipos de aves silvestres no mundo, além de contribuir para a destruição de florestas tropicais e para a emissão de grande quantidade de carbono armazenado nas árvores e no subsolo.
Na opinião do conselheiro de políticas da Oxfam, Robert Bailey, os objetivos do Governo trabalhista sobre uso de biocombustíveis só devem ser propostos quando “puder se garantir que nem piorarão a mudança climática, nem prejudicarão o ambiente nem a subsistência dos habitantes dos países em desenvolvimento”, onde se concentram as plantações.
A medida do Ministério dos Transportes responde às diretrizes da União Européia (UE) que pedem que, para 2010, 5% do combustível para o transporte seja biológico, a fim de cumprir os objetivos de redução de emissões de carbono.