GM anuncia parceria para produção mais barata e ecológica de etanol
A General Motors (GM) fechou um acordo com a também americana Coskata para produzir etanol, anunciou ontem o presidente da montadora, Rick Wagoner, durante a abertura do Salão Internacional do Automóvel, em Detroit, nos EUA. A Coskata desenvolveu um processo utilizando microorganismos e biorreatores, que, segundo Wagoner, permitem que se use desde capim até pneus velhos para produzir etanol de forma mais barata e ecológica que qualquer outro método. Matéria publicada pelo O Globo, 14/01/2008 (Leiam, também, nota do EcoDebate).
Wagoner disse que a tecnologia da Coskata permitirá produzir um galão de etanol (cerca de 3,7 litros) por menos de um dólar. Ele também explicou que o processo usa um galão de água, em vez dos três ou quatro utilizados hoje.
De acordo com o “New York Times”, a montadora comprou parte da Coskata. A GM, porém, não informa quanto pagou pelo negócio, nem o tamanho de sua participação. Segundo William Roes, presidente da Coskata, a empresa planeja construir uma fábrica piloto este ano numa pista de testes da GM.
Wagoner reconheceu que algumas críticas sobre produção de etanol à base de milho são justificadas, mas ressaltou que há exageros.
A crescente demanda por etanol nos EUA e em outros países gerou uma alta nos preços dos alimentos.
O presidente da GM defendeu a ênfase que os fabricantes americanos têm dado ao etanol para reduzir o consumo de petróleo e as emissões de dióxido de carbono, afirmando que é a melhor opção a curto e médio prazos.
Para ele, os veículos que utilizam hidrogênio e só emitem vapor d’água precisarão de pelo menos uma década para que sejam vendidos ao público em geral.
— O consumo de etanol é o que pode conseguir um maior impacto na redução da demanda por petróleo — afirmou.
Citando estimativas do Departamento de Energia dos EUA, Wagoner disse que a crescente demanda energética do mundo farão com que, em 2030, o planeta necessite de 70% mais energia do que consumiu em 2004: — A resposta é perfeitamente clara. Temos que desenvolver formas de propulsão alternativas para responder à crescente demanda.
Vendas para o mercado externo ganham importância A GM produziu 3,5 milhões de veículos em todo o mundo capazes de usar etanol e gasolina.
A empresa se comprometeu a duplicar, em 2012, a produção de veículos capazes de utilizar etanol, passando de 400 mil a 800 mil unidades por ano.
Este ano, a crise do setor automobilístico e as preocupações com a economia americana estão no centro das discussões do Salão do Automóvel. Em 2007, a participação de mercado das três grandes fabricantes americanas — GM, Ford e Chrysler — caiu 7%.
Nota do EcoDebate
Maiores informações sobre o processo de produção de etanol celulósico desenvolvido pela Coskata Energy podem sem encontradas em http://www.coskataenergy.com/ . O sistema foi testado em unidades piloto e agora será construiída um unidade com capacidade de produzir 100 milhões de galões (pouco mais de 370 milhões de litros) em 2011.
No entanto, engana-se quem imagina que este novo processo foi concebido para substituir o etanol de milho, porque ele foi desenvolvido para produção integrada dos dois processos. O etanol celulósico seria complementar ao etanol de milho, sendo produzido nas mesmas regiões, aproveitando resíduos agrícolas.
O processo ainda não estará em operação comercial pelos próximos anos, mas é uma das grandes apostas para viabilizar a mistura E85, como eles definem a mistura com 85% de etanol e 15% de gasolina.
Por outro lado, no longo prazo, irá reduzir drasticamente a disponibilidade de resíduos agrícolas para adubação, o que deve multiplicar o uso de fertilizantes químicos.
Telmo Heinen, colaborador do EcoDebate, em troca de e-mails, ao analisar o modelo comentou: “Parece ter fundamento. A revolução seria a partir do Switch grass ou no caso brasileiro a partir do Capim Napier, produz vários cortes por temporada ao passo que a cana-de-açúcar dá em único corte 80 a 100 t/ha/ano. O Switch grass e o napier quase não exigem adubação, ao passo que a cana… Tem uma outra corrente, talvez seja o caso destes aí nos EUA, que em vez de colher somente os grãos do milho, colher toda a planta, folhas, talo, sabugo e grãos e processar tudo reunido para o tal Syngas. Mas daí, sem retorno de resíiduos para a terra onde foi cultivado o milho, imagina a exigência nutricional a partir de fertilizantes…. um desbalanço enorme!”
É possível, portanto, que os norte-americanos, mais uma vez, resolvam um problema criando um outro ainda maior.
Henrique Cortez, coordenador do Ecodebate