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Notícia

SP calcula emissão, sem revelar emissor

Inventário divulgado na última sexta-feira (14/3) indica que transporte e indústria paulistas emitiram 81 milhões de toneladas de CO2 em 2006. Siderúrgicas, refinarias e petroquímicas lideram lista de poluidores.

Eduardo Geraque escreve para a “Folha de S.Paulo”:

Era para o público ter conhecido na última sexta-feira (14/3) os nomes dos maiores contribuidores industriais do efeito estufa no Estado de São Paulo. Mas o governo divulgou o inventário estadual de emissões de gás carbônico (CO2) sem nomear os emissores. O Estado emitiu, em 2006, 81 milhões de toneladas do gás.

Desse total, a indústria contribuiu com 38 milhões de toneladas e o setor de transportes (aéreo e terrestre) com 43 milhões de toneladas. O inventário buscou determinar a emissão total por queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural) no setor industrial paulista, o maior do Brasil.

Os dados foram solicitados a 378 empresas e fornecidos por parte significativa delas -329. O governo considera que essa é uma boa aproximação ao total de emissões do Estado.

“Das 329 empresas que forneceram de forma voluntária os dados, uma siderúrgica, três refinarias e uma petroquímica respondem por 60% desse total de emissões que estamos divulgando hoje [ontem]”, disse o secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Francisco Graziano Neto. “Elas estão disparadas na frente.”

“Consideração”

Graziano negou que a divulgação da lista dos maiores emissores do Estado, que havia sido anunciada na véspera pela própria secretaria, tenha sido abortada de última hora.

“O professor [José] Goldemberg não está no Brasil. Seria uma falta de consideração com ele divulgar essa lista agora”, disse Graziano. De acordo com o secretário, o pesquisador da USP, seu antecessor no cargo, é o pai da idéia. “Ele nos sugeriu fazer esse inventário”. Graziano prometeu que a lista será divulgada em 30 dias.

O número total de emissões divulgado ontem representa pelo menos 25% do total nacional, que em 2005 chegou a 330 milhões de toneladas – O PIB (Produto Interno Bruto) de São Paulo é 31% do país. Enquanto as contas nacionais consideram, por exemplo, o setor da construção civil, um grande emissor de gás carbônico, o inventário paulista não computou esse segmento.

De posse dos números das emissões paulistas, Graziano disse que agora o Estado poderá pensar em metas de redução das emissões de carbono. Isso vai na contramão do que o governo federal defende: a posição oficial do Brasil nas negociações internacionais de combate ao efeito estufa é que países pobres não devem ser obrigados a cortar emissões.

Siderurgia

Pelos dados divulgados ontem, o setor siderúrgico é o grande vilão das emissões. A Folha apurou que o maior emissor do Estado é a Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista), instalada em Cubatão. A empresa, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que desconhece esse assunto.

Na comparação com o inventário de emissões do Estado publicado em 1997 também pela Secretaria do Meio Ambiente, o setor de aço fez saltar sua parcela de culpa no efeito estufa nesse período: de 33% para 70,1%, devido basicamente ao aumento da produção. Apesar de o setor de transporte emitir mais que o industrial como um todo, Graziano procurou relativizar esse dado.

Nas contas apresentadas por ele, São Paulo deixou de emitir 50 milhões de toneladas de gás carbônico, por causa do uso de combustíveis não-fósseis. Da queima de combustível computada no inventário, 23% veio de matrizes fósseis e 77% de fontes renováveis.

Apesar de existir um esforço para reduzir as queimadas em todo o Estado, essa prática, aliada ao tipo de solo onde ocorre o plantio de cana, segundo estudos da USP, nem sempre faz com que as emissões de carbono proporcionadas pela queima do álcool sejam totalmente reabsorvidas pela fotossíntese. Por isso, o número do governo de 50 milhões de toneladas de redução pode estar superestimado.

