Protesto no Pará impede remoção de madeira ilegal apreendida e adia ação do governo
Madeireiros derrubam operação – Empresários impedem retirada de carga ilegal no Pará e PF atrasa ação contra desmatamento.Por Ronaldo Brasiliense e Jailton de Carvalho, O Globo, 20/02/2008.
Madeireiros do município paraense de Tailândia impediram que o Ibama retirasse das serrarias da cidade 15 mil metros cúbicos de madeira cortada ilegalmente e apreendida pelo órgão na semana passada. Cerca de dez mil pessoas ocuparam as serrarias, incendiaram pneus e ameaçaram fazer o mesmo com os caminhões contratados pelo governo do estado para levar a madeira. O Batalhão de Choque da Polícia Militar foi chamado para conter o conflito. Com isso, a Polícia Federal adiou a megaoperação contra o desmatamento na Amazônia, que começaria amanhã.
Numa afronta aos governos federal e do Pará, às vésperas do início da Operação Arco de Fogo, de combate aos desmatamentos na Amazônia, madeireiros de Tailândia, município a 235 quilômetros de Belém, impediram ontem a remoção de 15 mil metros cúbicos de madeira ilegal apreendida na semana passada. Insufladas por empresários madeireiros, cerca de dez mil pessoas impediram o transporte da madeira, ocupando as entradas das serrarias do município e fazendo ameaças aos fiscais que comandavam a operação de retirada das toras cortadas ilegalmente, segundo o Ibama e a Secretaria de Meio Ambiente do Pará (Sema). Por causa da forte reação, o governo federal adiou o início da operação, previsto para amanhã.
Populares incendiaram pneus jogados sobre uma das pontes da rodovia PA-150, que corta Tailândia ao meio, para impedir que 15 caminhões contratados pelo governo do estado transportassem a madeira apreendida e guardada nas serrarias. Também ameaçaram pôr fogo nos caminhões.
Fiscais da Sema ficaram duas horas em cárcere privado na serraria Tailaminas Plac Ltda, de Flávio Sufredini, onde foram apreendidos 822 metros cúbicos de madeira. Os fiscais só foram resgatados após a chegada do batalhão de choque da Polícia Militar.
Foram fechados os acessos aos pátios das madeireiras Taiplac, Primavera e G.M Sufredini Industrial, que sofreram as maiores baixas na operação. Na Taiplac, os fiscais do Ibama encontraram mais de 5 mil metros cúbicos de toras armazenadas, todas cortadas ilegalmente.
– Tivemos que deixar Tailândia só com a roupa do corpo – contou a fiscal Deuza Aquino, que foi transportada com outros cinco funcionários da Sema até a sede do município de Goianésia sob escolta policial.
– A mobilização feita pelos madeireiros surpreendeu – disse o chefe da fiscalização da Sema, César Maia, que calculou em 10 mil o número de manifestantes.
Ministros não vão mais participar
Desde a semana passada, empresários madeireiros flagrados por Ibama e Sema com madeira cortada ilegalmente estavam insuflando a população contra a fiscalização. Para tentar conter os ânimos e liberar a rodovia PA-150 em Tailândia, o comando da Polícia Militar deslocou para o município uma guarnição e aguardava instruções da governadora Ana Júlia Carepa (PT) para, se necessário, enviar um batalhão de choque da capital.
Depois da confusão de ontem e diante dos focos de resistência à Operação Arco de Fogo, a Polícia Federal decidiu adiar o início da ação. Os ministros da Justiça, Tarso Genro, e do Meio Ambiente, Marina Silva, não vão mais participar do lançamento da operação, como queriam. Eles só deverão visitar áreas estratégicas da operação depois dos primeiros resultados concretos da ofensiva.
Maior operação já planejada pela PF em parceria com o Ibama, a Arco de Fogo tem como objetivo conter a forte onda de desmatamento na Amazônia Legal. Até a semana passada, estava certo que Tarso Genro e Marina Silva fariam o lançamento da operação numa solenidade em Belém. A partir dali, mais policiais federais e fiscais do Ibama sairiam a campo para reprimir a extração, o transporte e o comércio ilegal de madeira. Com a divulgação antecipada da informação, madeireiros começaram a se articular para se contrapor à operação. Eles passaram a demitir funcionários para pôr a população contra a operação.
A PF entendeu que seria melhor cancelar os atos oficiais e mudar a data da operação. O dia em que ela começará não foi divulgado.
– Dados da inteligência recomendaram uma readequação dos nossos planos – disse o diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa.