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Rio filtra nitrogênio poluente – Pesquisa mostra importância de processos biológicos, mas sobrecarga causa colapso

Córregos e rios sinuosos têm um papel importante no controle de poluentes, especialmente do nitrogênio. Um estudo publicado hoje na revista científica Nature (www.nature.com) mostra como corpos d’água funcionam como filtros naturais, impedindo que elementos químicos caiam nos oceanos. Matéria da Agência Reuters, publicada pelo O Estado de S.Paulo, 13/03/2008.

O estudo também mostra, contudo, que há um limite para tal efeito benéfico: acima dele, algas se proliferam e acabam com o oxigênio na água, o que ameaça peixes e outras espécies aquáticas rio abaixo.

Os ecossistemas terrestres estão ficando saturados com o nitrogênio, especialmente na forma de nitrato, proveniente de atividades humanas como a agricultura. Porém, apenas um quarto dele acaba nos mares. Cientistas americanos descobriram que processos biológicos atuam como controle.

‘Eles (os rios) são quase sempre processadores’, diz Stephen Hamilton, ecólogo aquático da Universidade Estadual de Michigan em Lansing e que liderou uma das equipes envolvidas na pesquisa. Foram 72 córregos e rios analisados nos Estados Unidos e em Porto Rico. ‘Pudemos observar como esses corpos d’água variam o processamento do nitrogênio.’

O nitrogênio entra no sistema hídrico pelo escoamento em zonas agrícolas e depósitos de lixo e pela chuva ácida. Uma vez nos rios, uma parte é engolida por pequenos organismos, como algas, fungos e bactérias.

Os cientistas descobriram que a maior parte do poluente é permanentemente retirada da água por um processo chamado denitrificação, conduzido por bactérias que vivem em sedimentos. Elas convertem o nitrato em gás nitrogênio (N2, predominante na atmosfera) e óxido nitroso (N2O, um potente gás-estufa), que são lançados no ar.

A equipe usou isótopos radioativos, porém inofensivos, de nitrogênio para seguir o caminho do elemento. Dessa forma, puderam observar que esses processos são especialmente importantes nos corpos menores, antes de desembocarem em rios caudalosos.

Por outro lado, o grupo observou que, quando há nitrogênio demais na água, os rios se tornam menos eficientes – a capacidade de filtragem decai exponencialmente à medida que a concentração de nitrato sobe. O elemento acelera o crescimento de algas e plantas aquáticas em lagos e águas costeiras, que acabam com o oxigênio e formam ‘zonas mortas’, onde nenhum outro tipo de vida se desenvolve. Tais zonas são encontradas, por exemplo, no Golfo do México e no Mar Báltico.

LAISSEZ-FAIRE

Para Hamilton, o trabalho mostra que, em vez de se construir diques e estruturas de drenagem, em alguns casos é melhor deixar que o sistema natural faça seu lento trabalho de filtragem. O resultado aponta o gerenciamento de pequenos corpos d’água como alternativa ao investimento maciço em grandes obras para controlar a poluição. ‘Temos sido bastante ‘industriais’, drenamos grandes regiões alagadas com sucesso e refizemos para que corram com rapidez’, afirma. ‘Mas há muitas coisas que podemos fazer melhor.’