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Artigo

Baixo Parnaíba – Cana de Açúcar, artigo de Mayron Régis

[EcoDebate] Em que pese os seus quase quinhentos anos, a cultura da cana-de-açúcar remoçou bastante nesses cinco anos de governo do Partido dos Trabalhadores, graças às promessas de investimentos do governo federal, via BNDES (Banco de Desenvolvimento Econômico e Social) e Petrobrás, e de fundos de investimentos de países industrializados como os Estados Unidos e Japão, embora, para as empresas sucro-alcooleiras solidificadas e para outras que podem vir a ser, as promessas ou os vislumbres de investimentos da parte do governo brasileiro mais despistem do que afiancem sobre a real monta dos recursos a executar em obras de infra-estrutura e empréstimos para as empresas se expandirem.

Nessa disparada pela obtenção do maior volume de recursos do governo federal ou dos parcos recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e de fundos de investimentos, o estado de São Paulo leva cem léguas de vantagem à frente dos demais estados da federação. Qualquer menção à infra-estrutura quando se destila álcool não é mera conjetura: quem pretende exportar etanol ou só vender no mercado interno aguarda que o seu produto seja transportado da melhor maneira possível, da maneira mais barata e no menor espaço de tempo e nisso o estado de São Paulo predomina com a modernidade das suas estradas e de seus portos.

Como disse um funcionário da Agroserra, empresa paulista que esparsa a cana de açúcar pelo Cerrado sul-maranhense em Fortaleza dos Nogueiras: “São Paulo tem uma vantagem muito grande”. Esse mesmo funcionário repensa o mote etanol para regiões como Maranhão, pois para ele o BNDES não vai fomentar a contento os projetos, copiaram o PAC num papel e nada mais e a estrutura do porto de Itaqui pede socorro.

O governo do Maranhão pretende espetar 40 projetos de etanol nas mais diversas regiões do estado como se a estrutura econômica e social fosse a de um cachorro grande que nem São Paulo, portanto ou governo espeta fundo esses projetos e a população rural maranhense dessas regiões debanda para as periferias das cidades e beberão da mesma fonte de infortúnios que muitos bebem hoje em dia ou o governo os “deixa no espeto”, para que a sociedade respire fundo e rumine os impactos provenientes da possível implantação desses projetos para as populações urbana e rural e para os ecossistemas do Maranhão.

No caso do Maranhão, os impactos que a industria de cana proporcionará serão a rápida urbanização da zona rural, pela erradicação das populações e dos seus plantios para a introdução da monocultura, a diminuição da produção de alimentos, a perda da biodiversidade e a captação de milhões de litros de rios e de seus afluentes.

Conscientes ou não do que vem por aí, o governo federal e o governo estadual insistem na industrialização da zona rural e a sua subseqüente urbanização como as respostas mais promissoras para a modernização social e econômica de partes do Brasil e partes do Maranhão que remontam o seu estar e o seu existir nesse mundo às décadas de luta pela constituição de família, de luta pela terra e de luta para pôr algo de comer nos pratos dos filhos. A tentativa recente de demarcação de 26 mil hectares por parte de um grupo paulista, nos municípios de São Benedito do Rio Preto, Bela Água e Urbano Santos – Baixo Parnaíba maranhense –, para plantar cana fez com que as comunidades destes três municípios em conjunto com a Fetaema, Fórum Carajás e Igreja de São Benedito revivessem décadas e décadas de conflitos pela posse daquelas terras, onde moram ao todo 2.000 pessoas. No cartório de Urbano Santos, famoso por fraudes, o nome de João Damasceno Martins existe desde os anos setenta, sabe Deus se existe como pessoa ou como fantasma, e cujas duas tentativas de demarcação foram infrutíferas, pois o juiz considerou a documentação irregular.

A tentativa de grilagem em que estão envolvidos políticos do calibre de um Kleber Leite, marido da prefeita de Vargem Grande, Almir Macedo, corretor de imóveis, e Ademir, agrônomo do Instituto de Terras do Maranhão, repete as mesmas práticas licenciosas de grilagens de terras no Baixo Parnaíba maranhense para os plantadores de soja dos últimos anos.

Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás. Esse texto faz parte do projeto Desintoxicando os excessos do etanol: uma proposta de investigação da dinâmica e dos efeitos da propagação da cana de açúcar na região do Projeto Grande Carajás, projeto do STTR de Loreto, financiado pelo Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA).