Desnutrição mata 3,5 milhões de crianças por ano, diz estudo
Mais de um terço das mortes de crianças e 11% das doenças que afetam mães e seus filhos ocorrem por desnutrição, apontou uma série de estudos compilada por especialistas internacionais e publicada na última edição da revista médica Lancet. Matéria da BBC Brasil, 17 de janeiro, 2008 – 16h33 GMT (14h33 Brasília).
A pesquisa indica que 3,5 milhões de crianças morrem todos os anos por falta de comida ou por causa de uma alimentação precária, deficiente em vitaminas e minerais essenciais para o crescimento. Um problema que, segundo o estudo, “começa dentro do útero”.
O relatório afirma que crianças que não têm alimentação adequada podem ter o crescimento atrofiado e mau desempenho escolar, o que reduziria a sua capacidade de conseguir trabalho, aprofundando ainda mais o ciclo de pobreza.
Os especialistas alertam que o período que vai da gravidez até os dois anos de idade é “crucial para evitar os efeitos irreversíveis da desnutrição”.
Amamentação
“A desnutrição em gestantes ou nos primeiros estágios da vida da criança pode causar um dano irreversível, mesmo se a alimentação melhorar ao longo da infância”, disse Caroline Fall, da Universidade de Southampton, na Grã-Bretanha, e uma das pesquisadoras envolvidas no estudo.
O trabalho também sugere que se as mães amamentarem pelo menos até os seis meses de vida do bebê e consumirem alimentos ricos em zinco e vitamina A, o número de óbitos infantis poderia ser reduzido em até 25%.
O pesquisador Zulfiqar Bhutta, do Departamento de Pediatria e Saúde Infantil da Universidade Aga Khan, no Paquistão, estima que 1,4 milhão de crianças morram por falta de amamentação.
Brasil
A série de estudos divulgada na Lancet ainda mostrou que 80% das grávidas e crianças malnutridas estão concentradas em 20 países da África e da Ásia.
Sem oferecer dados exatos sobre a América Latina e o Caribe, o relatório aponta que os índices de crianças abaixo do peso e com crescimento atrofiado “caiu consideravelmente” na região entre 1980 e 2005.
Sobre o Brasil, a pesquisa comenta que “houve avanços substanciais nos atendimentos básicos de saúde, água e saneamento básico, além de melhorias na educação das mulheres”.
“Esses avanços parecem ter ocorrido, apesar de momentos de estagnação econômica e perdas no poder de compra da população, principalmente entre os pobres.”
O trabalho acrescenta que “pôr um fim na fome e na desnutrição está entre as prioridades de políticas implementadas no Brasil, Bolívia e Peru”.