Ar paulistano tem padrões mexicanos

A capital paulista, que exporta poluição para cidades a quase 600 quilômetros de distância, já tem alguns padrões mexicanos de poluição do ar. A Cidade do México tem um dos ares mais poluídos do mundo.

Quem afirma é Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP. “Em termos de partículas finas [grãos de poeira com dimensões muito pequenas], nós já passamos. Em níveis de ozônio [outro poluente], podemos passar em breve.”

Segundo Saldiva, há uma questão de desigualdade social mascarada no problema da poluição. “Quem fica quatro horas por dia preso em um corredor de ônibus, por exemplo, ultrapassa facilmente o padrão médio de exposição a partículas estabelecido pela Organização Mundial da Saúde”, disse. Ele esteve ontem no evento em que o secretário Francisco Graziano Neto anunciou o inventário de emissões de gases em São Paulo que contribuem para o efeito estufa.

Segundo Graziano, a inspeção veicular em São Paulo -que poderia diminuir em até 20% a poluição na cidade, segundo cálculos da USP- demora a sair porque as várias esferas de governo que legislam sobre o tema ainda não conseguiram entrar em acordo. (EG)
(Folha de SP, 15/3)

SP lista maiores emissões de CO2

Indústria libera 38 milhões de toneladas do gás-estufa por ano; nomes de empresas serão informados em 30 dias

Cristina Amorim escreve para “O Estado de SP”:

Cem empresas concentram praticamente toda a emissão de CO2, o mais potente gás do efeito estufa, que sai da indústria paulista, calculado em 38 milhões de toneladas por ano. Cinco, apenas, respondem por 60% do volume total, segundo dados divulgados ontem pela Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, em um evento no Parque do Ibirapuera.

As cinco são: uma siderúrgica, três refinarias e uma petroquímica. Os nomes e a localização não foram divulgados. O secretário Xico Graziano promete o anúncio em até 30 dias, com a presença de seu antecessor, José Goldemberg – quem originalmente sugeriu a compilação dos dados no ano passado, quando já estava fora do cargo.

A emissão é dividida entre a queima de combustível, para alimentar a planta industrial, e a produção em si. Neste ponto, Graziano afirma que a notícia é positiva: o uso de fontes renováveis é de 77%.

Quem mais emite são justamente aqueles cuja natureza do negócio pressupõe uma taxa alta de emissão de CO2, devido à matéria-prima (como petróleo, um combustível fóssil) ou ao processo de produção (que tem o gás como subproduto). Em primeiro está a indústria de aço e ferro-gusa, que responde por 39% das emissões. Depois está a indústria petroquímica, com 25%.

A informação vem do próprio setor, especificamente de 329 empresas convidadas pela secretaria a participarem do inventário de emissão industrial do Estado – 42 não responderam e têm 15 dias para fazê-lo, antes do anúncio dos nomes.

Os dados são coletados no site da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e fornecidos pelo próprio empresariado. O cálculo segue metodologia empregada pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

Impacto

O diretor do conselho de meio ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Nelson Pereira dos Reis, nega que a entidade tenha auxiliado a secretaria no levantamento, como afirmou Graziano. Ele considera que o anúncio “dá uma conotação de condenação” e “quando se faz a conta (do total das emissões nacionais) e compara com a emissão das cem empresas, a gente vê que é nada”.

A principal fonte de emissão brasileira é a conversão dos solos, especialmente o desmatamento na Amazônia e no cerrado – só de CO2, foram 776 bilhões de toneladas em 1994, segundo o único inventário nacional de emissões. Em São Paulo, o setor de transporte paulista ultrapassou a indústria e hoje é a primeira contribuição do Estado para o agravamento do efeito estufa: são 43 milhões de toneladas por ano de CO2.

Aplicação

O secretário do Meio Ambiente diz que pretende conversar com o setor para reduzir o volume de emissões. Ele refuta a criação de incentivos fiscais para que a indústria invista em um processo “mais limpo”. “Os empresários sempre querem isenção fiscal para fazer a lição de casa. Temos de encontrar outros mecanismos que não onerem o contribuinte”, disse. “Talvez para a geração de tecnologia o governo tenha de contribuir. Mas não na questão tributária.”

