Biodiesel de soja não é sustentável
Pontos a favor e contra o combustível não resultam em benefícios significativos, revela mestre pela UnB. Matéria de Apoena Pinheiro/UnB Agência, publicada pelo EcoDebate, 22/02/2008.
Os biocombustíveis são considerados uma das maiores promessas no campo das energias renováveis devido à redução da dependência do petróleo, combate à emissão de gases do efeito estufa e meio de inclusão social, o que torna hoje uma das prioridades do governo. Mas para que essa fonte atenda às expectativas e gere resultados efetivos para a população, ainda há um longo caminho a ser trilhado.
Quem afirma é a administradora Magaly Fonseca Medrano, autora da dissertação Avaliação da Sustentabilidade do Biodiesel de Soja, apresentada no Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS/UnB) em novembro de 2007. Para a pesquisadora, uma compilação de fatores negativos, na atual conjuntura, faz com que o recurso não contribua para solucionar os problemas ambientais, sociais, econômicos e estratégicos do país.
“A tão propagada contribuição para minimizar o aquecimento global, só terá resultados significativos quando o biodiesel for adicionado em 50% ao diesel comum, ou seja, em B50. Entretanto, o B20 (20% de inclusão) é a mistura máxima que o mercado vai alcançar como medida de proteção ao mercado petrolífero”, afirma. Nessa ótica, a distância entre o ideal e o real se torna evidente pela constatação de que entre 2008 e 2013 será obrigatório o uso da proporção B2 nos veículos abastecidos com diesel.
No que se refere aos benefícios ambientais que gera o biodiesel de soja, a autora comenta que tanto a estrutura molecular quanto os seus componentes lhe conferem em vários aspectos, uma combustão mais limpa que a do diesel petróleo, um desses aspectos é a inexistência de enxofre em sua composição. “No entanto, diminuições importantes na quantidade de particulados (MP, CO, Nox, HC) que são emitidos para atmosfera começam a ser observados a partir da mistura B50, a exceção do óxido de nitrogênio, onde com o avanço da mistura os gases emitidos tendem a aumentar”, explica Magaly.
Para a mestra, é preciso repensar urgentemente a introdução do biodiesel no Brasil de modo a beneficiar a população. “Políticas públicas mais adequadas poderiam agir nesse sentido”, ressalta.
No tocante à geração de emprego, o biodiesel de soja não oferece muitas oportunidades nem no campo, nem na planta industrial de biodiesel. No campo são necessários apenas dois trabalhadores para colher uma área de 100 hectares de soja plantada. Comparado à uma plantação de tomate são necessárias 245 pessoas para efetuar a colheita nessa mesma área. Por outro lado, uma planta de produção de biodiesel requer 12 profissionais, distribuídos em três seções: gerência, administração da produção e manutenção. “O biodiesel de soja forma parte de um complexo industrial concentrador de renda e excludente.” revela.
Outro ponto em debate é a adesão dos consumidores, fundamental para o sucesso da iniciativa. Convencê-los a abastecer com o biodiesel pode não ser tão fácil, já que o preço do litro ficará mais caro que o litro de diesel. “Muita gente ainda prefere pagar mais barato do que fazer uma escolha que não agrida o planeta”, lamenta a administradora.
Para o país, em termos econômicos, a introdução das misturas obrigatórias B2, B5 e B10 geraria uma economia de divisas ocasionada, pela diminuição dos gastos na conta de importações de combustíveis.
RESÍDUO – O principal produto da soja é o farelo, que representa cerca de 80% do grão e é utilizado em sua maioria na indústria de rações. O restante 20% pode ser utilizado para o consumo humano ou para a fabricação de biodiesel, sendo atualmente um dos principais desafios para a agregação de valor do produto.
Quanto mais grão de soja for esmagado, maior será a quantidade de óleo e farelo a serem produzidos, portanto, é fundamental alocar o excedente de farelo decorrente de um aumento na quantidade de grão de soja esmagada. “Em países onde a pecuária é intensiva, qualquer excesso na quantidade de farelo produzida é facilmente absorvida pelo mercado, mas no caso do Brasil onde a pecuária é extensiva e a maior parte do gado é alimentado com pasto, o excesso de farelo ocasionaria perdas para a indústria de oleaginosas”, diz a administradora.
Outro subproduto cujo destino precisar ser definido é a glicerina, proveniente do processamento do biodiesel. Essa substância bruta é comercializada, porém a mais valorizada é a glicerina purificada ou refinada. O consumo desse produto no país atinge 14 mil toneladas, mas estima-se que 55 mil toneladas de glicerina serão geradas após a inclusão da mistura B2 de biodiesel em 2008.
“Atualmente não existe um destino certo para a superprodução de glicerina derivada das misturas B2, B5 e B10. Apesar de haver instituições de pesquisa cuidando do assunto, é importante encontrar rapidamente uma função ou uso alternativo, já que poderia se tornar uma situação insustentável do ponto de vista ambiental”, alerta.
O biodiesel é um combustível renovável e biodegradável, obtido comumente a partir da reação química de óleos ou gorduras, de origem animal ou vegetal, com um álcool na presença de um catalisador (reação conhecida como transesterificação). Pode ser obtido também pelos processos de craqueamento e esterificação.
O produto substitui total ou parcialmente o óleo diesel de petróleo em motores ciclo diesel automotivos (de caminhões, tratores, camionetas, automóveis, etc) ou estacionários (geradores de eletricidade, calor, etc). Ele pode ser usado puro ou misturado ao diesel em diversas proporções. O nome biodiesel muitas vezes é confundido com a mistura diesel+biodiesel, cuja designação correta deve ser precedida pela letra B (do inglês Blend). Neste caso, a mistura de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo é chamada de B2 e assim sucessivamente, até o biodiesel puro, denominado B100.
(Fonte: Wikipédia)
CONTATO
Magaly Fonseca Medrano pelo e-mail magaly_fonseca@hotmail.com e fonsecatolke@yahoo.com
PERFIL
Magaly Fonseca Medrano formou-se em Administração pelo Instituto Tecnológico da Costa Rica (ITCR), tem especialização em Finanças (ITCR) e é mestre pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da UnB.