Adalberto Veríssimo, pesquisador sênior do Imazon: Temor é que a anistia induza a novos desmatamentos
Para ele, só a divulgação do projeto já pode levar mais gente a pôr a mata no chão; solução seria maior presença do Estado – O diretor e pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Adalberto Veríssimo, elogia o fato de o governo estar preocupado com a recuperação de áreas degradadas na Amazônia Legal, mas teme que os efeitos sejam nulos ou até estimulem mais desmatamentos. Para ele, a notícia do estudo da anistia pode levar mais gente a pôr a mata no chão. Adalberto apela ao governo para que seja mais presente na área. O Imazon alertou em 2007 que o desmate havia aumentado. O governo contestou. No mês passado, o governo admitiu a alta. Publicado pelo O Estado de S.Paulo, 10/02/2008.
A anistia a quem desmatou pode ajudar a conter a derrubada?
Meu temor é o de que a simples notícia de anistia leve quem não fez a mesma coisa a também desmatar.
O que o governo pode fazer para reduzir o desmatamento?
É preciso estar presente. O governo é omisso. A presença do Estado na Amazônia é tênue. Há problemas na titulação de terras. O Estado não consegue nem emitir alvarás para autorizar desmatamentos legais, dentro do limite de 20%. O fato de haver esse limite não permite ao proprietário fazer o desmatamento. Ele tem de pedir autorização e obter o alvará. Como o governo não consegue fazer isso, a pessoa cansa de esperar.
Quem não desmatou pode se sentir injustiçado?
Claro. O governo deveria ter um mecanismo de compensação para quem ficou na legalidade. Mas não tem. Também deveria oferecer compensação econômica para quem recuperar áreas degradadas. É preciso lembrar que bacias hidrográficas inteiras foram prejudicadas e isso pode ter conseqüências nefastas para o clima e o bioma.
Onde o desmatamento é pior?
Em toda a região da Transamazônica, da Belém-Brasília, no Pará, da BR-364, em Rondônia. Nesse Estado, a mata só foi preservada onde há reserva legal.
É possível evitar mais prejuízos?
Sim. O desmatamento já chegou a 18%. Se houver ações do governo na Amazônia, se houver compensações econômicas para a recuperação, é possível parar com o desmatamento. Hoje temos projetos de reflorestamento, mas ainda são ínfimos.