A Fiesp, por sua vez, diz ter planos de incentivar metas – voluntárias – de corte das emissões industriais de gases-estufa, mas não tem prazo para colocar a idéia em prática. Reis afirma que a indústria de São Paulo realmente não precisaria de incentivos fiscais, uma vez que a redução seria uma conseqüência do investimento em eficiência energética e produtiva.

Segundo o diretor de campanhas do Greenpeace, Marcelo Furtado, presente no evento, alguns setores podem reduzir suas emissões com o investimento em eficiência energética e em novas tecnologias, mas em outros o corte seria limitado pelo tipo de produto. “Agora cabe uma reflexão política: que tipo de indústria o Estado quer, e o País quer?”
(O Estado de SP, 15/3)

Indústria pede energia limpa para emitir menos

Setores petroquímico e de alumínio admitem a necessidade de reduzir emissões, mas cobram maior oferta de gás natural e de energia renovável

Agnaldo Brito escreve para “O Estado de SP”:

O setor industrial alega que o Brasil precisa ampliar a oferta de fontes energéticas mais limpas para então garantir a substituição de combustíveis mais poluentes no processo industrial. Ao longo desta década, a indústria conseguiu reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas em alguns setores essa queda foi interrompida pela falta de gás natural e a volta do uso de combustíveis mais pesados.

É o caso da indústria química e petroquímica nacional. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), a emissão de dióxido de carbono por tonelada de produto baixou consideravelmente nos últimos anos. Em 2000, a relação era a de 415 quilos de CO2 para cada tonelada de produto colocada no mercado brasileiro. Em 2006, a relação havia baixado para 363 quilos de dióxido de carbono para cada tonelada de produto. A associação ainda não tabulou os dados de 2007, mas estima que a relação tenha se mantido.

Segundo Marcelo Kos, diretor de Assuntos Industriais da Abiquim, os investimentos na expansão da capacidade de produção estão associados a uma performance melhor do ponto de vista ambiental, mas permanece o problema da escassez de fontes mais limpas de energia. A crise recente na oferta de gás natural no Brasil obrigou algumas indústrias, explica Kos, a voltar a queimar combustíveis pesados, como óleo combustível e diesel, o que elevou ligeiramente a emissão de CO2 de 2005 para 2006.

A indústria química e petroquímica elevou o consumo de combustíveis renováveis. Em 2001, esse consumo era zero. Em 2006, foi de 4,37 quilos por tonelada de produto.

A Associação Brasileira do Alumínio (Abal) acredita que o aumento da cobrança dos poderes públicos locais sobre a indústria exigirá uma ampla discussão sobre oferta de energia. “Mais do que o gás natural que não temos, o Brasil precisa avançar na produção de energia em hidrelétricas. Há um potencial enorme que precisa ser aproveitado e que ainda não foi, no Brasil”, diz Adjarma Azevedo, vice-presidente da Abal.

A produção do alumínio é um dos processos industrias que mais consomem energia. Segundo a Abal, para cada tonelada de produto, o setor precisa de 15 megawatts hora (MW/h) de energia. Os planos de redução das emissões não são controlados pela associação, mas as indústrias do setor possuem metas de redução.

Azevedo alega que a indústria brasileira de alumínio tem uma performance mais eficiente do que a mundial em relação às emissões. O despejo do perfluorcabonos (PFC), um dos gases do efeito estufa, chega a 0,18 quilo por tonelada de produto. A média mundial do setor é de 0,22 quilo por tonelada. As emissões de fluoretos alcançam 0,7 quilo por tonelada. No mundo, chega a 1 quilo por tonelada. (O Estado de S.Paulo, 15/3)

Matérias publicadas pelo Jornal da Ciência, SBPC, JC e-mail 3471, de 17 de Março de 2008.