DF: Cerrado em risco
Com 2 milhões de quilômetros quadrados, o cerrado é insurgência fitogeográfica do tipo savana de incalculável biodiversidade vegetal e animal estendida sobre nove estados do Brasil: São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Maranhão e Piauí. Há tempos se encontra ameaçado pelo avanço de monoculturas (soja a mais visível), pecuária extensiva, desmatamento, queimadas, carvoaria e outras formas de predação. Editorial do Correio Braziliense, 06/02/2008.
Agora, relatório do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (Probio) revela dado alarmante sobre a depredação no espaço geográfico do Distrito Federal. Nada menos de 362 mil hectares da cobertura floral da área já foram removidos. Em outros termos: apenas 37% da vegetação original permanecem intocados. Assim mesmo porque as atividades agressivas ainda não avançaram sobre terrenos mais acidentados (morros) e as últimas áreas de preservação.
Das causas que levam à destruição da paisagem típica, a explosão demográfica figura como a principal. De fato, previsto para acolher contingente estimado em 500 mil pessoas, o DF conta hoje com 2,4 milhões de moradores. Em mais de quatro décadas de imprudência administrativa, a pressão populacional provocou a ocupação desordenada do solo. Hoje, até em áreas de preservação ambiental e glebas destinadas à exploração agrícola, vicejam expansões urbanas. Residências e condomínios se espalham em todas as direções.
Era fatal que, 47 anos depois da inauguração de Brasília, a destruição do cerrado chegasse ao ponto crítico exposto no informe do Probio. Tem dimensão equivalente a oito cidades do tamanho do Plano Piloto. Não menos impactante têm sido as atividades primárias — agricultura e pecuária, sobretudo —, responsáveis pela derrubada de árvores e remoção das mais raquíticas florações arbustivas. A gravidade da desestruturação das funções ecossistêmicas, com impiedoso sacrifício da vida animal, pode ser medida pelo fato de o DF figurar, em termos proporcionais, como o 4º maior depredador da savana brasileira. Supera-o, apenas, São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul.
Entre as conseqüências da violência ao sensível equilíbrio ecológico nos tratos de transição entre a mata e o campo — função do cerrado —, a impermeabilização dos solos e o desaparecimento de insurgências hídricas são as mais funestas. Põem em risco o regime de chuvas, a normalidade das variações de temperatura e o abastecimento de água.
Há na séria advertência do Probio convocação da autoridade pública para conter o desastre. De imediato, impõem-se medidas táticas de efeitos emergenciais. Depois, a formulação urgente de estratégias de longo prazo para reverter o quadro preocupante de degradação ambiental. Está em causa salvar o DF de futura catástrofe.