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Artigo

Qual o Rio Grande que queremos? artigo de Julio Wandam

Um país pode por abaixo suas florestas, erodir seu solo, levar sua fauna silvestre à extinção. Mas os índices de sua performance econômica não serão afetados se esses bens desaparecerem. O empobrecimento será tomado por progresso“. Robert Reppeto-Junho/1992

Há dois anos atrás, meses antes do desastre eleitoral e que levou ao poder um governante “mais anti-ecológico” que seu antecessor, em artigo escrito por quatro representantes de setores econômicos do RS no Jornal Zero Hora (08/fevereiro/2006), com o título “O Rio Grande que os Gaúchos querem”, foram impressos comentários e argumentos, que no decorrer dos anos até o momento, não surtiram efeitos ou cumpriram com as premissas de “qualidade de vida” vindas de um movimento oriundo do meio abastado economicamente e que propunha rumos para o estado.

Causou temor, após ler o artigo, em pensar que a sociedade do RS teria de “reinventar a lógica” vigente, frente a incógnita do que viria no futuro de nossas vidas e ter de passar a indicar esse futuro, traçando caminhos e projetando este “tal de futuro” com qualidade de vida para todos os gaúchos, baseada na idéia de progresso econômico, vinculando isto ao “pretexto” de crescimento social.

Que sociedade ou estado da federação brasileira teremos no futuro, se estamos permitindo no presente que o futuro do meio ambiente (e de nós todos…) esteja em perigo no Rio Grande do Sul, com este desenvolvimento que não está preocupado com os recursos hídricos, que recebem há tempos e diariamente o despejo de resíduos das indústrias, o esgoto das cidades, o desaqüe das lavouras, os lixos das casas, que infelizmente poluem e degradam, e na maioria das vezes, com tentativas inócuas de se fazerem lavraturas de TACs (Termos de Ajustamento de Conduta) que restam não cumpridos, com a autuação via multas e sanções jamais pagas pelos poderosos, com licenciamentos frágeis, muitos, se não a grande maioria não fiscalizados pelos órgãos competentes, tanto da União, no Estado ou nos Municípios, que também, infelizmente, não adotaram a idéia de crescerem como uma cidade econômica e socialmente justa, pensando no meio ambiente como o maior patrimônio que deva ser preservado, não apenas acreditando que os impostos no cofre público sejam a solução para o “desenvolvimento” que não virá em futuro algum, sem que a natureza esteja nos planos, não apenas como matéria prima e sim como um bem precioso para a manutenção da vida do planeta e dos seres que nele habitam.

O que mais atemorizava a época deste ensaio medonho de avanço “rumo ao futuro na riqueza”, foi que a busca de soluções partiu dos que protagonizavam tais situações de agressão continuada da natureza, qual sejam, aqueles que promovem a poluição, degradação e destruição dos habitats naturais trocando-as por impostos, empregos e salários.

Estes continuam vendo o ambiente sob o aspecto de “problemas”, derivadas, lógicamente de uma prática perversa de desenvolvimento que têm os recursos naturais como moeda de troca, vide os exemplos recentes de “coação” pelo vil metal oferecida aos políticos, autoridades e profissionais da grande mídia para fazerem vista grossa frente aos “investimentos” da Stora Enzo, Aracruz e VCP na metade sul do RS, com o plantio de lavouras de eucaliptos, árvores exóticas que seguramente irão comprometer ainda mais os ecossistemas e toda uma cadeia de biodiversidade que se sustenta dos mesmos recursos que sustentam um modelo de “qualidade de vida”, e que visa unicamente o conforto, o ” status quo”, o acesso a tecnologia e aos enlatados em geral e todas as boas novas que um “Admirável Rio Grande Novo” possa produzir para a sociedade gaúcha no futuro.

Se existir algum futuro, é lógico!

Julio Wandam, Ambientalista, Os Verdes de Tapes/RS, http://osverdestapes.googlepages.com/
GT de Comunicação/REDE Bioma Pampa

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